Nova diretriz defende
que a atividade física tem valor de remédio para quem sofre com rigidez, dor e
inflamação nas juntas
Com 500 quilômetros de
ciclovias, parques e praças por todos os lados e ruas planas e seguras,
Amsterdã é um convite a céu aberto para a vida ativa. Não à toa, a capital
holandesa foi a cidade escolhida pela Liga Europeia contra o Reumatismo (Eular)
para divulgar suas novíssimas recomendações de exercícios a quem convive com
artrite reumatoide, osteoartrite, lúpus, fibromialgia e outras condições
crônicas que atingem as articulações do corpo.
“As diretrizes
anteriores até incluíam a atividade física, mas, pela primeira vez, definimos
os tipos mais indicados e a dose ideal”, destaca a fisioterapeuta Karin
Niedermann, da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, na Suíça, uma das
autoras do documento.
Em resumo, a publicação
chancela, de uma vez por todas, que o esporte é pilar primordial no tratamento
dessas doenças e tem um papel tão decisivo quanto as medicações usadas de
rotina – um avanço e tanto, se pensarmos que há poucas décadas a orientação
médica era permanecer em repouso absoluto.
Para chegar a essa
conclusão, os profissionais analisaram 44 pesquisas envolvendo mais de 3 600
participantes. “As evidências nos mostram que a prática de um exercício físico
traz ganhos e afeta positivamente o quadro reumatológico em várias esferas”,
informa a fisioterapeuta Anne-Kathrin Rausch, da mesma instituição suíça, que
ficou responsável por apresentar os resultados para o público durante o
congresso da Eular.
A lista de benefícios é
vasta: mexer o corpo melhora a função das juntas, fortalece músculos que circundam
essas estruturas, aprimora a flexibilidade e o equilíbrio, derruba o risco de
piripaques cardiovasculares (uma das maiores causas de morte nesses sujeitos),
afasta a depressão e a ansiedade e pode até mesmo diminuir o uso de fármacos
como os analgésicos e os corticoides. Mas, para colher tanta coisa boa, é
preciso seguir alguns passos básicos…
A diferença entre os
principais problemas reumatológicos
Artrite reumatoide:
Desordem autoimune marcada pela destruição da membrana sinovial, película que
recobre as articulações.
Osteoartrite: Também
conhecida como artrose, é o desgaste da cartilagem seguida de alterações ósseas
principalmente nas mãos e nos joelhos.
Lúpus: Mais comum em
mulheres jovens, essa inflamação ataca os rins, os pulmões, a pele e o
esqueleto todo.
Fibromialgia: Síndrome
que se manifesta por meio de dores em todo o corpo. Provoca fadiga extrema e
impacta pra valer o sono.
O que diz a publicação
O recente documento
europeu – que já inspira mudanças nas condutas médicas do mundo todo – sugere
que o programa de exercícios englobe diversas aptidões físicas. Nesse sentido,
vale investir na parte aeróbica (caminhada, corrida, bicicleta…) sem se
esquecer dos treinamentos de força, como a musculação, e daqueles que foquem no
equilíbrio e no alongamento, que podem ser realizados em sessões de pilates ou
RPG, por exemplo.
“Estamos falando de
pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada e duas visitas à academia
por semana”, estima a médica Lícia Mota, coordenadora da Comissão de Artrite
Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia e professora da Universidade
de Brasília.
Repare: a recomendação
é semelhante ao que a Organização Mundial da Saúde estabelece de maneira geral
para qualquer pessoa. Porém, antes de fazer a matrícula em qualquer aula, é
importante bater um papo com o médico para que ele faça uma avaliação do seu
quadro e veja se você está pronto para o suadouro.
“O exercício ainda deve
ser acompanhado por uma equipe multiprofissional, que envolva o fisioterapeuta
e o educador físico”, ressalta o reumatologista Ricardo Xavier, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Essa rede de suporte entre as diversas
especialidades garante segurança e bons resultados no longo prazo.
Mais um ponto: não
deixe de considerar o gosto pessoal na hora de escolher a modalidade. Ora, de
que adianta pular na piscina se você odeia natação?
O corpo foi feito para
se mexer
Outra noção que está
caindo por terra é a de que cidadãos com doenças reumatológicas só estão
liberados para fazer atividades leves, com pouco impacto. Estudos comprovam
que, dentro de certos limites, eles podem, sim, optar por esportes tidos como
mais pesados. Os trabalhos que ganharam destaque por levantar essa bandeira
durante o congresso da Eular vieram do Brasil.
Cientistas da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostraram que pessoas com
fibromialgia cadastradas num treino de resistência ou funcional, tão em moda
nas academias, aperfeiçoaram a força muscular e apresentaram melhoras na
qualidade de vida quando comparadas a um grupo que apenas fez cursos de
educação em saúde. “Nós temos que encarar o exercício como um remédio em todos
os sentidos: existe uma dose e uma frequência a serem respeitadas”, afirma o
médico Fabio Jennings, coordenador do Serviço de Reabilitação em Reumatologia
da Unifesp e orientador da pesquisa.
O pulo do gato no
experimento foi adaptar os movimentos para a realidade dos voluntários.
“Criamos séries de repetições que imitavam situações rotineiras, como erguer
uma caixa e puxar uma gaveta, para que essas tarefas ficassem mais fáceis e
acessíveis no cotidiano deles”, revela a professora de educação física Giovana
Fernandes, que participou do estudo. O contato próximo com um time
multidisciplinar também faz toda a diferença nesses casos. “Juntos, conversamos
para entender quando a dor vem da prática esportiva em si ou é a doença que
está dando as caras”, relata Jennings.
Um conselho para aderir
aos exercícios é organizar a agenda a fim de que determinado período do dia não
fique muito atribulado. A fadiga é uma das queixas mais recorrentes nas
artrites. Esse incômodo até desequilibra a enfermidade e leva a outros
problemas, como ansiedade e depressão. “Temos que intercalar momentos de
esforço, como o esporte, as tarefas domésticas e o trabalho, com intervalos de
descanso”, aponta Lícia.
Além de ajudar no
controle dos sintomas, essas orientações minimizam o risco de abandonar o
tratamento – fato que, infelizmente, ainda é comum entre quem sente dores nas
juntas. Chegou a hora de vestir a roupa de treino, pegar a garrafinha d’água e
partir para a sua pílula diária de exercícios.
No que você deve
prestar atenção antes do treino
1. Escolha: Na hora de
definir a modalidade, dê preferência àquelas que você realmente gosta de fazer.
2. Pergunte: Converse
com o reumatologista e certifique-se do aval dele para começar qualquer treino.
3. Contrate: Após o
sinal verde, procure sempre o fisioterapeuta ou o professor de educação física.
4. Planeje: Arrume a
agenda e os compromissos para que seu dia não fique agitado demais e isso
aumente a fadiga.
5. Diferencie: Fique de
olho nos sintomas e aprenda a distinguir as dores da doença do incômodo no
pós-exercício.
6. Misture: Mescle
diferentes tipos para trabalhar a parte aeróbica, a força, a flexibilidade e o
equilíbrio.
7. Registre: Faça um
diário e anote seus avanços a cada sessão. Compartilhe os dados com o doutor.
8. Diversifique: Uma
dieta equilibrada e boas noites de sono também cooperam para manter o quadro
sob controle.
Fonte: https://saude.abril.com.br/fitness/como-os-exercicios-ajudam-no-tratamento-de-doencas-das-articulacoes/
- Por André Biernath, de Amsterdã - Foto: Bruno Marçal/SAÚDE é Vital
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