Com foco em saúde e sustentabilidade ambiental, pesquisadores americanos conseguiram quantificar como as opções alimentares afetam a duração da vida de cada um
Comer mais frutas e vegetais pode ter um impacto
significativo na saúde de uma pessoa - e na do planeta também. Crédito: Pikrepo
As opções vegetarianas e veganas se tornaram o padrão
na dieta americana, de restaurantes sofisticados a redes de fast-food. E muitas
pessoas sabem que as escolhas alimentares que fazem afetam sua própria saúde,
bem como a do planeta.
Mas, diariamente, é difícil saber o quanto as escolhas
individuais, como comprar verduras no supermercado ou pedir asinhas de frango
em um bar, podem se traduzir na saúde geral pessoal e ambiental. Essa é a
lacuna que esperamos preencher com nossa pesquisa.
Fazemos parte de uma equipe de pesquisadores com
experiência em sustentabilidade alimentar e avaliação do ciclo de vida
ambiental, epidemiologia e saúde ambiental e nutrição. Estamos trabalhando para
obter uma compreensão mais profunda, além do debate, muitas vezes
excessivamente simplista, da dieta animal versus vegetal e para identificar
alimentos ambientalmente sustentáveis que também promovam a saúde humana.
Com base nessa experiência multidisciplinar,
combinamos 15 fatores de risco dietéticos baseados na saúde nutricional com 18
indicadores ambientais para avaliar, classificar e priorizar mais de 5.800
alimentos individuais.
Em última análise, queríamos saber: são necessárias
mudanças drásticas na dieta para melhorar nossa saúde individual e reduzir os
impactos ambientais? E toda a população precisa se tornar vegana para fazer uma
diferença significativa para a saúde humana e do planeta?
Colocando números
Em nosso novo estudo na revista científica Nature
Food, fornecemos alguns dos primeiros números concretos para a carga de saúde
de várias escolhas alimentares. Analisamos os alimentos individuais com base em
sua composição para calcular os benefícios ou impactos líquidos de cada item
alimentar.
O Índice Nutricional de Saúde que desenvolvemos
transforma essas informações em minutos de vida perdidos ou ganhos por porção
de cada alimento consumido. Por exemplo, descobrimos que comer um
cachorro-quente custa a uma pessoa 36 minutos de vida “saudável”. Em
comparação, descobrimos que comer uma porção de 30 gramas de nozes e sementes
proporciona um ganho de 25 minutos de vida saudável – ou seja, um aumento na
expectativa de vida de boa qualidade e livre de doenças.
Nosso estudo também mostrou que substituir apenas 10%
da ingestão calórica diária de carne bovina e carnes processadas por uma
mistura diversa de grãos inteiros, frutas, vegetais, nozes, legumes e frutos do
mar selecionados poderia reduzir, em média, a pegada de carbono na dieta de um
consumidor americano por um terço e adicionar 48 minutos saudáveis de vida
por dia. Esta é uma melhoria substancial para uma mudança tão limitada na
dieta.
Posições relativas de alimentos selecionados, de maçãs
a cachorros-quentes, são mostradas em um mapa pegada de carbono x saúde
nutricional. Alimentos com boa pontuação, mostrados em verde, têm efeitos
benéficos na saúde humana e uma baixa pegada ambiental. Crédito: Austin
Thomason/Michigan Photography e Universidade de Michigan, CC BY-ND
Como calcular?
Baseamos nosso Índice Nutricional de Saúde em um
grande estudo epidemiológico denominado Global Burden of Disease, um estudo
global e banco de dados abrangente desenvolvido com a ajuda de mais de 7 mil
pesquisadores em todo o mundo. O Global Burden of Disease determina os riscos e
benefícios associados a vários fatores ambientais, metabólicos e
comportamentais – incluindo 15 fatores de risco dietéticos.
Nossa equipe pegou esses dados epidemiológicos de
nível populacional e os adaptou para o nível de alimentos individuais. Levando
em consideração mais de 6 mil estimativas de risco específicas para cada idade,
sexo, doença e risco, e o fato de que há cerca de meio milhão de minutos em um
ano, calculamos o fardo para a saúde que vem com o consumo de um grama de
comida para cada um dos fatores de risco dietéticos.
Por exemplo, descobrimos que, em média, 0,45 minuto é
perdido por grama de qualquer carne processada que uma pessoa come nos Estados
Unidos. Em seguida, multiplicamos esse número pelos perfis alimentares
correspondentes que desenvolvemos anteriormente. Voltando ao exemplo do
cachorro-quente, os 61 gramas de carne processada em um sanduíche de
cachorro-quente resultam em 27 minutos de vida saudável perdidos devido apenas
a essa quantidade de carne processada. Então, ao considerar os demais fatores
de risco, como o sódio e os ácidos graxos trans dentro do cachorro-quente –
contrabalançados pelo benefício de sua gordura poli-insaturada e fibras –,
chegamos ao valor final de 36 minutos de vida saudável perdidos por
cachorro-quente.
Repetimos esse cálculo para mais de 5.800 alimentos e
pratos mistos. Em seguida, comparamos as pontuações dos índices de saúde com 18
métricas ambientais diferentes, incluindo pegada de carbono, uso da água e
impactos na saúde humana induzidos pela poluição do ar. Por fim, usando essa
conexão saúde e meio ambiente, codificamos por cores cada item alimentar como
verde, amarelo ou vermelho. Como um semáforo, os alimentos verdes têm efeitos
benéficos à saúde e baixo impacto ambiental e devem ser aumentados na dieta,
enquanto os vermelhos devem ser reduzidos.
Para onde vamos daqui?
Nosso estudo nos permitiu identificar certas ações
prioritárias que as pessoas podem realizar para melhorar sua saúde e reduzir
sua pegada ambiental.
Quando se trata de sustentabilidade ambiental,
encontramos variações surpreendentes tanto dentro como entre alimentos de
origem animal e vegetal. Para os alimentos “vermelhos”, a carne bovina tem a
maior pegada de carbono em todo o seu ciclo de vida – duas vezes mais alta que
a carne de porco ou cordeiro e quatro vezes a de aves e laticínios. Do ponto de
vista da saúde, eliminar a carne processada e reduzir o consumo geral de sódio
proporciona o maior ganho de vida saudável em comparação com todos os outros
tipos de alimentos.
Portanto, as pessoas podem considerar ingerir menos
alimentos com alto teor de carne bovina e processada, seguidos de carne de
porco e cordeiro. E, notavelmente, entre os alimentos à base de plantas, os
vegetais cultivados em estufa tiveram uma pontuação baixa nos impactos
ambientais devido às emissões de combustão originárias do aquecimento.
Os alimentos que as pessoas podem considerar aumentar
são aqueles que têm altos efeitos benéficos para a saúde e baixo impacto
ambiental. Observamos muita flexibilidade entre essas opções “verdes”,
incluindo grãos inteiros, frutas, vegetais, nozes, legumes e peixes e frutos do
mar de baixo impacto ambiental. Esses itens também oferecem opções para todos
os níveis de renda, gostos e culturas.
O consumo de carne bovina teve os maiores impactos
ambientais negativos, e a carne processada teve os efeitos adversos gerais à
saúde mais importantes. Crédito: Pikrepo
Outros fatores importantes
Nosso estudo também mostra que, quando se trata de
sustentabilidade alimentar, não basta considerar apenas a quantidade de gases
de efeito estufa emitidos – a chamada pegada de carbono. Técnicas de economia
de água, como irrigação por gotejamento e reutilização de água cinza – ou águas
residuais domésticas, como as de pias e chuveiros – também podem representar
passos importantes para reduzir a pegada hídrica da produção de alimentos.
Uma limitação de nosso estudo é que os dados
epidemiológicos não nos permitem diferenciar dentro do mesmo grupo de
alimentos, como os benefícios para a saúde de uma melancia versus uma maçã.
Além disso, os alimentos individuais sempre precisam ser avaliados dentro do
contexto da dieta individual de cada um, considerando o nível máximo acima do
qual os alimentos não são mais benéficos – não se pode viver para sempre apenas
aumentando o consumo de frutas.
Adaptações regulares
Ao mesmo tempo, nosso Índice Nutricional de Saúde tem
potencial para ser adaptado regularmente, incorporando novos conhecimentos e
dados à medida que se tornam disponíveis. E pode ser customizado no mundo todo,
como já foi feito na Suíça.
Foi encorajador ver como pequenas mudanças
direcionadas poderiam fazer uma diferença significativa tanto para a saúde
quanto para a sustentabilidade ambiental – uma refeição por vez.
** Este artigo foi republicado do site The
Conversation sob uma licença Creative Commons.
Fonte: https://www.revistaplaneta.com.br/escolhas-alimentares-podem-somar-ou-tirar-de-minutos-a-anos-de-vida/
- Texto: Olivier Jolliet e Katerina S. Stylianou | The Conversation