Identifique os sinais precoces e como proceder em uma
emergência
A cada ano, cerca de seis milhões de pessoas morrem de
acidente vascular cerebral (AVC), sendo essa a primeira causa de morte e incapacidade
no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares
(SBDCV) e Academia Brasileira de Neurologia (ABN). "O
AVC, que
atualmente é chamado de AVE (acidente vascular encefálico), ocorre quando
existe a interrupção da oferta de oxigênio e nutrientes em um território do
cérebro, cerebelo ou tronco cerebral", explica o cardiologista Rafael
Munerato, do laboratório Pasteur. Essa interrupção pode ocorrer devido a um entupimento,
que é o
AVC isquêmico, ou rompimento de um vaso, caso do
AVC
hemorrágico. Os fatores de risco são semelhantes aos do infarto do
miocárdio: tabagismo, obesidade, sedentarismo, diabetes, hipertensão e
colesterol elevado. Dessa forma, a adoção de hábitos saudáveis e controle de
doenças metabólicas e cardiovasculares é essencial para prevenir esse mal.
"E quando falamos de cuidado, é preciso reconhecer os principais sintomas
do AVC para que o atendimento seja feito o mais rápido possível, uma vez que
isso é decisivo para a boa recuperação do paciente", alerta o neurologista
André Felício, de São Paulo. Se você ainda tem dúvidas sobre o que fazer quando
se tem um derrame cerebral, confira:
Nem toda a pessoa vai "cair dura"
É muito comum acharmos que, em caso de derrame cerebral, a
pessoa irá passar mal e desmaiar, devendo ser encaminhada para o hospital.
Entretanto, os sintomas são muito mais sutis. "Dormência e fraqueza em uma
metade do corpo, alteração da fala e desequilíbrio são alguns dos sintomas de
AVC", explica a neurologista e neurofisiologista Adriana Ferreira Barros Areal,
do Hospital Santa Luzia, em Brasília. É importante entender que o AVC se
manifesta como uma perda neurológica súbita, ou seja, mudanças em seus
movimentos, fala, visão ou qualquer outra coisa que funcionava de uma
determinada maneira e parou de repente ou então você começou a fazer de outra
maneira. É extremamente importante saber reconhecer o AVC o mais rápido
possível, pois o tratamento precoce fará toda a diferente no futuro desse
paciente. Confira alguns dos principais sintomas de AVC:
- Diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do
corpo;
- Sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo;
- Perda súbita de visão em um olho ou nos dois olhos; - Alteração aguda da
fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a
linguagem;
- Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente;
- Instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou
vômitos.
Não espere o pior passar
Outra mania muito perigosa - principalmente quando o assunto
é derrame cerebral - é esperar a dor passar para, então procurar um médico. No
geral, pensamos que é melhor deixar a pessoa se estabilizar, para evitar
qualquer sofrimento em uma viagem ao hospital ou socorro. Entretanto, na
suspeita de um AVC, o ideal é encaminhar essa pessoa para o hospital o mais
rápido possível. "É preciso entender que uma característica fundamental do
AVC é a sua instalação súbita, e cada minuto perdido poderá fazer diferença lá
na frente, na hora da recuperação, uma vez que quanto maior é o dano cerebral,
maiores são as sequelas", lembra o neurologista André Felício, de São
Paulo. Os danos de um AVC são consideravelmente maiores quando o atendimento
demora mais de três horas para ser iniciado. Inclusive, no caso de AVC
isquêmico, o médico pode dar ao paciente um medicamento antitrombótico chamado
alteplase, que deve ser aplicado em até quatro horas e meia após o início dos
sintomas. Esse medicamento diminui em 30% o risco de sequelas do AVC isquêmico
e em 18% a mortalidade.
Não dê AAS
Muito se fala também sobre ministrar uma pílula de AAS
(ácido acetilsalicílico) quando uma pessoa está sofrendo um AVC, já que ela
afinaria o sangue e impediria um novo êmbolo. Apesar de ser um raciocínio
correto, ele só traria algum benefício para pessoas que sofreram um AVC
isquêmico - e ainda sim não é nada muito expressivo. "Nos casos de AVC
hemorrágico, o ácido acetilsalicílico pode piorar ainda mais o sangramento,
agravando o quadro", explica a neurologista Adriana. E como não é possível
saber qual tipo de derrame cerebral a pessoa está tendo sem avaliação médica, o
conselho é não dar qualquer medicamento e encaminhá-la para o hospital.
Não dê remédio para pressão
Aqui a lógica é a mesma do ácido acetilsalicílico: nenhum
medicamento deve ser ministrado sem avaliação médica, ainda que o paciente seja
hipertenso. Novamente, é impossível saber que tipo de AVC a pessoa está
sofrendo e se o medicamento irá beneficiar ou não aquele quadro. "Nos
casos em que o paciente tem hipertensão, a atenção com o rápido atendimento
deve ser redobrada, e o controle do nível de pressão vai depender do tipo de
AVC, do tratamento proposto e da história prévia da pessoa", explica a
neurologista Adriana.
Se a pessoa tiver diabetes, verifique a glicemia
Em pacientes do diabetes, explica a neurologista
Adriana, a glicose muito alta ou muito baixa pode imitar os sintomas de AVC.
"Portanto, a verificação da glicemia ajuda a distinguir um problema de
outro", diz. Dessa forma, é importante fazer medição e, caso não seja o
caso de uma alteração na glicemia, correr para receber o atendimento adequado.
Chamar a emergência ou correr para o hospital?
Se você estiver perto de um hospital ou pronto socorro de
confiança e tem condições de ir ou levar o paciente para lá com rapidez, não há
porque esperar a ambulância. "Entretanto, se você está longe de um pronto
atendimento, não tem carro, a viagem até lá seria muito difícil ou você não
está em condições de ir sozinho, não hesite em chamar a emergência, pois o
tratamento pode iniciar já na ambulância", aconselha a neurologista
Adriana. Além disso, o neurologista André Felício lembra que o ideal é dar
preferência a hospitais que sabidamente tem um serviço dedicado ao tratamento
agudo do AVC, que são aqueles capazes de realizar procedimentos neurológicos,
como exames e cirurgias.
É necessário procedimento cirúrgico?
Existem dois tipos de cirurgia que podem ser indicadas para
o tratamento do AVC. Se o paciente tiver obstrução significativa das artérias
carótidas no pescoço (caso de AVC isquêmico), pode precisar de uma
endarterectomia de carótida. Durante esta operação, o cirurgião remove a
formação de placas nas artérias carótidas para reduzir o risco de ataque
isquêmico transitório (TIA) ou AVC. Os benefícios e os riscos desta cirurgia
devem ser cuidadosamente avaliados, pois a cirurgia em si pode causar um AVC.
Já para o AVC hemorrágico, o tratamento cirúrgico visa a retirar o sangue de
dentro do cérebro. Em alguns casos, coloca-se um cateter para avaliar a pressão
dentro do crânio, que aumenta por conta do inchaço do cérebro após o
sangramento. O tratamento cirúrgico para o caso de AVC hemorrágico pode não ser
realizado logo na entrada do paciente no hospital, principalmente porque alguns
têm um novo sangramento poucas horas depois do primeiro. "Mas nem todo o
paciente precisará desses procedimentos cirúrgicos para se recuperar de um
derrame cerebral", diz a neurologista Adriana. "A indicação cirúrgica
também depende da gravidade do quadro e da condição clinica do paciente, sendo
avaliado caso a caso."
Toda recuperação é igual?
Não, o andamento do paciente após um AVC pode variar muito.
Tudo depende de fatores como extensão do AVC, local do cérebro onde ele
aconteceu, demora no tratamento, idade, tipo de derrame, doenças relacionadas...
Não há regra. "Cada caso evolui de um jeito", afirma Adriana
Ferreira. "Todavia, quanto mais precoce e mais especializado o atendimento
em geral os resultados são melhores."