Levantamento realizado no Rio de Janeiro mostra que
mulheres flagram a doença apenas quando sentem caroços ou outras alterações nos
seios. Por quê?
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou uma
pesquisa com 405 pacientes cariocas com tumores nas mamas. Os dados apontam que
66,2% detectaram o problema sozinhas, ao perceber que algo não estava bem no
peito. Os principais sintomas relatados foram presença de caroços (89,6% das
vezes), seguido por dores (20,9%), alterações na pele (7,1%), saída de secreção
no mamilo (5,6%), mudanças no formato da mama (3,7%) e outras alterações no
mamilo (2,6%).
A mamografia e outros métodos de imagem só revelaram
a enfermidade em 30,1% das mulheres, enquanto 3,7% receberam o diagnóstico na
consulta com o médico. Se por um lado isso reforça a importância de ficar
atento aos sinais que o corpo dá, por outro denuncia a falta de estrutura
básica para atender a população no sistema público de saúde — mesmo que seja
para realizar testes de checkup importantes para encontrar doenças em seus
estágios iniciais. Veja: o autoexame geralmente só é capaz de notar nódulos e
malformações que já ultrapassaram 1 centímetro de extensão, o que complica o
tratamento e reduz as chances de sucesso.
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) divulgou
uma nota com uma análise dos achados desse estudo — segundo ela, a alta taxa de
diagnósticos feitos pelo toque nos seios decorre do baixo acesso às
mamografias. “Em seus estudos, a Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia, em
conjunto com a SBM, mostra que menos de 25% das mulheres entre 50 e 69 anos
fizeram a mamografia pelo Sistema Único de Saúde em 2015”, afirma o
informativo. “O Estado não pode repassar à brasileira o ônus de sua inoperância
na realização de mamografias”. A entidade reforça ainda que passar pelo exame é
um direito constitucional de todas aquelas que passaram dos 40 anos.
Atualmente, existe uma grande polêmica sobre a idade
ideal para começar a se submeter a mamografia, o método mais indicado para
diagnosticar a doença em sua fase inicial. Enquanto o Inca e a Organização
Mundial da Saúde estabelecem que mulheres entre 50 e 69 anos precisam passar
pelo checkup a cada dois anos, a SBM, a Sociedade Brasileira de Radiologia e a
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia acreditam que
o teste deva ser iniciado antes, a partir dos 40 anos — e uma vez a cada 12
meses. As recomendações mudam se há histórico de câncer de mama na família: aí
é importante passar pelo laboratório mais cedo. Diante da controvérsia,
consulte seu médico para saber quando pedir a avaliação.
Confira abaixo a nota completa da Sociedade
Brasileira de Mastologia
A Sociedade Brasileira de Mastologia reitera que a
mamografia no Brasil é um direito de toda mulher acima dos 40 anos de idade.
Deve ser lembrado que a mamografia não funciona isoladamente e, eventualmente,
pode falhar. Ainda assim, é o único método que demonstrou reduzir a mortalidade
por câncer de mama.
Os casos que acontecem no Brasil, nos quais a mulher
descobre o seu próprio nódulo, se deve ao baixo índice de acessibilidade à
mamografia pelo SUS. O Estado não pode repassar à mulher brasileira o ônus de
sua inoperância na realização de mamografias. O baixo número desses exames realizado
no Rio de Janeiro pelo SUS em 2015 (15,3%), em mulheres de 50 a 69 anos,
demonstra que elas não estão tendo seu direito garantido, apesar da lei. É isso
que reflete a pesquisa anunciada pelo INCA, ou seja, por não fazerem
mamografia, as mulheres detectam o câncer pelo autoexame.
Em seus estudos, a Rede Goiana de Pesquisa em
Mastologia, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Mastologia, mostra que
menos de 25% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram mamografia pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) em 2015.
Os estudos também confirmam as pesquisas divulgadas
no Canadá e no Reino Unido, que revelam que a mamografia realizada entre 40 e
49 anos pode reduzir a mortalidade, considerando que, se feita anualmente, pode
oferecer maior chance de cura e maior sobrevida para as mulheres que tiveram o
infortúnio de desenvolver câncer de mama.
Hoje, ¼ das 58 mil mulheres que desenvolverão o
câncer de mama no Brasil neste ano estarão entre 40 e 49 anos. Considerando que
é um direito constitucional da mulher brasileira fazer a mamografia, a SBM
recomenda que o exame mamográfico seja feito anualmente a partir dos 40 anos. E
mais. Recomenda que a mulher possa e deva se autoexaminar, uma vez que conhecer
o próprio corpo faz parte da obrigação de cada indivíduo. Esses fatos mostram
que é fundamental o estado prover mamografia para todas as mulheres acima de 40
anos e que pontes possam ser construídas evitando que o peso recaia sobre os
ombros da mulher brasileira.
Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/maioria-das-brasileiras-so-descobre-o-cancer-de-mama-no-autoexame-diz-estudo/
- Por André Biernath - Rogerio Maroja
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