Fugir deles aliviaria dramaticamente os índices do
segundo problema de saúde que mais causa estragos no planeta - e de seus
sintomas limitantes
Você está prestes a conhecer o maior e mais
importante roteiro sobre como evitar um acidente vascular cerebral (AVC) – e
seus sintomas – já elaborado até agora. É assim que pode ser definido o
InterStroke, estudo publicado no renomado periódico científico The Lancet.
Capitaneado pela Universidade McMaster, no Canadá,
ele reúne informações de 26 mil pessoas de 32 nações diferentes – incluindo o
Brasil. Metade dos indivíduos analisados chegou ao hospital após sofrer o
entupimento ou o rompimento de um vaso sanguíneo que irriga a cabeça. A outra
parcela, por sua vez, não passou por esse baque e serviu de base para a
comparação dos resultados.
A primeira conclusão a chamar a atenção: 90% dos
casos de AVC não ocorreriam se controlássemos dez fatores que lesam as artérias
cerebrais (pressão alta, tabagismo, diabete…). Se isso fosse seguido à risca, o
número de atingidos todos os anos no mundo cairia de 15 milhões para 1,5
milhão. Só em nosso país reduziríamos em 450 mil episódios a taxa anual de
eventos do tipo. É o equivalente a salvar a cada 12 meses um contingente
similar à população de Florianópolis, em Santa Catarina.
O derrame disputa com o infarto a cabeceira no
inglório ranking das doenças que mais matam em todo o globo. Como se não
bastasse, aqueles que sobrevivem ao ataque convivem com uma série de
limitações, como dificuldades para falar e se locomover. “Precisamos
implementar com urgência as medidas de controle sobre esses dez fatores de
risco”, afirma o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo e coordenador do InterStroke em terras brasileiras. A
seguir, você confere detalhes e orientações em relação a cada um dos agentes
promotores do AVC. Evitá-los é primordial para garantir vida longa e funcional
ao cérebro.
1) Hipertensão
Se controlada, diminuiria as taxas de AVC em 47,9%
Ela é disparado o fator de risco campeão. Ajustar a
pressão já faria cair ao meio as estatísticas de AVC. “A hipertensão desgasta e
provoca lesões nas paredes dos vasos”, explica o médico Marcus Malachias,
presidente daSociedade Brasileira de Cardiologia. Imagine uma mangueira
submetida por um bom tempo a uma pressão de água forte. Concorda que uma hora
ela vai corroer e rasgar? Pois é algo parecido o que acontece com as artérias
do cérebro. “Para piorar, 90% dos hipertensos não apresentam sintomas e só 20%
deles estão com os níveis de pressão equilibrados”, alerta Malachias.
O que você pode fazer
Não exagere no sal.
Capriche no consumo de vegetais.
Verifique a pressão de tempos em tempos.
Se for diagnosticado com hipertensão, tome
direitinho os medicamentos prescritos.
2) Sedentarismo
Se controlado, diminuiria as taxas de AVC em 35,8%
Ficar parado por muito tempo é péssimo para a saúde
como um todo. O desdobramento imediato do sedentarismo é o acúmulo das calorias
dos alimentos. Isso vai desembocar em ganho de peso, hipertensão, diabete… Já
percebeu onde vamos parar, não é? Na contramão, investir numa rotina de
atividade física impede esse turbilhão de complicações e, mais importante, tem
efeito direto no sistema vascular. “Quem se exercita com regularidade se
beneficia com a produção de substâncias que evitam a formação de placas de
gordura e aumentam a capacidade de o vaso contrair e relaxar”, justifica a
neurologista Gisele Sampaio, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital
paulista.
O que você pode fazer
Escolha um esporte que lhe dê prazer.
Crie uma programação semanal de treinos.
Busque suporte de profissionais de educação física
para ter orientações.
Se persistência for seu fraco, forme grupos para
suar a camisa. Assim um anima o outro.
3) Colesterol alto
Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 26,8%
“O LDL e os outros tipos do colesterol ruim são os
principais responsáveis pelo surgimento de placas que obstruem os vasos”, avisa
o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Unidade Clínica de Lípides do
Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Segundo o médico, ainda restavam
poucas dúvidas sobre o papel do excesso de gorduras na probabilidade de um AVC
dar as caras – e a nova publicação acaba com qualquer inquietação.
Curiosamente, os estudiosos não mediram no trabalho o LDL e o HDL dos
voluntários. Eles preferiram usar a diferença entre a apolipoproteína B (ApoB)
e a apolipoproteína A1 (ApoA1), partículas de proteína ligadas ao colesterol
(entenda as razões à direita).
O que você pode fazer
Maneire nos alimentos gordurosos ou cheios de
açúcar.
Faça checkups para ver a quantas anda o seu
colesterol todos os anos.
Se o médico decidir lançar mão de remédios como as
estatinas para abaixar os níveis, siga rigorosamente o tratamento.
4) Dieta ruim
Se controlada, diminuiria a taxa de AVC em 23,2%
Junto com a atividade física, a alimentação
constitui o pilar fundamental de uma vida saudável. “Alguns nutrientes, como o
ômega-3 dos peixes e das nozes, têm ação nas artérias, preservando-as de
processos inflamatórios e da formação de coágulos”, exemplifica a nutricionista
Rosana Perim, do Hospital do Coração, em São Paulo. O estudo tomou como base de
uma dieta ideal o Alternate Healthy Eating Index, roteiro criado nos Estados
Unidos que traz recomendações gerais de nutrição. Dá pra conferir as suas
premissas à direita.
O que você pode fazer
O novo guia separa em três partes as diretrizes
alimentares
Consumir seis componentes com frequência:
Verduras
Frutas
Grãos integrais
Castanhas
Legumes
Ômega-3
Usufruir de um item de forma moderada:
Álcool
Ingerir com muita moderação:
Bebidas açucaradas
Carne vermelha e processada
Gordura trans
Sódio
5) Obesidade
Se controlada, diminuiria a taxa de AVC em 18,6%
Os quilos extras andam de mãos dadas com
hipertensão, colesterol nas alturas, diabete… “Fora que a obesidade central,
quando a gordura se acumula na região da barriga, é particularmente nociva
porque libera substâncias perigosas para as artérias”, informa Malachias. No
InterStroke, para saber se um voluntário estava acima do peso, foi levada em
conta a relação cintura-quadril, uma medida simples e fácil de ser feita. “Ela
é mais fidedigna que o popular índice de massa corporal, o IMC”, compara
Malachias.
O que você pode fazer
Aprenda a calcular sua relação cintura-quadril: com
uma fita métrica, meça o diâmetro de sua cintura, perto da altura do umbigo.
Repita o procedimento para obter o tamanho do quadril, nas nádegas. Divida o
primeiro valor pelo segundo. Números maiores que 0,8 para mulheres e 0,9 para
homens são sinal de encrenca. Atenção: as brasileiras costumam ter o quadril
largo, o que confundiria os prognósticos.
Se preciso, peça ajuda de um expert para emagrecer.
6) Estresse
Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 17,4%
Tensão exacerbada e transtornos como ansiedade e
depressão figuram em sexto lugar no ranking dos malfeitores. “O InterStroke
considerou como o estresse abala o sujeito em quatro domínios: família,
sociedade, trabalho e finanças”, descreve Avezum. A partir de entrevistas, os
autores chegavam à conclusão de como se encontrava o bem-estar mental de cada
um. Isso é significativo porque há uma relação direta entre nervosismo
constante e alterações circulatórias capazes de gerar uma pane cerebral. “No
sentido contrário, quem é espiritualizado e calmo possui um risco menor de
enfrentar o problema”, nota Sheila Martins. Motivo extra para descansar e
esfriar a cabeça de uma vez por todas.
O que você pode fazer
Reserve um horário de seu dia para fazer coisas que
deem prazer e alegria.
Não consegue se desligar? Que tal apostar em
técnicas como a meditação e o mindfullness?
7) Tabagismo
Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 12,4%
Eis um vilão antigo e que ainda cobra campanhas. O
cigarro lesa a camada interna dos vasos, deixa os tubos sanguíneos mais
estreitos e acelera o aparecimento de placas de gordura – quadro propício para
infartos e AVCs. “Felizmente, o hábito de fumar vem diminuindo bastante no
Brasil nos últimos anos, graças ao movimento de conscientização e às novas
leis”, comemora Sheila.
O que você pode fazer
Existem diversos métodos e até remédios que auxiliam
a largar o vício.
Elabore uma lista com fatos decisivos para desistir
do tabaco. Assim, fica mais fácil resistir se vier a tentação de voltar.
Grupos de apoio apaziguam as aflições da
abstinência.
8) Doenças cardíacas
Se controladas, diminuiriam a taxa de AVC em 9,1%
A arritmia, distúrbio em que as batidas do coração
ficam fora de ritmo, dáum incentivo danado para o surgimento de coágulos. “E,
algumas vezes, eles viajam até o cérebro e causam AVC”, relata o neurologista
Márcio Bezerra, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Para evitar
essa repercussão, pessoas diagnosticadas com a condição necessitam engolir
alguns comprimidos, como anticoagulantes.
O que você pode fazer
Visite o cardiologista de tempos em tempos. Um
simples eletrocardiograma é suficiente para flagrar arritmias.
Uma vez que a falha no peito é detectada, converse
com o doutor sobre os recursos terapêuticos disponíveis.
9) Alcoolismo
Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 5,8%
“Em pequenas quantidades diárias, o que significa no
máximo uma taça de vinho, as bebidas levam a um relaxamento dos vasos”, adianta
Rosana Perim. Se exceder no álcool, porém, dá-lhe encrenca. “As artérias ficam
mais apertadas e rígidas, o que dificulta e até trava o transporte de
nutrientes”, completa a nutricionista. O recado, mais uma vez, é moderação: fique
esperto e nada de abusar dos drinques. Caso não tenha o costume de beber, não
há necessidade de criar o hábito pensando em saúde.
O que você pode fazer
Maneire nas doses
Se for o caso, converse com um profissional
10) Diabete
Se controlado, diminuiria a taxa de AVC em 3,9%
O relato dos participantes e o exame de hemoglobina
glicada (que mostra a variação nas taxas de açúcar de três meses)serviram para
determinar quem era diabético. Mas a influência desse problema no risco de AVC
ficou abaixo do esperado, o que gerou estranheza. “Sabemos que o diabete faz
subir o risco de lesões nos vasos, mas talvez seu peso seja inferior ao da
pressão e do colesterol”, reflete o cardiologista Otavio Gebara, diretor médico
do Hospital Santa Paula, na capital paulista.
O que você pode fazer
Seja comedido nos doces e nos carboidratos em geral.
Adotar uma vida ativa mantém a glicose dentro dos
parâmetros saudáveis.
A glicemia de jejum precisa sempre estar menor que
99 mg/dl. Entre 100 e 125 mg/dl é pré-diabete. Acima de 126 mg/dl já se
instalou a doença.
Se for diabético, monitore a glicemia e siga o
esquema terapêutico.
O papel do ambiente
Outro estudo de peso recém-publicado no The Lancet
foi o Global Burden Disease, que fez uma análise da mortalidade de uma série de
enfermidades pelo mundo. E os dados apontam que 29% dos casos de AVC são
atribuíveis à poluição. De 1990 a 2013, houve um aumento de 33% na atuação das
partículas tóxicas como estopins de derrames. O combate à poluição é crucial
inclusive à saúde pública.
Como socorrer alguém que teve um derrame?
A dica é ficar atento aos sinais. “Entre eles,
destacam-se perda de força e dormência nos membros, dificuldade para enxergar
ou se comunicar, tontura, falta de equilíbrio e dor de cabeça súbita e
insuportável”, enumera a neurologista Sheila Martins, do Hospital Moinhos de
Vento, em Porto Alegre. Se você notar alguns deles, ligue para o serviço de
emergência. O atendimento rápido poupa vidas e a maioria das sequelas graves.
Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/conheca-10-fatores-de-risco-para-o-avc/
- Por André Biernath - iS/iStock
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