Os sintomas podem ser semelhantes, mas os problemas
são muito diferentes
De repente você começa a sentir desconforto,
pontadas, pressão e aperto no peito. Dores no tórax podem revelar problemas de
saúde simples, como azia ou excesso de gases no organismo, mas também indicar
que há algo grave acontecendo com o seu coração. O fato é que a dor no peito
não deve ser ignorada em nenhuma hipótese. No entanto, precisamos ter em mente
que ela tem muitas possíveis causas, com diferentes níveis de gravidade.
Em parte dos casos, o sintoma está relacionado ao
coração em decorrência de um infarto agudo do miocárdio ou outro evento
cardíaco. O desconforto torácico também é motivado por alterações pulmonares,
infecciosas, gastrointestinais (como esôfago, estômago e intestino),
musculoesquelético e psicológicas (síndrome do pânico), por exemplo.
Se você sentir dores inexplicáveis no peito, a única
maneira de confirmar sua origem e conseguir um diagnóstico preciso é com
avaliação médica. Porém, é possível apontar algumas diferenças e sinais que
ajudam a distinguir o que está acontecendo com o seu corpo.
O problema pode ser apenas excesso de gases
Pessoas que têm hipertensão, diabetes, obesidade,
colesterol alto, diagnóstico de insuficiência coronariana, histórico pessoal ou
familiar de complicações no coração ou outros riscos causadores de um infarto
geralmente vivem atentas à possibilidade de sofrerem o evento cardiovascular.
Muitas vezes, o próprio excesso de preocupação faz com que qualquer pequeno
sintoma gere ansiedade e acabe sendo confundido.
E a dor no peito causada pelo excesso de gases é uma
das razões mais comuns dessa confusão, uma vez que acarreta em dores muito
similares. A explicação está no processo de digestão dos alimentos. Isso quer
dizer: do momento em que levamos o alimento à boca até o último segmento do
intestino.
Os gases são gerados por certos hábitos (como fumar
e mascar chicletes) e se formam durante a fermentação daquilo que ingerimos,
para retirada das vitaminas e sais minerais por bactérias do intestino, ou
entram no corpo quando levamos a comida até a boca, momento em que engolimos ar
que vai para o estômago e intestino.
Quando esses gases se acumulam, provocam inchaço e
até a compressão de alguns órgãos. Tudo isso pode então ser sentido por nós em
forma de dor no peito e cólicas.
Aqui a questão é razoavelmente fácil de ser
resolvida: identificar os alimentos que provocam o problema e reduzir o
consumo. Leite e seus derivados, algumas verduras, como couve e repolho, e
certas leguminosas, entre elas feijão, ervilha, lentilhas e soja, são
causadores de gases no organismo. Dependendo da quantidade e da forma ingerida,
são capazes de gerar um grande mal estar e desconforto físico.
Azia ou ataque cardíaco?
Você já teve a sensação de ardor no peito ou
queimação na região do coração após comer uma refeição? Pois saiba que casos de
azia e ataque cardíaco também são difíceis de distinguir. Para começar, vamos
esclarecer: a azia não tem impacto no coração.
A azia (ou indigestão ácida) acontece quando o ácido
estomacal flui de volta ao esôfago. Ela causa uma sensação desconfortável de
queimação ou dor no peito que pode subir até o pescoço e a garganta. Como o
esôfago está localizado próximo ao coração, muitas vezes é difícil reconhecer
de onde vem a dor.
De modo geral, a azia ocorre pouco tempo depois de
uma refeição, quando o indivíduo se deita ou dobra o corpo. Em alguns quadros é
acompanhada por um gosto azedo na boca, de uma pequena quantidade de conteúdo
estomacal que vem para a parte de trás da garganta (regurgitação).
Porém, vale destacar que outros sintomas digestivos
também causam a dor no peito. Um espasmo muscular no esôfago, por exemplo, ou a
dor de um ataque da vesícula biliar. Nesse último caso, especialmente após uma
refeição gordurosa, o sintoma vem acompanhado de náusea e uma dor intensa e
constante na parte superior média ou superior direita do abdômen e pode se
deslocar para os ombros, pescoço ou braços.
Importante: se não for tratada, a azia tem
consequências graves, como inflamação e estreitamento do esôfago, problemas
respiratórios, tosse crônica e até mesmo câncer.
E se eu estiver realmente tendo um infarto?
O infarto agudo do miocárdio (ou ataque do coração)
acontece por conta de uma isquemia cardíaca, ou seja, o bloqueio ou redução na
circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas
artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão - o que chamamos de
doença arterial coronária (DAC).
O problema se desenvolve diante da presença de
alguns fatores de risco, entre eles: estresse, sedentarismo, histórico
familiar, diabetes, obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. Já o
grau de obstrução e os sintomas variam de acordo com cada caso e podem ser
diferentes de pessoa para pessoa.
De maneira geral, obstruções nas coronárias têm como
principal indício a dor, pressão, ardor ou aperto na região do peito (que pode
irradiar para outros locais, como costas, pescoço, mandíbula, ombros e um ou
ambos os braços), dor abdominal (possível de ser confundida com uma
indigestão), tontura e vertigens, mal súbito ou desmaio, falta de ar,
palpitações, fadiga extrema durante o esforço, transpiração intensa e
repentina, náusea, vômito, dormência e formigamento.
O estado agudo do quadro dura cerca de cinco
minutos, mas em alguns pacientes se estende por até 20. Os sintomas são
crescentes e geralmente pioram de forma gradativa por várias horas. No entanto,
vale um alerta: aquela cena típica de filme em que o personagem infartando
sente uma dor repentina e severa no peito talvez fique só nas telas do cinema.
Os sintomas de um infarto muitas vezes são muito mais sutis e nem sempre
ocorrem. Isso porque a DAC pode se desenvolver ao longo de muitos anos de forma
progressiva e silenciosa.
Dor no peito: angina
Você já deve ter ouvido falar em angina quando o
assunto é dor torácica, certo? Esse é mais um ponto que devemos esclarecer: a
angina de peito (ou pectoris) é um sintoma caracterizado por um desconforto na
região do tórax, que pode remeter a um quadro de infarto ou não. Ambos são
processos distintos.
A angina pode surgir devido à doença arterial
coronária ou a partir de uma embolia, vasculite ou dissecção coronariana.
Quando não investigada e tratada, tem entre suas possíveis consequências o
infarto. Portanto, é um alerta indicando que o coração não está sendo oxigenado
adequadamente.
O tempo de duração, a intensidade da dor e a
combinação com outros sintomas caracterizam a angina pectoris ou a dor do
infarto. Como explicado, há muitas variações individuais entre o quadro de cada
paciente.
O que fazer então ao sentir dor no peito?
A pior coisa a fazer é ignorar os sinais e esperar
que eles simplesmente desapareçam, sobretudo se não houver razão óbvia para
acontecerem. A dor no tórax, em especial quando acompanhada dos sintomas
apontados, não tem que durar muito tempo para ser considerada um alerta.
Na dúvida, procure atendimento médico imediatamente.
Gases, azia, angina e infarto do miocárdio podem se manifestar de forma muito
parecida. É por isso que logo ao dar entrada no pronto-socorro com dores no
peito, você é submetido a exames para descartar o ataque cardíaco.
A questão é que quanto mais rápido for iniciado o
atendimento, menor o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim
como os danos ao miocárdio e às células do músculo cardíaco, com possibilidade
de recuperação completa. Reforço, portanto, que é de extrema importância sempre
dar atenção aos sinais que o corpo nos dá.
Fonte: https://www.minhavida.com.br/saude/materias/37579-dor-no-peito-e-infarto-do-miocardio-ou-excesso-de-gases-saiba-diferenciar
- Escrito por Paulo Chaccur - Foto: Getty Images