Fatores genéticos e até TPM podem deixar organismo
em risco
Existem microrganismos com potencial para transmitir
doenças em todo lugar, mas nem todas as pessoas irão ficar doentes, ainda que
entrem em contato com o patógeno. Quem determina essa vulnerabilidade é o
sistema imunológico, que pode estar forte ou mais enfraquecido a depender de diversos
fatores. Conheça as causas mais frequentes para a imunidade baixa e em quais
situações esse quadro é reversível.
Medicamentos que suprimem a imunidade
Geralmente usados em pacientes com doenças
autoimunes, rejeição a transplantes, alergias, doenças inflamatórias ou
pacientes com neoplasias, os medicamentos corticoides e imunossupressores são
os mais conhecidos por enfraquecer a imunidade.
De acordo com a farmacêutica bioquímica Juliana
Fleck, do Setor de Imunologia do Hospital Universitário de Santa Maria, essas
doenças são causadas por uma reação exagerada do sistema imunológico - e a
função desses medicamentos é justamente inibir os mecanismos de defesa do
corpo, causando o alívio dos sintomas.
A consequência, no entanto, é a queda da imunidade de
maneira geral, deixando o corpo mais suscetível a infecções oportunistas.
"Os corticoides e imunossupressores são
medicamentos comuns e úteis para diversos tratamentos, mas muita gente os
utiliza de maneira rotineira, sem levar em consideração o risco de queda da
imunidade", explica o médico clínico de estratégia de saúde da família
Hugo Luiz Fernandez, na UBS Silmarya Rejane Marcolino de Souza.
Alguns anti-inflamatórios e analgésicos, como
Dipirona, diminuem o número de leucócitos (células de defesa) na corrente
sanguínea e podem causar esse mesmo efeito.
"Citostáticos utilizados no tratamento de
câncer e os anticorpos monoclonais para doenças reumáticas também diminuem as
defesas do organismo", completa o especialista.
TPM (Tensão Pré-Menstrual)
Variações hormonais características típicas dos
ciclos menstruais e da TPM (Tensão Pré-Menstrual) podem afetar a função de
diversas células do organismo, incluindo as do sistema imunológico.
"Alguns estudos já demonstraram que respostas
imunológicas podem variar conforme o período do ciclo, entretanto, tais
variações não são claramente observáveis em todas as mulheres", explica a
imunologista Patricia.
A bioquímica Juliana explica que os níveis de
progesterona aumentam na segunda fase do ciclo menstrual. "Este hormônio
prepara o corpo da mulher para a gestação e possui um efeito imunossupressor,
cuja função é impedir uma possível rejeição do feto no útero", diz.
Esse aumento da progesterona irá, portanto, inibir o
sistema imune feminino, e algumas mulheres podem sofrer mais esses efeitos do
que outras, ficando mais vulneráveis a infecções.
Má alimentação
Desde a antiguidade se observa que pessoas com
hábitos alimentares saudáveis têm maior resistência contra doenças infecciosas
e outras.
Segundo a imunologista Patricia, a falta de nutrientes
afeta o funcionamento das células. "E como as células do sistema
imunológico são 'notadamente' sensíveis, um comprometimento de suas funções
pode resultar em aumento de infecções", diz.
Um exemplo, afirma o especialista Hugo Luiz, são as
proteínas, que atuam diretamente trazendo os aminoácidos necessários para
fabricar os anticorpos. "A falta destes nutrientes na alimentação afeta
seriamente a imunidade", diz.
A farmacêutica bioquímica Juliana lembra outros
nutrientes importantes para o sistema imunológico, como ferro, cálcio, zinco,
selênio, vitamina A, vitamina C, vitamina D, vitamina E, complexo B, ácido
fólico e antioxidantes como flavonoides, quercetina e glutationa.
"Todos são necessários para efetivação da
resposta imune no organismo, e só são obtidos por meio de uma dieta balanceada
à base de frutas, legumes, verduras e fibras, além das proteínas", afirma.
A ingestão de água alimentos probióticos também é
importante para suprir as necessidades nutricionais de manutenção do sistema
imunológico.
Consumo de álcool
Para entender como a ingestão de bebidas alcoólicas
consegue causar tantos danos, é preciso explicar o processo de metabolização do
álcool - ou seja, como o corpo absorve, metaboliza e excreta essa substância.
O órgão responsável por metabolizar o álcool é o
fígado, no entanto, ele só metaboliza em média uma dose de bebida por hora -
entenda uma dose como uma lata de cerveja (360ml), uma taça de vinho (100ml) ou
de destilado (40ml).
Se um indivíduo bebe seis latas de cerveja, por
exemplo, o fígado irá levar as mesmas seis horas para eliminar todo o álcool
presente no corpo. Enquanto o fígado está metabolizando a primeira latinha, o
resto do álcool entra na corrente sanguínea, causando alterações e danos em
diferentes órgãos.
O comprometimento prolongado dos nossos sistemas
pode afetar diretamente a imunidade.
Na tentativa de retomar o funcionamento adequado,
nosso organismo trabalha em dobro - e os mecanismos de defesa podem não
suportar essa carga. Como resultados temos a queda da imunidade.
Excesso de exercício físico
A prática de exercícios físicos regulares pode ser
benéfica para a função das células do sistema imunológico. "Entretanto,
exercícios intensos podem levar a um aumento de processos inflamatórios e
também a uma variação transitória de alguns tipos celulares importantes para a
resposta imunológica", afirma a imunologista Patricia.
Atividades físicas extenuantes e de longa duração
causam a liberação de hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina, além
de outras substâncias tóxicas que lesionam as células do sistema imunitário.
Somente especialistas, como educadores físicos,
podem avaliar se a intensidade e quantidade de exercício estão adequadas -
qualquer dúvida, fale com um profissional.
Distúrbios do sono
Pessoas que não tem um sono adequado, com cerca de 6
a 7 horas por noite, podem ter seu sistema imunológico afetado.
"A privação do sono diminui a quantidade e a
função das células responsáveis pela imunidade", conta a farmacêutica
bioquímica Juliana.
As consequências disso são maiores chances de
contrair doenças infecciosas e a diminuição do efeito de vacinas. Doenças
crônicas podem piorar ou aparecer com mais facilidade em indivíduos que dormem
pouco, por exemplo.
Estresse prolongado
"Situações de estresse são geradoras de
radicais livres em excesso", explica Hugo Luiz. Entretanto, nosso corpo
prevê essas alterações e consegue se recuperar nas situações que são
passageiras, normais da rotina. Quando a tensão é crônica, o organismo não
consegue mais administrar essas agressões.
O equilíbrio do corpo é prejudicado com a ação dos
hormônios do estresse. Como resultado, nossos órgãos passam a agir de forma
errada e comprometem a regulação de doenças crônicas ou autoimunes, piorando as
condições de saúde.
"Esse poderia ser um dos processos responsáveis
pela relativa baixa imunidade durante episódios de luto, ansiedade, guerras e
catástrofes, em que os mecanismos de adaptação não respondem
adequadamente", completa o especialista.
Doenças específicas
Algumas doenças afetam especificamente as células do
sistema imunológico, que fica comprometido. "Um exemplo é a AIDS,
ocasionada pela infecção pelo vírus HIV em linfócitos, que são células
importantes para o funcionamento da imunidade", lembra Patricia, da
Sociedade Brasileira de Imunologia.
Demais doenças que afetam o funcionamento do sistema
imunológico são diabetes, câncer e alguns tipos de anemia. "Infecções
bacterianas, virais, fúngicas e parasitárias também podem levar a uma
imunodeficiência transitória", afirma Juliana Fleck.
Outros exemplos de doenças que afetam o sistema
imune incluem obesidade, desnutrição e deficiências nutricionais.
O tratamento adequado destes problemas mantém as
células de defesa funcionamento plenamente, corrigindo a vulnerabilidade do
sistema imunológico. Contudo, negligenciar os cuidados poderá piorar o quadro,
levando à piora da imunidade.
Quimioterapia
Diferente da terapia com radiação, que atua de
maneira localizada, a quimioterapia é um tratamento sistêmico - ou seja, age
indiscriminadamente nas células do corpo, sejam normais ou cancerosas.
"Os quimioterápicos agem sobre as células de
multiplicação rápida, incluindo os organismos de defesa - por isso compromete a
imunidade", afirma Maria do Carmo. Alguns quimioterápicos entram na
categoria dos imunossupressores, ou seja, comprometem diretamente na função dos
linfócitos.
Contudo, ao cessar os tratamentos quimioterápicos, a
pessoa tende a recuperar a imunidade quase na sua totalidade, uma vez que o
número de células do sistema imunológico é restaurado.
"Nos casos extremos, em que o uso foi
prolongado ou a lesão foi severa, a imunidade fica pode ficar comprometida
durante mais tempo", explica o médico clínico Hugo.
Exposição à radiação
"Os efeitos das radiações sobre o sistema
imunológico são bem conhecidos hoje e temidos também, até por quem trabalha com
produtos radioativos ou raio-x", afirma Hugo Luiz.
Isso porque os tratamentos e exames com radiação
podem atingir não apenas as células alvo, como também outras presentes no
organismo.
"Os linfócitos (anticorpos) são bastante
sensíveis a radiação, por isso há uma diminuição do número dessas células no
período seguinte ao tratamento", explica a imunologista Patricia Savio de
Araújo Souza, consultora Sociedade Brasileira de Imunologia.
Entretanto, outras células importantes do sistema
imunológico são mais resistentes à morte por radiação, o que costuma ser
suficiente para que tais pacientes não estejam em risco de infecção tão
aumentado.
"Pode haver uma queda temporária na produção de
células sanguíneas (anemia, baixa de glóbulos brancos e de plaquetas) quando o
local da irradiação é uma área muito próxima à medula óssea", explica a
farmacêutica bioquímica Maria do Carmo Araújo, do Setor de Hemato-oncologia do
Hospital Universitário de Santa Maria-UFSM.
Genética
Todas as funções orgânicas, incluindo o
funcionamento do sistema imunológico, estão determinadas geneticamente.
Portanto, indivíduos com uma tendência natural à baixa imunidade podem ter
herdado essa condição dos pais, bem como transferi-la para os filhos.
"Algumas características geneticamente
determinadas podem comprometer a função de células especificas, levando, por
exemplo, a um aumento de vulnerabilidade a infecções por determinados
organismos, como as bactérias", explica a imunologista Patricia.
As funções do sistema imune também podem ser afetas
por fatores ambientais, não ficando a cargo apenas da genética, portanto.
Existem exames capazes de detectar essa predisposição genética à
imunodeficiência, mas não são testes de rotina.
"Há casos específicos em que os exames fazem
parte do aconselhamento reprodutivo, por exemplo quando o casal tem grande
risco de gerar um filho com depressão imunológica", afirma o médico
clínico Hugo.
Segundo a farmacêutica bioquímica Maria do Carmo,
pessoas com história familiar de imunodeficiência devem prestar atenção a essas
infecções de repetição e procurar a ajuda médica.