Liberação de algumas atividades pode gerar falsa sensação de segurança na pandemia
Desde a identificação do novo coronavírus na China,
diversas cidades do mundo adotaram um regime de quarentena como forma de
controle da transmissão do SARS-CoV-2 entre a população. No Brasil, a medida
foi adotada por governos estaduais e municipais desde março, quando houve o
diagnóstico do primeiro paciente com a doença em São Paulo.
Mais de seis meses depois que a pandemia de COVID-19
chegou ao país, várias cidades começaram a flexibilizar as regras de isolamento
social. Consequentemente, houve a liberação de algumas atividades dentro das
regras de distanciamento, como a reabertura de restaurantes, bares, academias e
salões de beleza - que até então era proibida.
De acordo com Paula Massaroni Peçanha Pietrobom,
infectologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, as medidas de flexibilização
levam em conta diversos fatores, como a questão econômica do país, a
necessidade da população de retomar sua vida social, mas, principalmente, as
evidências que mostram mais segurança para iniciar essa retomada do isolamento
rigoroso que estava sendo proposto.
"Hoje, temos uma taxa de transmissão do vírus
menor no Brasil. Além disso, temos também uma queda no número de internações e
óbitos - já conseguimos fechar hospitais de campanha sem ter um colapso ou
desassistência no sistema de saúde", pontua a médica.
Atualmente, a taxa de transmissão do coronavírus
(Rt) é de 0,93, segundo o Imperial College. O parâmetro utilizado para o índice
é o número 1: quando a taxa fica acima de 1, a quantidade de pessoas doentes
com potencial de transmissão aumenta exponencialmente; e quando a taxa fica
abaixo de 1, ocorre o contrário. Na prática, isso significa que a cada 100
pessoas com COVID-19, outras 93 pessoas podem ser contaminadas com o vírus.
Em abril, o Brasil estava em situação pior. Com um
Rt de 2,81, o país era o local com a maior taxa de transmissão de COVID-19 no
mundo. Apesar da melhoria no cenário da doença no país, é importante que a
população não se iluda com a falsa sensação de segurança.
Isso porque o coronavírus ainda é uma realidade e
não deve ser negligenciado. "Estamos vivendo ainda em um momento de
alerta, e isso deve perdurar até a garantia de uma imunização efetiva para
grande parte da população ou, pelo menos, para grupos de maior risco. O
problema ainda não está resolvido", alerta Paula.
Flexibilizar a quarentena aumenta a transmissão?
Com a flexibilização, uma das dúvidas que surgiram é
sobre a possibilidade de haver um aumento de casos e da transmissão de COVID-19
entre a população. Segundo Paula, esta não é uma possibilidade a ser
descartada.
"A flexibilização aumenta a possibilidade de
transmissão, porque as pessoas estarão se encontrando mais. Porém, ao conviver,
se a população respeitar o uso de máscara, o distanciamento social e a higiene
correta das mãos, conseguiremos reduzir bastante este risco", afirma a
médica.
Uma vez que a retomada das atividades é uma
realidade, algumas práticas devem ser consideradas no dia a dia. De acordo com
a infectologista, independente do ambiente que a pessoa for frequentar, a regra
ainda é manter o distanciamento de, no mínimo, 1,5 metro entre as pessoas, usar
máscaras durante todo o período de convivência, higienizar as mãos de forma
adequada e evitar tocar a área do rosto, principalmente em ambientes públicos.
Veja a seguir como se adaptar ao momento de
flexibilização e, ao mesmo tempo, manter-se seguro contra o coronavírus:
Momentos de lazer
Quando for aproveitar momentos de lazer durante a
pandemia, a recomendação é priorizar atividades ao ar livre, principalmente em
parques. "Isso porque há uma ventilação maior, o que diminui o risco de
contaminação", explica Paula.
Restaurantes e bares
Quando a opção de lazer for em ambientes fechados,
como restaurantes e bares, é importante seguir as medidas de segurança. Além
disso, vale também observar se o estabelecimento mantém os espaços entre as
mesas e capacidade reduzida.
"No momento da escolha da mesa, o ideal é optar
por espaços abertos e ventilados. Por último, lembrar de tirar a máscara
somente na hora de comer e higienizar as mãos sempre que possível",
aconselha a médica.
Visitar amigos e parentes
Embora muitas pessoas tenham voltado a visitar
parentes e amigos, essa atividade, assim como festas em casa, ainda não é
indicada. "O cenário de ambiente fechado, com pessoas compartilhando o
mesmo ar, é arriscado, pois é difícil o uso de máscara nestas situações",
afirma a médica.
Outro ponto levantado pela infectologista é o risco
de jovens disseminarem o vírus para pessoas mais velhas. "Atualmente,
temos uma infecção maior entre jovens e, por mais que neste grupo as reações
tendem a ser menos graves, permanece a possibilidade desta pessoa infectar
outra com um quadro de saúde mais debilitado, que pode não reagir tão bem à
doença", diz Paula.
Viagens
O conselho, no momento, é evitar viagens muito
longas, especialmente aquelas feitas em ônibus e avião. "Esses meios de
transporte não possuem circulação de ar adequada e há uma proximidade grande
com outras pessoas - portanto, um cenário propício à infecção, ainda mais se
for uma viagem longa. Caso seja uma necessidade, priorize locais mais próximos,
em que o deslocamento possa ser feito de carro com as pessoas que já vivem na
mesma casa - e, se possível, com as janelas abertas", orienta a médica.
Caso a viagem seja inadiável, é recomendado
verificar se o destino obedece as medidas de segurança, como a redução de
pessoas no mesmo ambiente e a restrição de atividades que podem gerar
aglomeração. E, se for passear por lá, é importante deixar para visitar apenas
os espaços abertos.
Volta ao trabalho
Ao longo da pandemia, algumas atividades foram
remanejadas para o lar do trabalhador (enquanto os serviços essenciais não
interromperam seu funcionamento). Porém, com a flexibilização, o movimento de
retorno aos escritórios tende a ser cada vez maior. "Por vezes, essa
retomada não é uma escolha do trabalhador. Se existe a opção de home office,
ela ainda é a mais adequada e segura", afirma Paula.
Quando o home office não é uma realidade, a
infectologista recomenda algumas ações que podem diminuir o risco de
contaminação. "A empresa precisa oferecer um ambiente com distanciamento
social ou em esquema de turnos para evitar aglomeração, assim como materiais
necessários para a higiene correta e, sem dúvidas, fiscalizar o uso de
máscaras", indica.
Além disso, de acordo com a especialista, um momento
crucial que deve ser pensado é o da refeição. "Isso porque é preciso
evitar o costume de comer todos juntos, por ser um período que todos estarão
sem máscara", considera a médica.
Paula também avalia a importância de haver uma
comunicação entre trabalhadores e empresa para que haja a notificação de qualquer
sintoma de COVID-19. "Assim, conseguimos uma avaliação rápida e minimiza a
chance de contaminação de outros funcionários", esclarece.
Fonte: https://www.minhavida.com.br/saude/materias/36873-relaxamento-do-isolamento-pode-aumentar-casos-de-covid-19
- Escrito por Maria Beatriz Melero