Existe boato sobre quase tudo nessa vida, mas a área
de saúde é um terreno particularmente fértil para baboseiras, especialmente a
psicologia. Confira cinco mitos psicológicos e a verdade sobre eles:
5. Não existe nenhuma epidemia de autismo
Você já deve ter ouvido falar que “vacina causa
autismo”. Claro que isso é enorme mentira. Os ignorantes que espalham esse
boato se baseiam no fato de que há muitas mais crianças autistas hoje em dia do
que no passado. Teria alguma verdade nisso?
Sim, seus avós provavelmente nunca conheceram sequer
uma criança autista, e atualmente todo mundo já ouviu falar pelo menos de uma.
Isso não significa que o autismo não existia antes, e sim que não tinha um
nome.
O que pode parecer uma epidemia à primeira vista é,
na verdade, um novo conhecimento de algo que sempre esteve por aí. Os
pesquisadores não acham que o autismo está em ascensão; eles acham que os pais
e os médicos são mais inteligentes e conseguem diagnosticar melhor a condição
hoje em dia.
Não estamos exagerando. O autismo foi descoberto em
1943 e, por 20 anos, a condição foi confundida com esquizofrenia e vista como
consequência de má educação dos pais (coisas do tipo “seu filho tem 4 anos e
ainda não aprendeu a falar? você que não soube ensiná-lo” ou “seu filho tem
reações inadequadas a interações sociais? bem, você claramente não bateu nele o
suficiente”).
E só em 1980 o guia principal para doenças mentais,
o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicou critérios
para o diagnóstico da doença. Ou seja, somente nessa época, finalmente,
crianças que já tinham sido identificadas com deficiência mental apesar de sua
alta inteligência ou classificadas como mal educadas agora tinham outro
diagnóstico possível.
Nós nem sequer começamos a usar a expressão
“espectro do autismo” até meados dos anos 90. Isso significa que os médicos na
vanguarda da psiquiatria apenas começaram a entender o fato de que há realmente
uma grande variedade de sintomas do autismo, e que a condição não é tão simples
assim.
Então, não,
a vacina não causa autismo, muito menos uma epidemia dele. Para o bem de
todos os seres humanos, nós é que estamos nos esforçando para identificar as
pessoas que têm alguma dificuldade relacionada à doença e ajudá-las.
4. As pessoas não passam por cinco etapas para
superar o luto
Você já deve ter ouvido falar das “cinco fases do luto”: negação, raiva,
barganha, depressão e aceitação. Isso aparece em todos os lugares – filmes,
livros, seriados, conversas de rua -, e parece que as pessoas não são capazes
de ficar em paz com a morte de um ente querido sem passar por esses cinco
estágios inevitáveis.
Ai ai ai.
Claro que isso é besteira.
Os cinco estágios foram inventados por uma
psiquiatra na década de 1960 para um livro que ela estava escrevendo. Não há
nenhuma evidência de que eles existam, eles são apenas fruto de sua observação
pessoal durante sua prática – que, aliás, não tem nada a ver com ficar de luto.
Pense bem, que fase parece estar faltando entre
essas cinco? Que tal aquela em que a pessoa de luto anseia que o falecido
estivesse vivo de novo? Afinal, essa é a emoção que as pessoas mais sentem
depois de perderem alguém, o desejo de que ele ainda estivesse com elas.
Mas esse desejo não faz parte da lista porque os
cinco estágios na verdade aplicam-se às emoções de doentes terminais, expressas
diante de suas próprias mortes.
A psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross entrevistou
pacientes terminais que morreram em seu hospital e notou um padrão. Alguns
deles estavam com raiva, outros em completa negação, e outros apresentavam um
estado zen de aceitação. Enquanto lutava contra a insônia uma noite,
Kubler-Ross deu rótulos para esses pensamentos de morte de seus pacientes e os
escreveu em um livro intitulado “On Death and Dying” (em tradução livre, “Sobre
Morte e Morrer”). Em pouco tempo, psiquiatras e conselheiros começaram a usar
esses estágios para ajudar pessoas de luto por entes queridos, uma população
completamente diferente daquela a que realmente se destina.
Na realidade, o luto é expresso por cada pessoa à
sua maneira, embora um estudo da Universidade de Yale (EUA) tenha mostrado que
a maioria de nós aceita a morte de um ente querido imediatamente – a
compreensão de que essa pessoa está morta e enterrada para sempre é geralmente a
primeira emoção que processamos, e não a quinta.
Isso é importante de saber, porque se você está com
dificuldades de aceitar uma morte, pensar que há uma linha de chegada para
essas emoções depois de passar por certos estágios só vai aumentar seu sofrimento.
Aceitação parece um excelente primeiro passo, em vez de vir só depois de quatro
outras fases dolorosas.
3. Dar poder as pessoas não as transforma
imediatamente em sadistas
Muito provavelmente você conhece o
experimento da prisão de Stanford. Em 1971, um professor de psicologia da
Universidade Stanford (EUA), Philip Zimbardo, resolveu testar sua teoria de que
as pessoas podem se tornar “idiotas” se tiverem poder em suas mãos.
Essencialmente, ele pediu a estudantes universitários voluntários que fingissem
ser detentos ou guardas em uma prisão falsa no porão da faculdade, para ver o
que acontecia.
O que era para ser uma experiência de duas semanas terminou
na verdade em seis dias, quando os alunos passaram de jovens universitários
normais para torturadores e vítimas. Os guardas não davam comida a seus
prisioneiros, os obrigavam a fazer xixi e cocô em baldes, enfim, praticavam
todo tipo de abuso.
Naturalmente, Zimbardo chegou à conclusão de que dar
a qualquer pessoa poder sobre outra imediatamente a transforma em um sádico.
Mas houveram falhas no experimento que não foram levadas em conta.
Por exemplo, Zimbardo não atuou apenas como
observador do experimento; ele fez o papel de chefe dos guardas, chegando a dar instruções totalmente
imparciais para os alunos fazerem os prisioneiros se sentirem
impotentes, por exemplo.
Além disso, Zimbardo não era apenas o pesquisador e
mentor sádico do experimento; ele era também um professor, portanto, uma figura
de autoridade para os participantes da pesquisa.
Havia uma pressão sobre eles para agradar o
pesquisador – primeiro, porque estavam sendo pagos US$ 15 (mais de R$ 30) por
dia para participar do experimento, e depois porque sabiam que o departamento
tinha gastado muito dinheiro construindo a prisão falsa.
Assim, eles agiram como guardas sádicos provavelmente porque queriam agradar, não porque seu papel profissional simulado os encorajou a agir dessa maneira.
Assim, eles agiram como guardas sádicos provavelmente porque queriam agradar, não porque seu papel profissional simulado os encorajou a agir dessa maneira.
Também, um ex-prisioneiro que serviu como consultor
no experimento mais tarde admitiu ter dado aos alunos sugestões de como abusar
de seus prisioneiros. Ou seja, pessoas decentes não simplesmente inventaram
espontaneamente maneiras de ser abusivas.
Há ainda o contexto do experimento. O verão
americano de 1971 foi uma época de confrontos entre manifestantes e figuras de
autoridade (por incrível que pareça, os tumultos nas prisões San Quentin e
Attica aconteceram logo após o experimento), incluindo motins em Stanford que
tiveram que ser abafados com gás lacrimogêneo. Quando esses alunos responderam
a um pedido para ajudar um professor a estudar os papéis de figuras de
autoridade e suas vítimas, eles sabiam que argumento deveria ser comprovado.
Por fim, apesar dos melhores esforços de Zimbardo
para considerar toda a humanidade como má por natureza, vários dos estudantes
“guardas” mantiveram sua bússola moral intacta e não abusaram de nenhum
prisioneiro. Alguns até fizeram favores para seus detentos. Os bons não
receberam muita atenção nos relatórios da pesquisa porque não se encaixavam na
hipótese que o professor queria provar: que,
no fundo, todos nós estamos apenas esperando permissão para sermos
idiotas.
2. O “efeito Mozart” não é o que as pessoas pensam
As pessoas tendem a acreditar em coisas como o
“efeito Mozart” porque elas não querem perder uma oportunidade de dar qualquer
vantagem a seus filhos. Provavelmente por isso, no início dos anos 90, os pais
começaram a encher os ouvidos de seus recém-nascidos com música
clássica, sob o pretexto de que eles ficariam mais espertos. Faz
sentido, não? Quantas pessoas inteligentes você conhece escutam música pop o
dia inteiro? É bem mais fácil visualizar empreendedores de alta classe ouvindo
Mozart, tomando vinho e ajustando seus monóculos, não é?
Infelizmente, o efeito Mozart é só um exemplo de
como as pessoas interpretam errado pesquisas científicas, a fim de fazê-las
soarem do jeito que querem ouvir.
O estudo original de 1993 feito por Francis
Rauscher, de fato, descobriu que ouvir Mozart tem um impacto leve sobre tarefas
envolvendo raciocínio espacial. Ao ouvir música clássica, ficamos melhores
nessas tarefas, mas o efeito dura aproximadamente 10 minutos. É só isso.
O pequeno estudo, com cerca de 36 pessoas – nenhuma
delas criança, eles eram estudantes universitários -, não impediu que uma
indústria toda se criasse em torno do absurdo de que Mozart era a maneira de
tornar as crianças mais inteligentes.
Só que, uma vez que os especialistas começaram a
testar cientificamente essa teoria em larga escala, eles concluíram que música
pode ajudar,
de fato, crianças a se saírem melhor em certas tarefas, mas que esse efeito
não é exclusivo da variedade clássica e nem milagroso. Ou seja: force o quanto
você quiser seus filhos a escutar Mozart, você vai precisar ensiná-los e
incentivá-los em muitas outras coisas se quiser que eles tenham sucesso na
vida.
1. Pessoas com QIs mais altos não são
necessariamente mais espertas do que os outros
Quando você descobriu o que um quociente de
inteligência era, provavelmente quis fazer o teste imediatamente para descobrir
se era um gênio.
Se alguém ouve dizer que a atriz Sharon Stone tem um
QI de 154, logo formula uma opinião diferente sobre ela. Se dizem a um pai que
seu filho tem um QI de dois dígitos, ele logo assume que a criança está
destinada a viver esfregando banheiros ou estrelando um reality show.
Na verdade, ao ouvir qualquer coisa sobre QI, o que
você deveria responder é: não tô nem aí. Isso
porque esses testes não provam quase nada sobre as pessoas.
A maioria dos testes de QI avalia apenas “lógica
simbólica”, o que inclui coisas como resolução de problemas, imaginar como
imagens ficariam se giradas ou manipuladas e memória de curto prazo. Se para
você isso soa como uma pequena porção do que compõe a inteligência de uma
pessoa, deixando de fora coisas importantes como criatividade, parabéns! Você
passou no teste final de inteligência, que é descobrir que os testes de
inteligência são uma furada.
Qualquer neurocientista que se preze vai alegremente
atestar que a capacidade cognitiva é muito mais complicada do que a resolução
de problemas em testes
de QI. Você poderia ser brilhante em problemas de lógica, mas péssimo em
inteligência verbal, que é outra peça do quebra-cabeça da inteligência. Ou você
poderia ter uma memória excelente, mas nenhuma habilidade lógica. Aliás, as
pessoas em sua vida que você considera mais inteligentes podem apenas ser boas
comunicadoras ou carismáticas, ou ainda ler muito.
De qualquer maneira, seu QI não é nada de especial
porque ele mede apenas uma coisa: quão
bom você é em fazer um teste de QI]. [Cracked]