Não dá para zerar o risco de uma lesão no esporte.
Saiba o que fazer diante de um revés do tipo para retomar os exercícios quanto
antes — e com segurança
O corpo não se adapta por igual ao esforço físico.
Enquanto coração e pulmões ganham condicionamento com relativa facilidade — o
que resulta em fôlego extra —, músculos, tendões, ligamentos e ossos levam mais
tempo para ficar firmes e fortes. Não à toa, é comum a pessoa achar que está
cheia de gás e acabar passando do ponto. “As lesões surgem em qualquer um, mas
o risco é maior em quem dá um passo maior do que a perna sem um preparo
adequado”, contextualiza o ortopedista Arnaldo Hernandez, chefe do Grupo de
Medicina do Esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Apesar de não existir um levantamento nacional do
número de brasileiros que se machucam durante o esporte, pesquisas menores
estimam que ele é alto. “No futebol, 15% dos praticantes se lesionarão uma vez
na vida. Já na corrida, a prevalência varia entre 15 e 20%”, calcula o médico
Moisés Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Para piorar, quem se contunde fica suscetível a um
novo acidente de percurso. Segundo uma revisão de estudos publicada no British
Journal of Sports Medicine, indivíduos com histórico de ossos quebrados na
perna ou uma lesão no tendão de aquiles apresentam maior risco de problemas
futuros no tornozelo.
“Outro trabalho mostra que corredores que sofreram
uma fratura por estresse [provocada por impactos repetitivos] têm uma
probabilidade quatro a cinco vezes maior de manifestar outro episódio”, cita
Hernandez.
Além das dores e limitações de movimento, quadros
graves que não são bem cuidados podem levar ao sedentarismo. Cerca de 10 a 15%
dos esportistas que romperam o ligamento cruzado anterior do joelho abandonam a
vida ativa, de acordo com dados do Anterior Cruciate Ligament Study Group, uma
iniciativa global voltada para pesquisas sobre essa estrutura do corpo.
Daí a importância de realizar um tratamento
adequado, que o faça voltar a se divertir com sua modalidade favorita.
Quais são as lesões mais comuns
Estiramento: é uma ruptura muscular por causa de
esforços intensos que gera bastante desconforto. Nos casos mais severos,
hematomas e perda de força dão as caras.
Entorse: torções das articulações geralmente se
concentram no tornozelo. Irregularidades do terreno, desatenção e choques estão
por trás dessa chateação.
Tendinopatia: Pode ser a inflamação ou o desgaste de
um tendão. Ela surge pelo excesso de carga ou de repetição de movimentos. Ou,
ainda, pela falta de fortalecimento.
Os problemas mais graves ligados ao exercício
Ligamento rompido: o quadro é sério quando atinge
estruturas que estabilizam um movimento. Exemplo: a ruptura do ligamento
cruzado anterior do joelho dificulta mudanças de direção. Por isso, em geral
exige cirurgia.
Ruptura dos tendões: pancadas e esforços excessivos
podem dividir um tendão em dois, o que também costuma ser remendado com
bisturi.
Fratura: é quando o osso quebra em decorrência de
uma agressão ou por sobrecargas contínuas, como as passadas de uma corrida.
O que fazer quando você se lesiona
O processo de reabilitação depende da gravidade do
machucado, do tratamento, do organismo de cada um… “Em geral, casos cirúrgicos
precisam de seis a oito meses para uma recuperação completa. Já os não
cirúrgicos tendem a demorar menos”, explica Alexandre Godoy, ortopedista da
Universidade de São Paulo (USP).
De qualquer maneira, existe um certo roteiro a ser
seguido, que inicia com o protocolo Price. Em inglês, a sigla remete a cinco
estratégias que devem ser cumpridas logo após o acidente para minimizar
estragos, principalmente nas primeiras 48 horas.
São elas: proteger a região, interromper o
exercício, fazer compressas de gelo e manter o membro elevado. Em paralelo, é
mandatório visitar o médico para firmar o diagnóstico correto.
A partir daí, o profissional vai personalizar o
tratamento. Mas uma coisa é certa: das encrencas leves às graves, a
fisioterapia costuma entrar em cena. Ela ajuda a recuperar a força, o
alongamento e a amplitude de movimento das estruturas afetadas.
“As sessões também envolvem exercícios que simulam a
movimentação no esporte praticado”, relata Marcus Vinicius Grecco, educador
físico e fisioterapeuta do Hospital das Clínicas da capital paulista.
Há vários manuais médicos que orientam sobre a recuperação
de lesões específicas. De modo geral, todos preconizam que o sujeito só volte a
se exercitar quando apresentar uma cicatrização completa, sem sinais de inchaço
ou dor.
Ele também deve ter restabelecido a função da área
comprometida, a força muscular e os reflexos de maneira geral. “Para avaliar
isso, testes são conduzidos pela equipe que acompanha o caso”, aponta Adriano
Almeida, médico do esporte e ortopedista da USP.
Até o estado mental da pessoa merece atenção. Às
vezes o físico já está ok, porém a cabeça segue cheia de inseguranças que
culminam em sedentarismo.
“Sessões de psicoterapia resgatam a confiança com
uma abordagem positiva sobre a evolução no tratamento”, sugere a psicóloga do
esporte Fernanda Bolzan Carneiro, que atende na região metropolitana de São
Paulo.
No mais, receber alta não dá aval para o corredor
que ficou parado por meses já se inscrever em uma maratona. Será necessário
progredir gradualmente, dando espaço a atividades de fortalecimento e
alongamento do corpo como um todo. Além disso, treinos específicos voltados
para evitar a reincidência da lesão seguem primordiais.
“O paciente que teve uma tendinopatia, por exemplo,
deverá controlar a carga de treinamento e fortalecer o tendão com exercícios
que alongam os músculos”, ilustra Paulo Roberto Szeles, ortopedista e
coordenador da residência de Medicina Esportiva da Universidade Federal de São
Paulo.
Já um abalo no ligamento cruzado anterior do joelho
vai exigir um esforço adicional para fortificar a perna. Com isso, os músculos
resguardam a região contra um novo perrengue. Pior do que se contundir uma vez
é voltar ao estaleiro após umas míseras sessões da sua modalidade predileta.
Não é só a lesão que afasta do esporte
Mudança de cidade, períodos de muito trabalho,
nascimento de um filho… Estão aí outros motivos comuns para cair no
sedentarismo. Isso é até normal, desde que você busque reincorporar a atividade
física na agenda assim que se ajustar à nova rotina.
“Costumo dizer que leva três vezes mais tempo para
ganhar condicionamento físico do que para perder”, diz o ortopedista Paulo
Roberto Szeles.
Fora isso, a regra de voltar aos poucos também vale
aqui. “A carga deve ser aumentada apenas em 10 a 15% a cada três ou quatro
semanas para que as estruturas do corpo se adaptem”, orienta o educador físico
e fisioterapeuta Marcus Vinicius Grecco.
Para exemplificar, se você correu 5 quilômetros,
dali a 30 dias estaria liberado para uma sessão de 5,75. Parece uma evolução
lenta, mas em alguns meses você chegará aonde deseja.
Fonte: https://saude.abril.com.br/fitness/como-voltar-a-ativa-apos-uma-lesao/
- Por Diana Cortez - Ilustrações: Giovani Flores/SAÚDE é Vital