O poder (para o bem ou para o mal) dos alimentos é
um dos principais alvos de boatarias e opiniões apaixonadas na internet
Depois da nossa matéria sobre os influenciadores da
saúde em geral, nós separamos algumas pegadinhas das redes sociais específicas
sobre nutrição. Explica-se: a alimentação é uma das áreas mais atingidas pelas
notícias falsas, ao ponto de o Conselho Federal de Nutrição (CFN) ter emitido
em 2018 um alerta sobre o tema.
“Nas mídias sociais, as fake news chamam a atenção
para equívocos e atitudes de risco, prometendo dietas milagrosas sem nenhuma
comprovação científica, prescritas por pessoas sem formação acadêmica”, declara
o texto da entidade. Ao adotar sugestões de origem duvidosa, a saúde é ameaçada.
Para ajudar você a detectar uma armadilha do tipo,
conversamos com a nutricionista Carolina Sartori, de Brasília, que em seu
perfil desmente com evidências alguns dos boatos. Ela é uma das entusiastas do
projeto Saúde Honesta, que desmistifica o tema com o auxílio de diversos
profissionais.
1. Fuja de quem usa o termo “detox”
A desintoxicação de quaisquer substâncias nocivas é
feita pelo nosso corpo normalmente, desde que os rins e outros órgãos estejam
funcionando. Não há qualquer indício confiável de que as dietas, chás e
receitas detox tenham algum efeito extra na remoção de toxinas do organismo.
O importante é comer bem, sem radicalismos.
2. Demonização de alimentos é furada
As expressões “sem lactose” e “sem glúten” estão em
alta nos rótulos das prateleiras e nos “publis” do Instagram. Só que esses
alimentos só devem ser retirados da dieta de quem é alérgico ou intolerante a
eles.
Riscar qualquer item do cardápio sem necessidade
pode levar a deficiências nutricionais e problemas de saúde. No caso do glúten,
a retirada não só não traz benefícios como pode elevar o risco de doenças
crônicas não transmissíveis.
3. Ainda não há cura para doenças incuráveis
Parece óbvio, mas há muitas promessas de eliminar a
aids e outras doenças crônicas com um alimento ou planta. Se a condição é
considerada incurável, não dá para acreditar em uma alegação do tipo.
4. Desconfie da supervalorização dos alimentos
Vamos dar um exemplo, o da canela. Ela é um alimento
termogênico, pois acelera o gasto de energia do organismo. Só que esse efeito é
discreto, ou seja, seria preciso comer porções cavalares para que o corpo
perdesse peso por causa dessa queima.
Vale a máxima: nenhum alimento ou nutriente sozinho
melhora a imunidade, emagrece ou cura doenças.
5. Encrencar com exames é sinal de alerta
É comum encontrar nutricionistas ou outros
profissionais de saúde dizendo que o valor de referência da dosagem de vitamina
D ou outros marcadores nos laboratórios é errado, e que na verdade deveríamos
ingerir mais do que isso.
Como o excesso de nutrientes e o tratamento de
doenças inexistentes podem ser prejudiciais e até colocar a vida em risco, vale
ficar com o número oficial, que é calculado baseado em anos de estudo e passa
pela análise de dezenas de profissionais e entidades médicas.
6. O ortomolecular não existe
Essa especialidade não é reconhecida pelo Conselho
Federal de Nutrição, e geralmente quem a defende vende uma longa lista de
exames e suplementos para supostamente balancear os nutrientes do corpo e,
assim, promover o emagrecimento e prevenir doenças.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação
Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) também
já se posicionaram contra a abordagem.
7. Não aceite dietas da moda
Se o influencer oferece um cardápio pronto para ser
seguido à risca por todo mundo e promove dietas da moda, melhor dar unfollow.
A alimentação deve ser individualizada, porque seu
sucesso e segurança dependem de muitos fatores pessoais (peso, idade, estilo de
vida, histórico de saúde, condição socioeconômica…). E qualquer profissional
deve respeitar essas particularidades, inclusive dando voz para que a própria pessoa
tome certas decisões informadas.
8. Nutricionistas não devem prescrever hormônios
Existem alegações sobre o papel de hormônios no
emagrecimento e até a manipulação de versões sintéticas deles para esse fim. Só
que os hormônios devem ser prescritos apenas por médicos – e depois do
diagnóstico de uma condição de saúde que justifique isso.
Os Conselhos Regionais de Nutrição desaprovam a
prática, e há uma lei que proíbe a recomendação de hormônios para fins
estéticos, como prevenir o envelhecimento, até para os médicos.
9. Não existe milagre rápido com o cardápio
Por último, um dos pontos que faz mais sucesso nas
redes. Perder peso rapidamente, secar a barriga, dobrar a massa magra e todas
as promessas de resultados imediatos e impressionantes devem levantar
suspeitas.
Toda mudança do tipo exige intervenções duradouras
no estilo de vida e uma dose de disciplina.
Fonte: https://saude.abril.com.br/alimentacao/9-dicas-para-detectar-fake-news-na-area-da-nutricao/
- Por Chloé Pinheiro - Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital