A música está ganhando poder de remédio para
silenciar males tão distintos quanto dor e depressão. Entenda como ela afeta a
cabeça e o corpo
Antes de falar da musicoterapia, cabe pensar no
efeito da música. Veja só: a cacatua Snowball virou febre no YouTube. Seus
vídeos chegam a 7 milhões de visualizações. Neles, a ave dança e chacoalha a
cabeça ao som de hits do cantor Michael Jackson e da banda Queen. Esse
requebrado todo chamou a atenção de cientistas das universidades americanas
Tufts e Harvard, que resolveram investigar a fundo essa habilidade única. Eles
descobriram que o pássaro, morador de um santuário na cidade de Duncan, na
Carolina do Sul (EUA), é capaz de realizar 14 movimentos, que variam conforme a
batida das canções.
O bailado de Snowball pode até parecer inusitado e
arrebatar milhões de espectadores. Mas você já parou pra pensar sobre a
influência que a música tem sobre nós, seres humanos? Afinal, ela está presente
em todas as fases da vida e dita o ritmo das mais variadas situações e
momentos. Pode reparar: até mesmo os bebês recém-nascidos fazem sons com a boca
e são atraídos por barulhos muito antes de dizerem as primeiras palavras.
Para a ciência, não há dúvidas de que a música tem
um impacto nas emoções, no comportamento e, em última análise, até na saúde de
cada um de nós. Quando tocamos um instrumento ou ouvimos alguma gravação,
diversas áreas do cérebro são instigadas — poucas atividades intelectuais têm
um efeito tão amplo.
“Regiões responsáveis por atividade motora, memória,
linguagem e sentimentos são recrutadas para interpretar os estímulos sonoros”,
destrincha a enfermeira Eliseth Leão, pesquisadora do Instituto Israelita de
Ensino e Pesquisa Albert Einstein, na capital paulista.
Mas essas reações não se limitam à massa cinzenta.
Experimentos mundo afora vêm testando e reconhecendo o poder terapêutico das
melodias para enfrentar os males que abalam a mente e também o corpo. Tanto é
que estudiosos já ousam encará-las como um remédio de verdade, com prescrição
de dose e esquema de uso.
Os trabalhos pioneiros nessa área foram iniciados na
psiquiatria e mostraram que as composições têm um papel a cumprir em doenças
como a ansiedade e a depressão.
“Elas também são capazes de reduzir o nível de
estresse durante um procedimento cirúrgico, baixam a pressão arterial e a
frequência cardíaca e até aceleram a recuperação após uma sessão de exercícios
físicos”, lista o fisiologista Vitor Engrácia Valenti, da Universidade Estadual
Paulista, em Marília, que publicou uma série de pesquisas que investigam essas
questões. Mas será que todos os estilos musicais têm o mesmo efeito?
Os efeitos de cada estilo musical na saúde
Intuitivamente, nós sabemos selecionar o melhor tipo
de som para cada ocasião. Na academia de ginástica, por exemplo, preferimos
ritmos mais acelerados, que ajudam a dar aquele gás extra para o esforço
físico. Já durante a meditação ou a leitura, apostamos em composições mais
calmas, que auxiliam a focar e relaxar. Mas é preciso considerar que isso muda
de acordo com o lugar onde você nasceu.
“Na cultura ocidental, batidas mais rápidas e
progressivas são sinal de alegria, enquanto um compasso lento denota certa
tristeza”, ensina o neurocientista Raphael Bender, do Centro Estadual de
Educação Profissional Professora Lourdinha Guerra, em Parnamirim, no Rio Grande
do Norte. Em alguns países orientais, essa lógica se inverte.
Com base nessas observações, cientistas começaram a
questionar se havia um estilo musical que fosse mais vantajoso que os outros. A
escolha natural na maioria das pesquisas são as músicas clássicas compostas por
Mozart, Bach ou Vivaldi. “É impressionante como elas continuam a transmitir uma
mensagem mesmo após três ou quatro séculos de seu lançamento”, observa Eliseth.
Porém, não dá pra cravar que esse seja o estilo mais
saudável de todos. Ora, se você não curte a Nona Sinfonia de Beethoven,
escutá-la repetidamente só vai deixá-lo mais incomodado. Por isso, nesse
processo é essencial botar na balança os gostos pessoais de cada um.
Fonte: https://saude.abril.com.br/bem-estar/o-que-e-a-musicoterapia/
- Por André Biernath - Ilustracão: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital
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