Flamengo bate Paulistano, leva o tri do NBB e
provoca: "Aqui não é Vasco"
Com terceira conquista em seis edições, equipe
carioca iguala títulos do Brasília como maior vencedor do torneio. Jogadores
entoam grito da torcida, que lotou Arena no Rio
Foi muito mais emocionante e difícil do que o
Flamengo esperava. Mas em tempos que o futebol figura na zona de rebaixamento do
Brasileirão, como a própria torcida gritou em alto e bom som, o basquete é o
orgulho da nação. O Rubro-Negro, mais na garra e no coração do que na técnica,
venceu o Paulistano por 78 a 73, neste sábado, na Arena da Barra, no Rio de
Janeiro, e faturou o tricampeonato do NBB. Para completar a festa, a provocação
não poderia faltar. E ela veio na comemoração dos jogadores no meio da quadra:
"Isso aqui não é Vasco, isso aqui é Flamengo".
Aos 39 anos, Marcelinho foi o cestinha da partida
com 16 pontos ao lado do pivô americano Jerome Meyinsse, eleito o MVP da
decisão. Marquinhos, que neste sábado completou 30 anos, também viveu um dia
especial. Foi um dos mais abraçados pelos companheiros e escutou um caloroso
"parabéns pra você" da arquibancada. Nico Laprovittola, um dos mais
queridos da torcida, parecia uma criança pulando e correndo de um lado para o
outro durante a festa. O título coroa a bela temporada dos cariocas, que, além
de igualar a marca do Brasília com três títulos do NBB em seis edições,
venceram o Campeonato Estadual e a Liga das Américas. O Flamengo ainda vai
disputar, em setembro, o Mundial de Clubes contra o Maccabi Tel Aviv, de
Israel.
- Tem que ser assim. Jogamos contra uma equipe
lutadora, que chegou por méritos. Título com a camisa do Flamengo tem que ter
essa cara, raça, entrega. Para vestir essa camisa tem que ter coração. É sempre
uma satisfação muito grande. Ser campeão é muito bom, pelo Flamengo, então... -
comemorou Marcelinho.
Ao Paulistano, restou o orgulho de ter lutado
bravamente até o fim. A equipe paulista, que pela primeira vez chegou à decisão
do NBB, teve em Holloway e Dawkins seus principais jogadores. Mas mostrou ser
muito mais do que a dupla americana. Pilar, Renato e César podem não ser tão
habilidosos, mas têm muita garra. E valorizaram ainda mais a vitória
rubro-negra. E proporcionou ainda uma cena bonita e esportiva após a partida.
Apesar de ter reclamado muito da arbitragem durante a decisão, todos os
jogadores foram até o trio cumprimentá-los sem qualquer tipo de confusão
enquanto o Flamengo comemorava o título.
EQUILÍBRIO E BOLA ENTRE AS PERNAS
Foi um início nervoso. Sozinho, Marcelinho errou um arremesso de três pontos
para o Flamengo. Mineiro desperdiçou dois lances livres para o Paulistano. O
primeiro ponto só veio com Olivinha, com quase dois minutos de jogo. Mas o
Rubro-Negro dominava o garrafão e deixava o técnico Gustavinho irritado à beira
da quadra.
- Quer sair? Quantos rebotes você já pegou? - gritou
para Renato.
Quando o Flamengo abriu 15 a 4, Gustavinho pediu tempo. E resolveu trocar.
Tirou Mineiro e colocou Labbate. Não adiantou muito. Olivinha e Meyinsse
seguiam dominando os rebotes. A diferença é que Holloway começou a jogar. O
americano fez 11 dos 17 pontos dos paulistas no primeiro quarto, que terminou
22 a 17 para o Flamengo, embalado pelos cerca de 15 mil torcedores presentes na
Arena da Barra.
Antes do início do segundo quarto, Oscar Schmidt entrou
em quadra para entregar o troféu, que leva o seu nome, ao cestinha da sexta
temporada do NBB, o americano Shamell, do Pinheiros, que teve uma média de
20,77 pontos por jogo. O maior jogador brasileiro de todos os tempos, que por
muitos anos defendeu o Flamengo, foi ovacionado pelos torcedores.
Mas veio o segundo quarto, e o jogo mudou. Os
“barbudos” do Paulistano começaram a ajudar mais Holloway. Pedro, Pilar, Pedro,
Labbate e Renato, os jogadores que deixaram de fazer a barba no início dos
playoffs como uma promessa pelo título, cresceram na defesa e no ataque. Gegê
tentou usar a velha catimba para desconcentrar Pilar, mas o camisa 11 do
Paulistano não caiu na armadilha. Tudo isso depois de um dos poucos lances de
habilidade, e não força, do segundo quarto, quando Laprovittola jogou a bola
entre as pernas de Labbate. A torcida, lógico, vibrou. Assista ao vídeo!
Faltando seis minutos, a equipe paulista passou pela
primeira vez à frente: 27 a 25. Isso sem Holloway em quadra, já que o americano
descansou boa parte do período. Mas vibrava a cada ponto dos
companheiros.
José Neto resolveu promover a volta de Benite, que
se recuperou de uma séria lesão no joelho esquerdo e retornou depois de seis
meses longe das quadras. O ala só tinha disputado três jogos neste NBB. Sem
ritmo não conseguiu fazer muita diferença nos primeiros minutos. A torcida
rubro-negra, que cantava animada antes, se calou por alguns instantes. Era o
sinal de que o jogo, até então com um início tranquilo para o Flamengo, estava
mais equilibrado e tenso.
Os donos da casa falhavam muito nos lances livres. No primeiro tempo, tiveram
aproveitamento de apenas 55,8%, acertando 10 em 18. E foram superados também
nos rebotes. O Fla pegou 15 contra 20 do Paulistano. Com isso, a equipe
paulista foi para o vestiário dois pontos na frente: 40 a 38.
TORCIDA ACORDA. FLAMENGO TAMBÉM
O jogo seguiu equilibrado no terceiro quarto. Mas a torcida rubro-negra acordou
após uma cesta de três de Marcelinho. E começou a gritar sem parar. A Arena da
Barra virou um caldeirão. Porém, o Paulistano não sentiu muito a pressão. O
jogo ficou lá e cá. Nervoso e com muitas faltas. O que acabou complicando para
os visitantes. Faltando seis minutos, Mineiro e Pilar saíram de quadra com
quatro faltas. A equipe paulista perdeu força no garrafão. Meyinsse passou a
dominar os rebotes. Felício fez seis pontos.
Mas o Flamengo continuou falhando nos lances livres.
O baixo aproveitamento (apenas 50% no terceiro quarto) evitou que a equipe
abrisse no placar. A partida passou a se concentrar no garrafão. Os dois times
tentavam infiltrações em busca de faltas. Gustavinho reclamava a cada falta
marcada a favor do Flamengo. E foram muitas. Marcelinho reclamou com um dos
árbitros:
- Vai deixar ele falar assim com você? Eu ouvi o que
ele disse - gritou.
A arbitragem não deu bola para o rubro-negro. E no
jogo pegado, o Flamengo saiu vencendo. Terminou o terceiro quarto na frente: 60
a 57.
Veio o último e decisivo quarto, e o Flamengo
conseguiu abrir seis pontos após Dawkins errar uma bandeja fácil. Benite entrou
novamente em quadra e fez cinco pontos seguidos, que deram um gás ao
Rubro-Negro. O jogo passou a ser mais no coração do que na técnica. E isso o
Flamengo tinha. Ainda mais apoiado pela torcida.
O Fla conseguia manter a vantagem. Pilar saiu da partida com cinco faltas. Por
outro lado, Olivinha e Meyinsse voltaram para quadra. Nico chamou os dois.
Falou para a dupla forçar mais o jogo no garrafão. Mas em um apagão
rubro-negro, o Paulistano conseguiu se aproximar com uma bandeja de
André.
Faltando 1min40s para o fim, a vantagem rubro-negra era só de um ponto: 72 a
71. Marcelinho sofreu falta e acertou apenas um lance livre. Holloway fez o
mesmo em seguida. Partiu para cima e sofreu falta de Shilton. Mas acertou os
dois e o jogo ficou empatado: 73 a 73.
O Paulistano tentou apertar a marcação. Dawkins fez falta em Laprovittola. Mais
dois lances livres. Que o argentino converteu. Renato arriscou uma bola de
três, mas errou. Marcelinho fez o mesmo. Errou, mas o rebote ficou com o
Flamengo. E em seguida o próprio Marcelinho cavou uma falta faltando 14
segundos para o final. A torcida começou a gritar “seremos campeões”. E o
camisa 4 acertou os dois tiros livres, abrindo quatro pontos de frente.
Tempo para Gustavinho. Ao Paulistano restava arriscar. André tentou de três
desequilibrado. Errou. Marcelinho pegou o rebote e sofreu falta. Faltavam oito
segundos no cronômetro. E a torcida já gritava sem medo: tricampeão!
ESCALAÇÕES
Flamengo: Laprovittola (11), Marquinhos (12),
Marcelinho (16), Olivinha (9) e Meyinsse (16). Depois: Shilton, Gegê, Washam,
Felício (6) e Benite (8). Técnico: José Neto.
Paulistano: Dawkins (14), Holloway (15), Pilar (7), Renato (8) e Mineiro
(5). Depois: Gemerson (2), Pedro (2), César (12), Labbate (4) e André (4).
Técnico: Gustavo De Conti.