Os tumores já são a principal causa de morte dos
pets. Mas os tratamentos avançaram muito — e a prevenção também
A situação é conhecida entre nós, humanos: conforme
a expectativa de vida aumenta, certas doenças que não costumavam preocupar
tanto no passado se tornam mais comuns. Com cães e gatos, o raciocínio é
semelhante. Como animais domésticos vivem cada vez mais, ficam propensos a
problemas mais frequentes na velhice, caso do câncer. Um levantamento do
Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo, constatou que, nos últimos
30 anos, a expectativa de vida dos pets atendidos por lá dobrou.
Cães de pequeno porte, por exemplo, passaram de uma
vida média de 9 para 18 anos. Já os felinos chegam fácil a duas décadas na
família. O maior cuidado dos tutores e os progressos no tratamento veterinário
respondem diretamente por esse fenômeno. Mas, como efeito colateral, mais
bichos vivenciam a ameaça e o sofrimento de um tumor.
Calcular a prevalência da doença no mundo animal vem
sendo um desafio. Os números variam de acordo com o local e as condições
sanitárias dos países. Os especialistas apontam, porém, que o câncer já virou a
principal causa de morte entre os animais de estimação em nações desenvolvidas
— e o Brasil parece ir na mesma direção. A percepção tem convocado
profissionais e tutores a realizarem check-ups preventivos e prestarem atenção
em sinais da enfermidade, que variam conforme o tipo e a localização do tumor.
A instrução do veterinário é especialmente
bem-vinda. “É importante observar, apalpar e distinguir o que é normal e o que
não é”, diz Maria Inês Witz, professora de veterinária da Universidade Luterana
do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul.
“Quando escovamos os dentes dos animais, é possível
ver alguma alteração na gengiva ou na língua”, exemplifica a especialista.
Calombos, inchaços e formações estranhas merecem o olhar de um profissional.
O ponto é que nem sempre um câncer dá sinais
visíveis ou se sente em um toque. Daí a necessidade de reparar no comportamento
do bicho. “Febre baixa, vômito, diarreia, falta de apetite frequente… Se não
for detectada outra causa, precisamos investigar a presença de tumores”,
recomenda o veterinário Jair Rodini Engracia Filho, professor da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Além de manter os cuidados e as consultas de rotina,
sobretudo à medida que o pet envelhece, vale a pena saber que algumas
estratégias reduzem o risco de encarar a doença: está comprovado, por exemplo,
que a castração baixa a propensão a câncer de mama, um dos mais comuns em
fêmeas.
É fato, contudo, que nem sempre dá para evitar seu
aparecimento. Por isso, pintando a suspeita, não hesite em procurar o
especialista. “É comum as pessoas acharem que o animal vai melhorar sozinho, e
nessa espera as coisas pioram”, lamenta Maria Inês.
Os tumores mais prevalentes
De mama: muito frequente em gatas e o principal em
cadelas, pode ser prevenido com a castração antes do primeiro cio ou da
maturidade sexual.
De pele: o carcinoma espinocelular e o mastocitoma
se manifestam na pele. Atingem raças de pelagem clara e boxer, pug e labrador.
TVT: é o tumor venéreo transmissível, disseminado
pelo contato (sexo, lambidas…). Se instala em boca, focinho ou genitais.
Leucemia felina: causada pelo retrovírus, lembra
muito a aids em humanos. Por ser de origem viral, pode ser prevenida com uma
vacina.
O tratamento contra o câncer nos dias de hoje
Quando o diagnóstico vem, a notícia triste é
acompanhada também por uma preocupação: e agora? O que posso fazer para ajudar?
“Nos últimos anos, temos percebido uma grande evolução na relação do tutor com
o animal”, observa Engracia Filho.
E ele completa: “Trinta anos atrás a maior parte dos
cães era um animal de proteção da casa. Hoje, é um animal de companhia, e a
pessoa já fica mais atenta a problemas, como nódulos ou o aparecimento de
alguma massa anormal”.
Como ocorre com os humanos, o diagnóstico precoce é
decisivo para um tratamento bem-sucedido. Logo, se ficar intrigado, não demore
em levar o amigo ao veterinário.
Assim como os donos cuidam mais do pet e estão mais
dispostos a desembolsar uma grana para custear tratamentos, a oncologia
veterinária também deu um salto nas últimas décadas. O conhecimento e os
investimentos na área possibilitaram a criação de novas terapias, hoje mais
acessíveis. “O nosso intuito é promover o máximo de bem-estar e sobrevida
possível”, resume o professor da PUC-PR.
Opção usual em um passado não tão distante, a
eutanásia em casos assim pode ser agora a última alternativa, apenas escolhida
quando a qualidade de vida não pode mais ser preservada.
“Infelizmente, muitos tutores ainda esbarram na
dificuldade financeira para arcar com os custos do tratamento, e só vêm
procurar ajuda quando a ação do veterinário já fica muito limitada”, relata o
especialista.
Em casa, além do carinho e da parceria para
enfrentar a doença, uma forma efetiva de ajudar o pet é cuidando da alimentação.
“Uma dieta equilibrada, com o mínimo de conservantes e associada ao tratamento,
minimiza o crescimento dos tumores”, explica Maria Inês.
Entre as mudanças de hábitos alimentares que os
estudos recentes sugerem está a redução de carboidratos — como as células
cancerosas consomem muita energia, uma ingestão limitada reduziria a atividade
delas.
Os estudiosos cada vez mais concordam num ponto: os
cânceres dos pets têm, em geral, muito em comum com os tumores que afetam os
próprios seres humanos. “Os mecanismos da doença são semelhantes entre nós e os
animais”, afirma Engracia Filho.
“Novas pesquisas feitas na medicina humana, como o
reconhecimento e a intervenção em genes ligados ao câncer, também poderão
servir na oncologia veterinária”, acredita o professor.
Pois é, essa é uma área da ciência que se beneficia
das trocas de conhecimento entre saúde humana e animal (e vice-versa). E, para
os pets, é uma retribuição por um companheirismo e uma amizade que não têm
preço.
Quais são principais tratamentos contra o câncer em
animais
Cirurgia: quando há possibilidade de fazê-la, ainda
é o método preferido, já que aumenta a chance de eliminar o tumor por completo.
Quimioterapia: é recomendada quando a cirurgia não é
indicada ou há suspeitas de que ainda existem células do câncer no organismo do
animal.
Radioterapia: tecnologia mais recente na oncologia
veterinária, é oferecida em poucas cidades, geralmente adaptando equipamentos
da medicina humana.
Medicamentos: ainda há poucas opções no mercado, mas
novos remédios vêm sendo testados com sucesso. A aposta está em drogas com ação
precisa.