Entenda como a atividade física pode ajudá-lo a ter
um sistema imunológico mais forte, minimizando os riscos de doenças como
Covid-19 e reduzindo suas consequências.
Quantas vezes, ao consultar um médico, você já não
saiu com a prescrição de “faça exercícios”? Pois é: atividade física sempre foi
um ótimo “remédio”. Não só para a prevenção e combate a doenças – problemas
cardiovasculares, hipertensão, diabetes, câncer, depressão – como para o ganho
de qualidade de vida de forma geral. E, se você segue a recomendação e adotou
como estilo de vida, digamos que também tenha tomado uma espécie de “vacina”.
Isso porque a atividade física fortalece o sistema imunológico – o que é uma
ótima notícia em tempos de pandemia da Covid-19.
“Vários trabalhos se aprofundam na relação entre
exercício e sistema imunológico. E cada vez mais se comprova que a prática
regular, em intensidade moderada, reduz a frequência e a incidência de
infecções”, diz o biólogo André Luis Lacerda Bachi, pesquisador e docente do
programa de pós-graduação da Universidade Santo Amaro (Unisa) e professor
visitante na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Estudos preliminares
também sugerem que a pessoa que mantinha um nível razoável de atividade antes
da pandemia, tende a ter menores complicações, mesmo que venha a contrair o
vírus. “Não é que não vá pegar a doença. Mas as complicações tendem a ser
menores. Isso porque o novo coronavírus ataca o sistema respiratório e, quem
tem esse sistema funcionando bem, graças ao bom condicionamento físico
desenvolvido ao longo do tempo, talvez não sofra tanto”, explica Rafa Lund,
personal trainer do Rio de Janeiro, criador do Método Lund e treinador de
atrizes como Deborah Secco e Flávia Alessandra.
“Em se tratando de Covid-19 há muito o que se
aprender ainda. Porém, se sua capacidade pulmonar estiver perfeita, suas
chances tendem a ser melhores do que quem não a tem”, reforça Suzete Motta,
médica e triatleta, nutróloga especializada em nutrição esportiva e performance
pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Como a imunidade é fortalecida
Quando a gente começa a se exercitar, a circulação
sanguínea logo sente o efeito, sendo que a primeira reação é potencializar a
entrega de suprimentos (entre oxigênio e nutrientes) para todas as partes do
corpo. “Acontece ainda o aumento dos linfócitos (responsáveis pela resposta
imune e pela defesa do corpo) e também das células ‘natural killers’, que
combatem células tumorais e vírus”, diz a médica. Ou seja, com a prática
esportiva regular, as células de defesa caçam e destroem os inimigos com maior
facilidade. Por fim, suar a camisa ajuda a melhorar a comunicação entre os
diversos setores do sistema imunológico, tornando-o mais eficiente.
“Em nossas
pesquisas, comparando praticantes de atividades físicas com não praticantes,
notamos significativa redução de problemas respiratórios no grupo mais ativo. E
vemos que o exercício tem a capacidade de potencializar respostas imunológicas
já na mucosa respiratória, porque produz anticorpos na primeira linha de
defesa. Então, se eu melhoro a segurança na porta de entrada, dificulto que o
inimigo avance e faça maiores estragos”, explica o biólogo Luis Bachi.
Outro fator importante é que o exercício – com sua
liberação de endorfinas – diminui o estresse, o que ajuda muito nesta fase de
incertezas que passamos. “Acredito que quanto mais fortes somos física e
emocionalmente, maiores nossas chances de vencer a guerra”, aponta Suzete.
Quando começa a fazer efeito
Como tudo na vida, a boa imunidade não surge da
noite para o dia. “Não é fazer exercício um dia que já melhorou tudo”, alerta
Lund. O professor Bachi explica: “O exercício é um agente estressor, que leva o
corpo a sair da zona de conforto, reagir e gerar uma adaptação ao estresse. Uma
sessão faz bem para aquele momento, traz uma resposta imediata. Com a
regularidade, o organismo vai criando uma adaptação que é mantida por mais
tempo.”
Depois de dois ou três meses, quem saiu do zero já
pode sentir melhora na imunidade. E mesmo quem nunca fez atividade física ou
estava sedentário antes da pandemia, pode começar agora. Sempre é tempo.
Exercícios e imunidade: dose certa
A diferença entre o remédio e o veneno é justamente
a dose. “A atividade física deve ser feita frequentemente e com intensidade
moderada. Se for de alta intensidade, não deve ser prolongada e requer um tempo
maior de descanso depois”, recomenta Bachi. A orientação da Organização Mundial
da Saúde (OMS) é atividade física leve a moderada com duração de 30 minutos por
dia ou 150 minutos por semana ou 75 minutos semanais de maior intensidade.
Vale lembrar que a intensidade do treino não está
relacionada exclusivamente ao tempo, mas ao esforço que se faz – ao quanto você
gasta de energia e exige do seu corpo. “Vai além de tempo e de uma atividade em
si. Uma pessoa com sobrepeso, por exemplo, se fizer 20 agachamentos talvez
tenha uma demanda muscular muito grande. Para um sedentário, um treino muito
intenso pode significar 10 ou 15 minutos; para um atleta isso pode ser apenas o
aquecimento”, alerta Lund.
É preciso cuidado porque passar do ponto pode
justamente prejudicar a imunidade. “Trabalhos mostram que o exercício de
maneira prolongada e extenuante pode ter efeito contrário, aumentando as
chances de sintomas de infecções das vias aéreas superiores”, diz o biólogo.
Exercícios e imunidade: quais fazer
O personal Rafa Lund explica que não existe uma
“planilha de exercícios bons”. “Eu diria que reforçar o sistema
cardiorrespiratório parece ser uma boa estratégia”. Entre os exercícios que
trabalham a capacidade cardiorrespiratória e pulmonar estão os aeróbios, como
corrida, bike, hiit.
Vale apostar ainda no treino de força, como a
musculação, para controle e prevenção de doenças inflamatórias – a Covid-19 é
uma doença também caracterizada por muita inflamação. “Se você tem uma boa
estrutura para reduzir a inflamação – e o treino de força faz isso – pode ser
interessante”.
A real é que todo mundo deve se manter ativo, se
possível combinando as duas formas de atividades. Quem está habituado pode
seguir fazendo (muitas vezes com adaptações); quem está sedentário, pode
aproveitar a oportunidade para começar. “Talvez a lição mais importante seja
que devemos cuidar de nossa saúde e que a prevenção de infecções por meio de um
sistema imunológico saudável é, não muito diferente das doenças crônicas e do
comprometimento físico, fortemente associada a um estilo de vida saudável”,
resume o treinador.
Outros fatores para imunidade
As grandes referências em saúde (Ministério da
Saúde, Organização Mundial de Saúde, Centro de Controle e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos – CDC, New England Journal of Medicine, Nature, The Lancet),
em suas orientações para o controle do novo coronavírus, apontam que além do
exercício, a imunidade depende de boa alimentação e sono de qualidade. “Mais do
que nunca você deve manter uma alimentação saudável e bem colorida e verificar
suas necessidades de vitaminas e minerais – D (muito ligada hoje a imunidade),
C, A, zinco, entre outros”, diz a nutróloga Suzete Motta. E não esqueça de
relaxar e descansar. Nós vamos passar por tudo isso – e podemos sair mais
fortes!
Fonte: https://boaforma.abril.com.br/especiais/exercicios-e-imunidade-qual-a-relacao/
- Por Yara Achôa
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