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sábado, 21 de março de 2020

Afinal, os animais podem contrair ou transmitir o novo coronavírus?


Nosso colunista explica até que ponto os bichos de estimação correm risco e o que fazer caso o tutor ou alguém da família pegue a Covid-19

A chegada do novo coronavírus ao Brasil despertou muitas dúvidas e preocupações. Inclusive sobre a possibilidade de os animais de estimação pegarem o agente infeccioso causador da Covid-19. Daí a importância de fazer os esclarecimentos com base no que a ciência já descobriu até agora.

Cães e gatos podem contrair um coronavírus próprio de suas espécies. Ele nada tem a ver com a Covid-19 e não é transmitido para o ser humano. Por ora não há evidência de que pets estejam adoecendo pelo novo coronavírus nem que sejam capazes de propagar a doença.

Embora possamos ficar mais tranquilos em relação a isso, é preciso lembrar que, por se tratar de uma nova doença, devemos acompanhar o que as pesquisas sérias estão desvendando. As informações oficiais e atualizadas sobre esses estudos se encontram em boletins como o da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA) — entidade na qual os clínicos veterinários de todo o mundo se baseiam hoje.

Agora, se o tutor pegar a doença, ele pode ficar na companhia do seu bicho durante a quarentena? A orientação atual é clara: pessoas infectadas pelo coronavírus devem ficar isoladas e adotar medidas para não transmitir a doença a seus familiares e colegas.

Em tempos de redes sociais e pandemia, a informação circula mais rápido do que nunca e algumas postagens começaram a despertar dúvidas e apreensões. É o caso de celebridades que testaram positivo para a Covid-19 e publicaram fotos suas em companhia dos seus pets.

A blogueira Gabriela Pugliese divulgou recentemente em seu perfil no Instagram que contraiu a doença no casamento da irmã na Bahia e que está se recuperando junto ao seu cão. Na imagem, ela encontra-se com o pet no colo sem proteção.


Outra personalidade, o cantor Di Ferrero, afirmou que contraiu o coronavírus e está seguindo as orientações de restrição e proteção… ao lado de seus cachorros (que não pegariam a doença).

A informação de que os pets não contraem a Covid-19 é correta. Porém, por se tratar de algo novo, entidades como a WSAVA orientam a utilização de luvas e máscaras e a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel antes e depois de ter contato com os animais. Isso serve tanto para a proteção do bicho como para resguardar outras pessoas que convivem com ele.

Na China, um cão de uma tutora com a doença foi testado como fracamente positivo para a Covid-19, o que pode indicar contaminação ambiental. O animal permanece em observação, não apresenta sintomas e os órgãos internacionais de Medicina Veterinária estão acompanhando o comportamento do vírus.

Diante disso tudo, vale repetir: tutores que pegaram o Covid-19 devem evitar o contato direto com seus pets e, ao fazê-lo, é prudente utilizar luvas e máscaras e lavar as mãos antes e depois para proteger o bicho. Essa é uma orientação que vem sendo seguida por hospitais veterinários mundo afora, incluindo instituições de referência — e temos reforçado isso no atendimento do Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo.

Com o objetivo de monitorar o coronavírus, um importante laboratório americano, a Idexx, acaba de publicar que desenvolveu um teste de Covid-19 para pets, já realizado em milhares de animais. A boa notícia: todos deram negativo! Isso reforça a ideia de que pets não contraem ou transmitem o vírus.

Do nosso lado, o dos tutores, não custa aderir às medidas de higiene e proteção pessoal e social. Afinal, nós, humanos, é que estamos mais expostos nessa pandemia.

Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/pet-saudavel/pets-podem-contrair-transmitir-coronavirus/ - Por Dr. Mario Marcondes - Foto: Fongleon365/iStock

quinta-feira, 19 de março de 2020

Novo coronavírus: mitos e verdades sobre a doença Covid-19


Descubra se o coronavírus pode ser evitado com alimentos como chás, alho e inhame e se é seguro receber encomendas vindas da China

O Ministério da Saúde no Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e jornais internacionais estão com campanhas globais para desmistificar algumas das notícias falsas que andam circulando acerca do novo coronavírus.

Classificada como pandemia pela OMS e com mais de 132 mil casos em 117 países, a doença tem gerado muitas dúvidas entre a população e, assim como já aconteceu em outras epidemias, vários mitos foram espalhados na web.

Algumas informações compartilhadas por internautas são mais alarmistas, outras indicam como verdadeiros fatos que não foram oficialmente comprovados. Diante da preocupação global, os órgãos de saúde estão tomando medidas para informar devidamente a população. Confira:

Fake news sobre coronavírus
Tanto o ministério quanto a OMS reforçam que se você receber alguma notícia sobre a doença, antes de compartilhar, verifique a veracidade e informe-se apenas por meio dos órgãos oficiais ou veículos de confiança.

Confira as fake news verificadas pelos órgãos e fique bem informado sobre o assunto:

1- Sopa de morcego pode ter disseminado coronavírus na China?
De acordo com a OMS, não há comprovação científica de que a comida em questão tenha sido a responsável pela disseminação do novo coronavírus na China. Esta informação, inclusive, foi uma das primeiras suposições que começaram a circular na web no início do surto.

2 - Chás imunológicos ajudam a prevenir o coronavírus?
Imagens e listas compartilhadas por meio de aplicativos de mensagem, como o Whatsapp, dão conta de que alguns chás naturais, como o chá de erva docechá de abacate com hortelã e um chá imunológico (à base de gengibre, alho, capim-limão, tomilho, hortelã e casca de limão), podem prevenir contra o novo coronavírus.
Entretanto, de acordo com o Ministério da Saúde, nenhum tipo de chá pode ser utilizado para substituir um tratamento adequado contra a gripe, muito menos contra o novo coronavírus. Também é falsa a afirmação de que o chá de erva-doce tem a mesma substância do medicamento Tamiflu (fosfato de oseltamivir).

3 - É possível aumentar a imunidade com vitamina C e inhame?
Um vídeo que circula na web mostra um suposto médico chinês, que trabalha no Brasil e que teria falado com a irmã que mora na China. Na gravação, ele recomenda métodos para aumentar a imunidade contra o vírus, como ingerir vitamina C e D, comer inhame e própolis. O vídeo original foi apagado pelo médico devido à repercussão.
Em resposta, o Ministério da Saúde afirma que não há evidências científicas que mostrem que vitaminas C e D, inhame, própolis ou banhos "quente/frio" sejam precauções eficazes contra o coronavírus. A mesma recomendação vale para uma mensagem que traz supostas orientações do Diretor do Hospital das Clínicas, de São Paulo - que também seria falsa.

4 - Comer alho e beber uísque com mel pode prevenir contra o coronavírus?
Segundo o Ministério da Saúde, o alho é um alimento saudável que pode conter propriedades anti microbianas. Entretanto, não existe evidência que comer o alimento ou beber uísque com mel tem prevenido pessoas do novo coronavírus.

5 - Lavar regularmente o nariz com solução salina ajuda na prevenção?
Outra dúvida levantada por internautas é sobre uma possível medida de proteção contra o coronavírus. Segundo a OMS, entretanto, não existe evidência que a lavagem regular das mãos e corpo com solução salina pode proteger pessoas de uma infecção do coronavírus. A lavagem com água e sabão é a melhor solução.

6- Coronavírus afeta apenas pessoas idosas?
De acordo com os órgãos de saúde, pessoas de todas as idades podem ser infectadas pelo novo coronavírus. Entretanto, pessoas idosas ou com certas condições de saúde são mais vulneráveis a casos severos da doença.

7- Animais domésticos podem transmitir o vírus?
Até o presente momento, não há evidência de que animais domésticos, como gatos e cachorros, podem transmitir o novo coronavírus.

8 - Antibióticos podem prevenir ou tratar a infecção de coronavírus?
A OMS responde que não, uma vez que antibióticos não agem contra o vírus, apenas contra bactérias. Portanto, antibióticos não são usados como modo de prevenção ou tratamento para a nova doença.
Além disso, até o momento, não existe nenhuma medicação para prevenir ou tratar o novo coronavírus. A OMS está ajudando a acelerar o desenvolvimento de pesquisas sobre o assunto.

9 - É seguro receber cartas, pacotes e encomendas da China?
De acordo com a OMS, sim, é seguro. Pessoas recebendo encomendas ou correspondência da China não estão em risco de contrair o vírus. O agente da doença não sobrevive a longo prazo em objetos como cartas e pacotes.

10 - A vacina contra pneumonia protege contra o coronavírus?
Não, vacinas contra pneumonia não protegem contra o novo coronavírus. O vírus é novo e diferente, por isso, precisa de sua própria vacina. Diversos pesquisadores do mundo todo, inclusive, estão unindo forças para desenvolver uma imunização segura contra o patógeno. Porém, ainda não há previsão de comercialização do produto.

11 - Usar ou comer óleo de gergelim impede que o coronavírus entre no corpo?
Não, óleo de gergelim não mata o vírus. Até o momento, não há nenhum medicamento específico, infusão ou vacina que possa evitar a infecção pelo novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, medidas de higiene, como lavar as mãos várias vezes ao dia, ajudam na prevenção.

12 - Coronavírus pode infectar o cérebro e causar perda de memória?
Outra notícia falsa que circula nas redes informa que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) confirmaram que o vírus também consegue infectar e se multiplicar em cérebros adultos, atingindo neurônios mais maduros e provocando, em alguns casos, desde quadros temporários de confusão mental e dificuldade motora até problemas mais graves, de coma ou perda de memória.
A UFRJ, no entanto, desmentiu que tenha realizado tal pesquisa. Além disso, não há evidências científicas de que o novo coronavírus provoque esses danos cerebrais, segundo os órgãos públicos de saúde.

13 - Tomar banho quente pode prevenir contra a Covid-19?
Tomar banhos quentes não previne a doença causada pelo novo coronavírus, uma vez que a temperatura do corpo permanece entre 36,5ºC a 37ºC, independente da água do banho. Na realidade, tomar banho muito quente pode causar queimaduras em você. O melhor jeito de prevenir a Covid-19 é lavando as mãos frequentemente.

14 - Clima frio e neve podem matar o novo coronavírus?
Não há razão para acreditar que o clima frio pode matar o novo coronavírus ou qualquer outra doença. A temperatura corporal mantém-se em 36,5°C a 37°C, independente da temperatura externa. A melhor forma de prevenção continua sendo limpar frequentemente as mãos com álcool ou sabão.

15 - O novo coronavírus pode ser transmitido por picada de mosquito?
Até o momento, não há informação ou evidência que sugira que o novo coronavírus possa ser transmitido através de mosquitos. O SARS-CoV2 é um vírus que se espalha através das vias aéreas por secreções de pessoas infectadas, quando elas tossem ou espirram. Para prevenir o Covid-19, evite contato próximo com qualquer pessoa que esteja espirrando ou tossindo.

16 - Secadores de mãos são eficientes para matar o novo coronavírus?
Não, secadores de mãos não matam o novo coronavírus. A melhor forma de prevenção é a higienização das mãos com álcool ou sabão. Uma vez com as mãos higienizadas, você pode secá-las com papel ou toalhas descartáveis.

17 - Lâmpadas com luz ultravioleta desinfetantes (anti-mosquitos) podem matar o novo coronavírus?
Lâmpadas de luz ultravioleta não devem ser usadas para esterilizar mãos ou outras áreas, já que a radiação UV pode causar irritação da pele.

18 - Câmeras térmicas podem detectar pessoas infectadas com o novo coronavírus?
As câmeras térmicas detectam quando pessoas apresentam febre, ou seja, quando a temperatura corporal aumenta. Entretanto, estes tipos de câmeras não detectam pessoas que foram infectadas e ainda não apresentam os sintomas da doença.

19 - Espalhar álcool e cloro sobre todo o corpo pode matar o novo coronavírus?
Cloro e álcool não matam o vírus que já entrou no corpo. Espalhar essas substâncias pode ser danoso a roupas e mucosas, como olhos e boca. Os dois produtos podem ser usados apenas como desinfetantes de superfícies, porém, sob recomendações apropriadas.
No Irã, 44 pessoas morreram por intoxicação causada por metanol. No país, em que bebidas alcóolicas são proibidas, alguns iranianos tomaram álcool puro para tratar o Covid-19, pois circulava uma falsa notícia de que a substância matava o vírus.

20 - Existe cura ou vacina contra o novo coronavírus?
Segundo o Ministério da Saúde, ainda não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina para curar do novo coronavírus.
Circula uma notícia de que Cuba teria enviado à China uma vacina contra o novo coronavírus que já teria curado 1.500 pessoas. A mensagem cita o medicamento Interferon Alfa 2B, que é um dos 30 medicamentos utilizados pelo governo chinês para tratar o Covid-19.
Entretanto, Cuba não possui uma vacina contra o novo coronavírus e o Interferon é um remédio utilizado para fortalecer a imunização geral, porém, não é específico como as vacinas.
Além desta notícia, outras informações falsas sobre a cura da doença circulam pelas redes sociais. Uma mensagem diz que médicos tailandeses curam o Covid-19 em apenas 48 horas e outra afirma que pesquisadores chineses teriam descoberto 3 medicamentos contra o novo coronavírus. Ambas as notícias são falsas.
Aqueles infectados com o vírus devem receber tratamento apropriado para aliviar e tratar os sintomas. Há pesquisas em desenvolvimento para encontrar um tratamento que ainda será testado clinicamente.

21 - Devemos evitar cumprimentar as pessoas com aperto de mão?
Sim. Doenças respiratórias podem ser transmitidas pelas mãos e ao tocar os olhos, nariz e boca. Cumprimente as pessoas com acenos e evite o contato físico direto.

22 - Usar luvas de borracha protege contra o novo coronavírus?
Não. Lavar regularmente as mãos oferece maior proteção contra o coronavírus do que usar luvas de borracha. Afinal, se você tocar a boca, olhos ou nariz enquanto usa a luva, ainda pode ser infectado.

23 - Teste caseiro de respirar fundo e prender a respiração por mais de 10 segundos detecta infecção do novo coronavírus?
Não. Uma mensagem circulou pelas redes sociais com um teste caseiro que diagnosticava o Covid-19. A notícia dizia que se você conseguir respirar fundo e prender a respiração por mais de 10 segundos sem tossir, não está infectado pelo vírus. Entretanto, a notícia é falsa e o teste não confirma o diagnóstico.

24 - Vinagre previne a contaminação do novo coronavírus?
Falso. Em um vídeo, um suposto ?químico autodidata? afirma que o álcool em gel não é eficaz na prevenção contra o novo coronavírus e indica que o vinagre seria útil. Em resposta, o Conselho Federal de Química (CFQ) liberou uma nota esclarecendo que o álcool em gel 70% é, sim, ideal para a prevenção.

25 - O novo coronavírus foi manipulado geneticamente e tem uma estrutura similar ao do vírus HIV, que causa a Aids?
Mito. O SARS-CoV2, nome oficial do novo coronavírus, não foi manipulado geneticamente e não possui nenhuma semelhança com o HIV. Além disso, o mecanismo de ação destes vírus dentro do organismo humano é totalmente diferente um do outro. O novo coronavírus afeta o sistema respiratório e pode ser totalmente eliminado do corpo, diferente do vírus do HIV, que infecta células de defesa e não desaparece do organismo.

26 - Novo coronavírus causa pneumonia de imediato?
êm circulado notícias de que a infecção pelo novo coronavírus causa pneumonia de imediato, entretanto, a informação é falsa. Os sintomas da Covid-19, causada pelo novo coronavírus, são: febre, tosse e dificuldade para respirar, semelhantes a uma gripe. Em casos mais graves, pode também causar pneumonia.


quinta-feira, 5 de março de 2020

Álcool em gel não evita infecção por novo coronavírus? É fake!


Em vídeo nas redes, suposto químico diz que esse produto chega a favorecer vírus e bactérias — e que o vinagre seria útil. Mas isso é mentira

Em um vídeo que corre pelo WhatsApp, o “químico autodidata” Jorge Gustavo alega que passar álcool em gel nas mãos não é eficaz na prevenção de infecções por vírus e bactérias. Pior: ele favoreceria a transmissão de doenças como a Covid-19, provocada pelo novo coronavírus.

Só que todas essas afirmações são falsas. “O que ele fala é simplesmente uma sucessão de besteiras, recheada por diversos erros técnicos e conceituais”, resume Álvaro José dos Santos Neto, farmacêutico doutor em Química Analítica e professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).

A disseminação do vídeo levou o Conselho Federal de Química (CFQ) a liberar uma nota esclarecendo que o álcool em gel 70% é, sim, eficiente para se proteger de vírus e bactérias, assim como lavar a mão com água e sabão.

Uma dica da SAÚDE: o próprio fato de o autor se denominar um “químico autodidata” levanta suspeitas. “O autor está sendo denunciado ao Ministério Público, uma vez que se intitula químico sem o ser de fato. Ele não tem nem formação nem registro em nenhum órgão competente”, comenta Rafael Barreto Almada, presidente do Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro (RJ).

Essa profissão é regulamentada como a de engenheiros, enfermeiros, psicólogos e tantas outras. Portanto, exige formação e cadastro em uma entidade profissional, que estabelece regras para uma atuação ética.

As discrepâncias não param por aí. Como já virou tradição no É Verdade ou Fake News, vamos esclarecer uma a uma:

“O álcool não mata nada, não desinfeta nada, apenas esteriliza”
O álcool em gel, feito a partir do etanol, é um antisséptico — ou seja, tem a função de desinfetar a pele humana. Só que o termo desinfetante geralmente se refere a produtos utilizados em superfícies inanimadas (como uma mesa, por exemplo).

“Já a palavra ‘esterilizar’ se refere a um processo que destrói toda forma de vida microbiana, feito em equipamentos especializados e substâncias ainda mais potentes, com objetos como instrumentos cirúrgicos”, explica o microbiologista Jorge Sampaio, do Fleury Medicina e Saúde.

A ação desinfetante do álcool é bem estabelecida. “Ele atua na parede celular do agente infeccioso, desestruturando as proteínas ou lipídios que a revestem”, detalha Almada. Tal processo consegue eliminar mais de 99% dos agentes infecciosos. E o novo coronavírus (chamado de SARS-CoV-2 pelos experts) não é exceção.

“A literatura científica conta com vários estudos, inclusive revisões sistemáticas [que reúnem muitas pesquisas], atestando esse fato”, comenta Santos-Neto. Não à toa, a substância é usada há séculos como antisséptico em hospitais.

 “Esse álcool gel tem mais de 70% de água e 20% de um espessante”
O 70% do rótulo (ou 70°, unidade de medida geralmente usada para a versão líquida) significa que existem 70 partes de álcool para 100 do produto final. Ou seja, em cada 100ml de formulação em gel, 70ml são puro álcool.

Os outros 30% do frasco são feitos de água e de um espessante. A combinação confere a consistência de gel, o que reduz o potencial incendiário do álcool e prolonga seu tempo de ação nas superfícies. Algumas marcas incluem ainda outros ingredientes para dar aroma e cor.

De qualquer jeito, formulações com mais de 50% de álcool já trazem algum efeito antisséptico discreto, embora o recomendado seja investir nas que contêm entre 70 e 85%. Produtos ainda mais concentrados eliminam os germes, porém são caros, agressivos à pele, altamente inflamáveis e com evaporação mais rápida.

“O agente gelatinoso usado como espessante pode carregar bactérias”
No vídeo, o “químico autodidata” Jorge Gustavo diz que um dos principais problemas reside no espessante. Essa substância serviria de veículo para bactérias, propagando doenças ao invés de preveni-las.

“Um gel puro, sem o devido cuidado, realmente pode servir como meio de cultura para alguns micro-organismos”, reconhece Santos-Neto. “Mas o álcool inibe esse processo”, arremata. Portanto, não há com o que se preocupar com o produto vendido nas farmácias.

“Usar vinagre é melhor”
O ácido acético, princípio ativo do vinagre, tem mesmo ação frente a bactérias. “Mas no vinagre doméstico essa concentração é baixa, e o produto pode causar irritação nas mãos”, explica Sampaio. “Fora isso, não há evidências de que o ácido acético seja eficaz contra vírus”, complementa Ana Gales, infectologista da Universidade Federal de São Paulo.

Segundo o autor do vídeo, o vinagre só perderia em popularidade por ser “extremamente barato”. Assim, a indústria não lucraria o suficiente com ele.
Acontece que dá para adotar estratégias para economizar no álcool gel. “Você pode comprar no atacado embalagens maiores, de um litro, e ir reabastecendo potinhos menores. Isso barateia o custo”, ensina Almada.

De onde vem essa história?
A origem pode estar em um estudo divulgado em 2019 pelo periódico mSphere, da Associação Americana de Microbiologia. Nele, pesquisadores japoneses questionam as recomendações atuais sobre o uso de soluções à base de álcool para eliminar o vírus influenza, causador da gripe.

Só que esse trabalho — que vai na contramão de vários outros — foi prontamente refutado pela comunidade científica. Pesquisadores publicaram uma resposta no Journal of Hospital Infection, apontando falhas no formato do estudo (como o fato de usarem uma quantidade ínfima de álcool em gel por poucos segundos) e considerando o achado irrelevante.

O grupo que desbancou esse estudo foi liderado pelo suíço Didier Pittet, um dos maiores especialistas do mundo em doenças infecciosas. Ele é diretor do Programa de Controle de Infecções e do Centro Colaborador de Segurança do Paciente da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A ação do etanol a 70% contra os vírus da mesma família do novo coronavírus é demonstrada em experimentos há pelo menos 15 anos. E um novo artigo alemão, publicado no periódico Infection Prevention in Practice, sugere que o mesmo pode ser verdade para essa variante em circulação.

Hoje, o álcool em gel é recomendado para minimizar a disseminação do coronavírus e outros pela OMS, pelo Centro Europeu de Prevenção de Doenças, pelo Ministério da Saúde e por todas as entidades sérias envolvidas de alguma maneira no tema.

Dicas para usar o álcool em gel
Ele funciona melhor quando não há sujeiras visíveis na pele. “Os resíduos orgânicos prejudicam sua ação”, comenta Sampaio. Mais um motivo para lavar as mãos com frequência.

Também é importante não encostar os dedos no bocal, verificar a validade do produto e checar se há um químico responsável por sua fabricação — uma informação obrigatória no rótulo.

“Uma dica: quando o produto fica opaco, é sinal que perdeu seu princípio ativo. Aí não será mais eficaz”, completa Ana.