Para perder peso e, acima de tudo, manter a boa
forma física, é necessário ter na ponta da língua a resposta para uma pergunta
fundamental
Outro dia viajei de avião para Ipatinga, no Vale do
Aço em Minas Gerais, por causa de uma aula que daria por lá. Para não perder
tempo, aproveitei o voo para montar no computador a apresentação de outra
palestra que faria na semana seguinte em Londrina (Paraná). O título dela:
“Novas abordagens nutricionais para o emagrecimento”.
Eis que minha vizinha de assento olhou para tela e,
de repente, perguntou: “O que você faz?”. Respondi: “Sou professor de nutrição
da USP”. Ela devolveu imediatamente: “Poxa, preciso perder uns 7 quilos. O que
eu faço?”.
Tenho um costume que aprendi com a minha vó, a Dona
Irene, de acreditar que toda conversa é interessante. Fechei meu computador e o
guardei na mochila. “Qual seu nome?”, perguntei. Aí descobri que ela se chamava
Flávia (nome fictício).
“Então Flavia, comer é um ato influenciado por
muitas coisas e principalmente pelo comportamento. A comida nos entrega uma
recompensa imediata no instante em que a colocamos na boca. Esse prazer às
vezes é usado para compensar um dia cansativo de trabalho, um diálogo difícil
que tivemos naquele dia e outras tantas coisas”, introduzi.
Ela me olhou meio desconfiada. Fui adiante: “Para
você controlar a ingestão de alimentos, é necessário encontrar uma recompensa
mais forte que a da comida. Qual seria essa recompensa que o emagrecimento te
daria?”.
Minha expectativa de um longo diálogo se encerrou
ali. A Flavia ficou reflexiva e calada. Percebi que, de certa forma, havia
sensibilizado minha novíssima amiga a pensar no que realmente a motivaria a
comer melhor.
Quando pensamos em emagrecimento, via de regra temos
objetivos frágeis diante do prazer de comer. Não dá pra negar: a comida entrega
imediatamente uma sensação gostosa. São milhares de aromas, sabores e texturas
que explodem na boca. É difícil ganhar disso para “ficar bem no verão” ou
“porque alguém me mandou”.
Tem mais: cada prato é diferente para cada pessoa. A
alimentação está relacionada com nossa história de vida. A lasanha da Dona
Irene é, para mim, a melhor lasanha do mundo. Pouco importa a opinião do Guia
Michelin, que não conferiu qualquer estrela para a minha vó. A lasanha da Dona
Irene tinha amor, dedicação, afeto, carinho, textura, sabor, aroma… Estava tudo
junto e misturado – e os quatro primeiros itens eram dela e não existem mais.
E a Flavia? Bem, ela estava viajando para passar o
Dia das Mães com a mãe dela. Imagine o afeto que é compartilhado na forma de
alimentos durante a visita de uma filha que mora longe. O significado dessas
refeições é muito maior que as calorias, as gorduras, os carboidratos e as
proteínas que as compõem.
Aprender a fazer escolhas saudáveis é, antes de
tudo, compreender o significado que a história de cada alimento possui pra cada
um de nós. E, a partir daí, colocar na boca o que realmente vale a pena. Acho
que a Flavia comeu naquele final de semana de uma forma diferente dos outros
Dias das Mães.
Pouco antes do desembarque, ela me confidenciou:
“Não vou esquecer a sua pergunta”. A conversa não foi longa, mas, como dizia a
Dona Irene, toda conversa vale a pena. Pense nisso e descubra por que você quer
mesmo emagrecer. Esse é o verdadeiro segredo – e ele é só seu.
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/o-fim-das-dietas/o-segredo-do-emagrecimento/
- Por Antonio Herbert Lancha Jr. - Foto: Eduardo Svezia/SAÚDE é Vital
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