No nosso país, de acordo com os dados de 2014 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres possuem
expectativa de vida média de 78,8 anos, enquanto a dos homens é de 71,6 anos.
Por que as mulheres vivem 7 anos a mais? Isso não é
algo muito fácil de identificar, devido
a quantidade de fatores que podem influenciar a longevidade. O que
sabemos é que esse fenômeno é geral e mundial.
Segundo Steven Austad e Kathleen Fischer, da
Universidade do Alabama em Birmingham (EUA), que estudam o assunto, os seres
humanos são a única espécie em que um sexo é conhecido por ter uma vantagem de
sobrevivência onipresente. “De fato, a diferença de sexo na longevidade pode
ser uma das características mais robustas da biologia humana”, escreveram em um
artigo publicado na revista Cell Metabolism.
Só dá elas
Em outras espécies, de lombrigas a moscas a alguns
mamíferos, certos estudos também viram diferenças de expectativa de vida que
podem favorecer um sexo.
Porém, estudos contraditórios com diferentes dietas,
padrões de acasalamento ou condições ambientais muitas vezes invertem essa
vantagem ao outro sexo. Com os seres humanos, são sempre as fêmeas que parecem
ter a vantagem.
Muitas evidências
O banco de dados de mortalidade humana (Human
Mortality Database) reúne informações de mortalidade de homens e mulheres de 38
países que remontam até 1751 para a Suécia e 1816 para a França.
“Dada essa alta qualidade dos dados, é impressionante
que, para todos os 38 países em cada ano no banco de dados, a expectativa de
vida feminina ao nascer excede a expectativa de vida masculina”, notam Austad e
Fischer.
A maior expectativa de sobrevivência do sexo
feminino é vista ao longo de toda a vida, aliás. Inclusive, as mulheres são
cerca de 90% dos super centenários, aqueles que vivem até os 110 anos de idade
ou mais.
O caso Islândia
Um caso interessante para estudo é o da Islândia.
Isso porque temos dados de 1800 até o início dos anos 1900 sobre esse pequeno
país, que é geneticamente homogêneo e já foi assolado por catástrofes, como a
fome, inundações, erupções vulcânicas e epidemias de doenças.
Durante esse tempo de desastres, a expectativa de
vida ao nascer caiu tão baixo quanto 21 anos. Em uma época melhor, entretanto,
chegou a 69 anos. O curioso foi que, em cada ano, independentemente da
disponibilidade de alimentos ou da presença de epidemias, as mulheres no início
da vida e perto do fim sobreviveram melhor que os homens.
Isso também foi percebido em outros países. Nos
Estados Unidos, por exemplo, sabe-se que a mulher tem melhor resistência à
maioria das principais causas de morte. “Das 15 principais causas de morte em
2013, as mulheres morreram em uma menor taxa ajustada por idade de 13 delas,
incluindo todas as seis principais causas”, os pesquisadores informaram no
artigo. “Para uma causa, acidente vascular cerebral, não houve viés de sexo, e
apenas para uma delas, a doença de Alzheimer, as mulheres estavam em maior
risco”.
Controlando as variáveis
Em animais usados em pesquisas de laboratório, como
o verme C. elegans, a mosca da fruta Drosophila melanogaster e
rato Mus musculus, padrões de longevidade por sexo podem variar de acordo
com origens genéticas ou por diferenças na alimentação e nas condições de
moradia e acasalamento.
Essas variáveis não controladas levam a resultados
diferentes sobre longevidade. Uma revisão de 118 estudos com ratos de
laboratório constatou que 65 estudos relataram que os machos sobreviveram mais
tempo, 51 descobriram que as fêmeas foram mais longe, e dois não apresentaram
diferença entre os sexos.
Mas, se as variáveis forem cuidadosamente
controladas, ratos podem se tornar na verdade um modelo útil para estudar
diferenças sexuais na fisiologia celular e molecular do envelhecimento.
Este entendimento pode ser útil para pesquisadores
desenvolverem melhores medicamentos para uso humano.
As diferenças podem ser devido a hormônios, a
diferenças do sistema imunológico, a respostas ao estresse oxidativo, ou até
mesmo ao fato de que os homens têm um cromossomo X e um Y, enquanto as mulheres
têm dois cromossomos X.
Elas ficam mais doentes
Um dos aspectos mais intrigantes dessa diferença, e
que não tem equivalente conhecido em outras espécies, é que, apesar das
mulheres viverem mais do que os homens, parecem ter pior saúde ao longo da vida
adulta.
A maior prevalência de limitações físicas na vida
adulta feminina é vista em sociedades ocidentais, e também nas mulheres de
Bangladesh, China, Egito, Guatemala, Índia, Indonésia, Jamaica, Malásia,
México, Filipinas, Tailândia e Tunísia.
Uma explicação intrigante para este paradoxo é uma
possível conexão com problemas de saúde que aparecem mais tarde na vida. As
mulheres são mais propensas a problemas nas articulações e ossos, tais como
osteoartrite, osteoporose e dores nas costas, do que os homens. Tais condições
tendem a ser mais graves nas mulheres, e isso pode significar privação de sono
crônica e estresse.
Assim, as diferenças entre os sexos poderiam ser
devido a doenças do tecido conjuntivo. O tecido conjuntivo em seres humanos é
conhecido por responder a hormônios sexuais femininos.
Mas esta é apenas uma das várias hipóteses
plausíveis para o mistério de por que as mulheres vivem mais, em média, do que
os homens. Os estudos precisarão continuar para termos uma noção melhor dos
fatores envolvidos. [Science20]
Nenhum comentário:
Postar um comentário