O prato dos adolescentes anda cada vez mais
desequilibrado, deixando-os na mira de doenças da pesada. Veja como alterar o
rumo dessa história
Estudo brasileiro revela que 84% dos adolescentes
abusam do sódio, mineral cujo excesso faz a pressão arterial decolar
Na adolescência, há indícios de que mudanças no
cérebro são responsáveis por deixar os jovens destemidos. Pois a coragem típica
dessa fase parece sumir na hora das refeições, quando uma folha de alface gera
mais pavor do que escalar uma árvore. Pelo menos é o que dá para presumir a
partir de dados divulgados nos últimos tempos, como um grande levantamento
feito com 75 mil brasileiros de 12 a 17 anos, em escolas públicas e privadas. O
estudo, batizado com a sigla Erica, revela que apenas um em cada três
adolescentes coloca salada no prato. Pior: só um em cinco ingere pelo menos uma
fruta ao dia.
Os profissionais de saúde enfrentam as consequências
dos maus hábitos no dia a dia. “Entre crianças e adolescentes, a incidência de
obesidade cresce exponencialmente, e em todas as classe sociais”, afirma Renato
Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Há 40 anos,
atendíamos um adolescente obeso a cada 100. Hoje, são de seis a oito”, estima.
Números da Organização Mundial da Saúde refletem
essa realidade. Em 1975, calcula-se que 11 milhões de adolescentes eram obesos.
Em 2016, o número saltou para 124 milhões.
A infância é um período determinante na aquisição de
hábitos à mesa. Mas mesmo aquela criança que venerava brócolis pode virar o
adolescente que rejeita qualquer vegetal. Não há uma explicação biológica para
isso, mas, sim, comportamental: é nessa fase da vida que os filhos ganham mais
independência, fazem refeições longe dos pais e recebem dinheiro para escolher
o que vão comer.
Sem falar na influência dos amigos. Quem vai optar
por salada quando a turma toda vai de fast-food? Por isso é essencial manter o
equilíbrio nas refeições em família”, diz a nutricionista Renata Faria Amorim,
da All Clinik, no Rio de Janeiro.
A profissional alerta sobre o papel da escola nesse
cenário. Mesmo que as cantinas não possam vender tranqueiras — alguns estados
têm leis para regulamentar isso —, biscoitos, doces e bebidas açucaradas são as
estrelas nos intervalos. E proibir não é solução definitiva.
Uma pesquisa feita pela marca Capricho e pela área
de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, com 1 724 garotas — 1 046 delas com
14 a 17 anos —, mostra que 34% não resistem a um docinho. Elas poderiam
sucumbir menos a essas gulodices caso tivessem aulas que ensinassem por que
outras opções são mais vantajosas, por exemplo. “É preciso conscientizar”,
resume Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Hábitos preocupantes dos jovens, registrados em
novos estudos
Prato sem cor: menos de 40% dos jovens incluem
verduras e hortaliças nas refeições, que acabam pobres em micronutrientes e
ricas em carboidratos e gordura.
Doçura demais: enquanto 40% dos jovens comem algum
doce todo dia, menos de 20% ingerem frutas, que têm açúcar natural, vitaminas,
minerais e fibras.
Energia poupada: só três em cada dez brasileiros
entre 10 e 18 anos não são sedentários — isto é, fazem uma hora de atividade
física cinco dias por semana.
Pais de castigo?
Mas é em casa que está o principal gargalo.
Inclusive, para os experts, é quase impossível falar da dieta dos adolescentes
sem dar um puxão de orelha nos adultos.
“A maioria dos pais tem dificuldade em reconhecer as
deficiências alimentares dos filhos porque eles próprios apresentam esses maus
hábitos. Só que não os percebem como um problema”, analisa Julia Bittencourt,
psicóloga especialista em terapia familiar, no Rio de Janeiro.
Há outro empecilho que está literalmente em nossas
mãos: celulares. As horas ativas dos adolescentes não param de despencar, já
que as atividades físicas foram substituídas por jogos e interações nos
smartphones.
Mesmo que os pais enxerguem essas questões, não
adianta somente tentar mudar o adolescente: é necessário dar o exemplo. Toda a
família deve se propor a ingerir menos industrializados e mais vegetais, além
de criar horários fixos para as refeições (nada de comer só quando a fome bater
ou na frente da TV).
A programação completa inclui passeios que agitem o
corpo, como uma ida ao parque no fim de semana. “Isso é muito mais efetivo para
combater a obesidade do que apenas proibir o consumo de alguns itens”, garante
Segal.
Quanto mais cedo a família se unir em torno dessa
agenda saudável, melhor. “É logo no início da puberdade que o corpo, em
transformação, refaz sua disposição de adipócitos, as células acumuladoras de
gordura. Por isso, o sobrepeso e a obesidade nessa fase geram dificuldade para
emagrecer ao longo de toda a vida”, alerta a endocrinologista Isabela Bussade,
do Rio de Janeiro.
O que precisa aparecer menos na alimentação da
moçada
Ultraprocessados e fast-food: biscoitos, bolinhos
prontos, macarrão instantâneo, chips… Esses itens são lotados de sódio, açúcar,
gorduras, aditivos, e por aí vai. Quanto menos deles, melhor. Pizza e
hambúrguer também devem ficar para ocasiões pontuais — e não para o dia a dia.
Doces: eles causam picos de açúcar no sangue e, por
isso, o excesso eleva o risco de diabetes. “Deixe os doces para o fim de semana
e, sempre que possível, prefira os de frutas. Chocolate amargo também é uma boa
opção”, ensina Samanta Brito, nutricionista da Estima Nutrição, em São Paulo.
Bebidas açucaradas: muitos pais caem na pegadinha de
cortar o refrigerante e liberar sucos e chás de caixinha. Só que esses líquidos
também podem reunir boas doses de açúcar. Não dá para beber de forma
desenfreada. Chás feitos com ervas e frutas in natura são escolhas mais acertadas.
O que os adolescentes devem comer com frequência
Comida caseira: nessa fase, proteínas de alta
qualidade e micronutrientes são determinantes para o desenvolvimento da
molecada. “Não há nada como arroz, feijão e uma grande variedade de vegetais
para suprir essa necessidade”, avisa Cátia Ruthner, nutricionista do W Spa, no
Rio de Janeiro.
Frutas: ignoradas pelos jovens, elas são abastecidas
de fibras, vitaminas e minerais. “Introduza aos poucos. Vale até vitamina e
suco natural”, sugere Samanta. O melhor cenário, porém, é o do consumo do
alimento em sua forma original. Que tal uma bela salada de frutas turbinada com
aveia ou sementes?
Água: a falta do líquido (puro, e não dentro de
refris e afins) abala várias funções do organismo. Se o adolescente toma pouca
água, incentive o hábito de ter sempre uma garrafinha por perto. Tudo bem
saborizá-la com pedaços de limão, abacaxi, laranja, canela, gengibre e folhas
de hortelã.
Magreza não é sinônimo de saúde
Que fique claro: a luta com a balança não deve ter
motivação estética. As doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e
diabetes, já são as principais causas de morte na população brasileira — e elas
têm íntima relação com a obesidade.
“Com o estudo Erica, pudemos perceber que esses
quadros têm início na infância e na adolescência”, observa a nutricionista
Amanda de Moura, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e uma das responsáveis pelo
levantamento.
Mas o peso está longe de ser o único indicativo de
saúde. Sabe aquele adolescente que come só porcaria e é magrinho? Pois ele não
está isento de riscos. “Esse jovem pode esconder um acúmulo de gordura nos
órgãos”, avisa Isabela.
Fora que o consumo excessivo de açúcares e gorduras
causa um desgaste no pâncreas e em outros cantos desde muito cedo. “Cerca de
metade das crianças com colesterol ou triglicérides elevados terá doença
cardíaca na vida adulta”, alerta Zilli. A hora de mudar esse futuro é agora.
Não há um corpo ideal – e focar nisso é um perigo
Na pesquisa da Capricho, 36% das garotas de até 14
anos relataram já ter encarado o jejum intermitente. E 76% fizeram, fazem ou
pretendem fazer dieta para emagrecer. “Qual padrão de beleza é esse que deixa
mais de 70% das nossas meninas desconfortáveis com a própria imagem?”, questiona
Gabriela Malzyner, psicóloga da Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise
da Anorexia e Bulimia, em São Paulo.
Ela defende a conscientização de que ser saudável
não significa ter um certo formato de corpo. “A dieta não pode gerar
insatisfação corporal constante nem isolamento social”, frisa. Até porque isso
abre brecha para transtornos sérios, capazes de abalar a saúde e a qualidade de
vida dos jovens.
Fonte: https://saude.abril.com.br/familia/adolescentes-como-esta-a-alimentacao-dos-jovens-no-brasil/
- Por Manuela Biz - Ilustração: Davi
Augusto/SAÚDE é Vital
dicas ótimas para aplicar no colegio zona norte sp
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