sábado, 18 de janeiro de 2020

Depressão, remédios e mais: conheça os fatores ligados à enxaqueca crônica


Uma revisão de estudos mostra o que realmente prediz o risco desse tipo de dor de cabeça se instalar de vez na rotina

Enquanto há pessoas que têm uma ou outra crise de enxaqueca no ano, outras sofrem com essas dores de cabeça em mais de 15 dias do mês. Essas últimas são as vítimas da enxaqueca crônica. Mas, de pouco sono a muito café, o que faz um indivíduo com episódios esporádicos do problema passar a enfrentá-los com tanta frequência? É o que responde um estudo publicado recentemente no periódico Cephalalgia, da Sociedade Internacional de Cefaleia.

O trabalho elenca cinco fatores de risco para desenvolver a enxaqueca crônica entre quem já manifesta incômodos ocasionais. Trata-se de uma meta-análise, ou seja, uma revisão criteriosa de pesquisas anteriores sobre um tema. De quase 6 mil artigos publicados sobre esse tipo de dor de cabeça, só 11 foram escolhidos. Excluindo os levantamentos enviesados ou de menor qualidade, os cientistas chegaram aos seguintes vilões:

Depressão
O transtorno psiquiátrico, historicamente ligado à dor de cabeça, aumenta a chance de uma enxaqueca episódica virar crônica em 58%.

Crises frequentes de enxaqueca
Veja: indivíduos que apresentam cinco ou menos dias de dor de cabeça por mês já correm um risco três vezes maior de desenvolver enxaqueca crônica. Mas conviver com as dores de cinco a dez dias eleva em seis vezes a probabilidade de cronificar o problema.
Na prática, essa frequência já é parecida com a da versão crônica, que, aliás, traz um grande impacto na vida emocional e nas funções cotidianas.

Excesso de medicação
Os analgésicos comuns podem ajudar em cefaleias pontuais. Entretanto, o abuso faz a medicação perder parte do efeito, além de catapultar a frequência e a intensidade das crises.
Tomar mais de oito comprimidos ao mês já é problemático, como mostramos em nosso recente especial sobre o tema, que ainda aborda os novos tratamentos contra a enxaqueca.

Alodinia
Essa é uma alteração do sistema nervoso que faz com que a pessoa sinta dor a estímulos normais. O exemplo mais conhecido da condição é uma sensibilidade extrema no couro cabeludo, que pode tornar um suplício o simples ato de pentear o cabelo.
A alodinia já era considerada um dos marcadores do risco de enxaqueca crônica. No trabalho recente, foi associada a um risco 40% maior do problema.

Renda baixa
Ganhar bastante dinheiro (nessa investigação, acima de 50 mil dólares ao ano, ou cerca de 210 mil reais) parece proteger contra a perpetuação da enxaqueca. Quem atinge esse patamar financeiro está 35% menos propenso a padecer com a versão crônica da doença. Ora, com mais recursos, é mais fácil ter acesso à informação e a centros de excelência e agir preventivamente, certo?

Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/depressao-remedios-e-causas-enxaqueca-cronica/ Por Chloé Pinheiro - Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Para ganhar massa muscular você deve esquecer esse velho conselho alimentar


Dietas com alto teor de carboidratos costumam ser recomendadas como parte de protocolos de exercícios para melhorar a recuperação e aumentar o desempenho. No entanto, pesquisas recentes tem mostrado que os carboidratos talvez não ajudem na recuperação da atividade física, além do mais seu vínculo potencial com distúrbios e doenças metabólicas coloca em dúvida se tal dieta seria realmente um bom conselho.

O estado energético muscular durante os exercícios costuma ser considerado um elemento fundamental no desempenho do esporte desde a década de 1960 . Sabemos que os carboidratos são a fonte de energia favorita na contração muscular em exercícios de moderados e de alta intensidade, por isso as diretrizes usuais para a nutrição esportiva incentivam comer alimentos ricos em carboidratos em três momentos: antes, durante e depois dos exercícios para potencializar o próprio desempenho.

Esses critérios, que são preponderantemente voltados a atletas profissionais, indicam o consumo, a cada hora e por quatro horas, de um pouco mais de um grama de carboidrato para cada quilograma de massa corpórea, para um reabastecimento potencializado. Mas seria realmente necessário ingerir tanto carboidrato com o objetivo de potencializar a recuperação dos exercícios? E seria adequado para aqueles que não estão tão preocupadas com o desempenho em competições?

Desempenho versus Recuperação
Antes de nos aprofundarmos nessas perguntas, é fundamental fazermos distinção entre recuperação e desempenho do exercício.
A recuperação são processos musculares que foram estimulados pelo estresse dos exercícios. Esses processos são acumulativos e levam a maior resistência e crescimento do músculo. Estas adaptações ampliam a capacidade corporal de suportar o estresse em exercícios futuros.
O desempenho no exercício, entretanto, se refere à capacidade de fazer o exercício no tempo e intensidade desejados.
A nutrição tem um papel importante em ambos. Além do mais a qualidade da recuperação afeta em potencial o desempenho dos exercícios no futuro. No entanto recomendações de nutrição para melhor desempenho podem não são necessariamente ideais para ampliar a recuperação em todos os casos.

Treinamento de resistência e carboidratos
Embora o benéfico da ingestão dos carboidratos na melhora do desempenho dos exercícios seja aceito amplamente, os pesquisadores observaram recentemente que a restrição na ingestão de carboidratos próxima dos treinos de resistência pode efetivamente contribuir na recuperação muscular. Os estudos observaram a redução na disponibilidade de carboidratos (seja através de jejum noturno ou apenas reduzir a ingestão de carboidratos perto dos horários de treinos) pode contribuir a promoção de uma recuperação precoce, levando possivelmente a melhorias de longo prazo na resistência.
Diversos estudos descobriram que alimentação com alto teor de carboidratos pode suprimir a ativação de vários genes conectados a adaptações aos exercícios físicos. Essa pesquisa recente mostra que é possível realizar duas sessões de exercícios intervalados de alta intensidade (HIIT), com até 12 horas de intervalo em de restrição de carboidratos. Também foi descoberto que é mais provável haver recuperação precoce quando os exercícios são em estado de baixa disponibilidade de carboidratos no corpo.
Comer muito carboidrato durante a recuperação inicial também pode ser pior para aqueles que querem perder gordura corporal. Pesquisadores observaram que uma restrição de carboidratos durante o período de recuperação dos exercícios incrementou o metabolismo da gordura corporal e reduziu o metabolismo dos carboidratos. Aproximadamente três vezes mais gordura foi usada como fonte de energia quando se restringiu a ingestão de carboidratos durante o período de recuperação do exercício.
Levando em conta que costumamos nos exercitar para emagrecer (perda de gordura corporal), consumir carboidratos tanto antes quanto depois do exercício pode estar causando um efeito contrário do esperado.

Exercícios de resistência e o carboidrato
Mas e a função carboidratos no processo de recuperação dos exercícios de resistência, que incluem levantar pesos ou fazer exercícios com o peso corporal para de aumentar a força e os músculos?
Sabemos que o consumo de proteínas nesse tipo de exercício beneficia o crescimento muscular. A recomendação tradicional, é uma alimentação com alto teor de carboidratos para melhorar o desempenho e a recuperação dos exercícios de resistência.
Mas inúmeros estudos agora mostram que os carboidratos não ampliam a recuperação depois de exercícios de resistência, ao compararmos com a proteína isolada.
Além do mais, a realização de exercícios de resistência quando as reservas de carboidratos dos músculos estão baixas também não compromete a recuperação. Pensando como um todo, isso sugere que o carboidrato ingerido desempenha um papel pequeno ou nenhum papel na recuperação dos exercícios de resistência.
Outro mito frequente diz que os atletas de resistência necessitam ingerir energia extra (ou seja, comer mais) para ganhar massa muscular. Aumentar os carboidratos na alimentação seria uma maneira de fazer isso. Não existem evidências para tal crença. Por outro lado as pesquisas demonstram recuperação muscular após o exercício de resistência sendo promovida pelas proteínas, mesmo que o atleta esteja com déficit energético.

Riscos potenciais à saúde
Além dos conselhos de consumo de altas taxas de carboidrato não serem úteis para a recuperação do atleta não profissional eles são motivos para nos preocuparmos. Carboidratos em excesso potencialmente causam doenças metabólicas como obesidade e diabetes tipo 2.
Se alimentar com excesso de carboidratos hiper estimula o hormônio insulina, levando a níveis cronicamente nocivos de açúcar no sangue. Uma das várias funções da insulina é o bloqueio do uso de gorduras como combustível. A insulina também promove o deposita o excesso de carboidratos em forma de gordura corporal e prejudica a capacidade do corpo controlar seus níveis de açúcar no sangue.
Para pessoas fisicamente ativas recreativamente, que tem objetivos como melhorar a saúde em geral, reduzir a gordura corporal e aumentar a massa magra muscular – se alimentar com uma dieta rica em carboidratos pode levar exatamente ao resultado oposto. [The Conversation]


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Como aumentar a longevidade em 500%: estudo


Cientistas do Laboratório Biológico MDI (EUA), do Instituto Buck de Pesquisa em Envelhecimento (EUA) e da Universidade de Nanjing (China) identificaram caminhos celulares para a longevidade que ampliaram a expectativa de vida de vermes C. elegans em cinco vezes.

C. elegans como modelo
Eu sei o que você está pensando: o que vermes nematódeos têm a ver com seres humanos?
Muita coisa. O C. elegans é comumente usado como modelo em pesquisas sobre o envelhecimento porque compartilha muitos genes com seres humanos. Além disso, sua expectativa de vida de apenas três a quatro semanas torna mais fácil para os pesquisadores acessarem os efeitos de intervenções genéticas e ambientais na longevidade.

Inclusive, os genes estudados na nova pesquisa já tinham sido alvo de análises anteriores.

“Apesar da descoberta de vias celulares que governam o envelhecimento em C. elegans, não tinha ficado claro como essas vias interagiam. Ao ajudar a caracterizar essas interações, nossos cientistas estão abrindo caminho para as terapias necessárias para aumentar a expectativa de vida de uma população que envelhece rapidamente”, disse Hermann Haller, presidente do Laboratório MDI.

O estudo
Os cientistas modificaram geneticamente as vias de sinalização da insulina e da proteína TOR em vermes.

Sabia-se que a alteração das vias da insulina gerava um aumento de 100% na vida útil, e da proteína TOR um aumento de 30%. Logo, os pesquisadores esperavam que os C. elegans mutantes vivessem 130% mais. Em vez disso, eles viveram 500% mais. Nos seres humanos, isso seria o equivalente a viver até os 400 ou 500 anos de idade.

“O efeito não é um mais um é igual a dois, é um mais um é igual a cinco. Nossas descobertas demonstram que nada na natureza existe no vácuo; para desenvolver os tratamentos antienvelhecimento mais eficazes, precisamos olhar para as redes de longevidade e não para caminhos individuais”, disse Jarod A. Rollins, do MDI.

Interação sinérgica
A descoberta dessa interação sinérgica pode levar ao desenvolvimento de terapias antienvelhecimento combinadas mais eficazes, cada uma afetando um caminho celular diferente, da mesma forma que são alguns tratamentos contra o câncer e o HIV hoje.
A interação sinérgica também pode explicar por que os cientistas nunca conseguiram identificar um único gene responsável pela longevidade, nem mesmo estudando pessoas que vivem até idades extraordinárias sem doenças relacionadas ao envelhecimento.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Cell Reports. [Phys]


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Cuidar do coração dos mais velhos é um ato de amor e responsabilidade


Um médico conta ao que prestar atenção para evitar ou tratar direito as doenças cardiovasculares nos mais velhos

Diante da tendência global de crescimento do contingente de idosos, é fundamental a atenção à saúde desses cidadãos. Segundo projeções do IBGE, 30% dos brasileiros terão mais de 60 anos em 2050. Hoje, 12% dos habitantes da cidade de São Paulo já pertencem à chamada terceira idade. É uma amostragem relevante, considerando tratar-se da maior metrópole de nosso país e uma das mais populosas do mundo.

O envelhecimento é um desafio para o sistema médico-hospitalar, pois o aumento da expectativa de vida resulta em maior número de usuários dos serviços. Por isso, uma das prioridades deveria ser garantir bom atendimento aos idosos no setor público – até porque 75% deles utilizam exclusivamente o SUS, conforme dados do Ministério da Saúde.

Nesse universo, as doenças cardiovasculares merecem especial atenção. Elas são as mais letais e se incluem entre as que mais limitam a qualidade da vida e/ou deixam sequelas nos pacientes. Não à toa, aquelas típicas recomendações de saúde, válidas para indivíduos de todas as faixas etárias, são ainda mais importantes na terceira idade.

Refiro-me a manter alimentação equilibrada, não fumar, só beber álcool com muita moderação e fazer exercícios (sempre com orientação médica e respeitando os limites físicos de cada um). Além disso, é importantíssimo controlar a pressão arterial, o peso e, periodicamente, os níveis sanguíneos de colesterol, triglicérides e açúcar.

Embora o aspecto relativo ao coração seja decisivo, é cada vez mais relevante uma abordagem multidisciplinar da saúde dos idosos. E isso vale para a prevenção e mesmo para o tratamento dos cardiopatas. O atendimento a eles muitas vezes envolve cardiologistas, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas e até médicos de outras especialidades, principalmente quando o paciente apresenta mais de uma enfermidade.

O ideal é proporcionar uma atenção ampla, que aborde saúde mental, uso de medicamentos, alimentação, atividade física, reabilitação cardiovascular, aspectos preventivos e saúde bucal. Os cuidados paliativos também precisam ser considerados entre pacientes terminais.

Se o sistema médico-hospitalar, público ou privado, pode e deve fazer muito pela saúde da terceira idade, também cabe ressaltar a responsabilidade dos familiares. Isso, aliás, está previsto no Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), cujo artigo terceiro estabelece o seguinte: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Acima de qualquer marco legal, a atenção e o carinho com pais, avós e parentes mais velhos constituem um ato de puro amor. É um compromisso com os mais nobres ideais humanitários, que abrange desde cuidados simples (como mantê-los hidratados, principalmente no verão) até o acompanhamento de sua rotina médica e de exames periódicos, passando por sua integração familiar e social.

Tudo o que estiver ao nosso alcance deve ser feito para que os idosos tenham a melhor qualidade de vida possível. Trata-se de uma atitude responsável e solidária perante a vida, que, acreditem, faz muito bem ao coração de todos nós!

Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/guenta-coracao/cuidar-do-coracao-dos-mais-velhos-e-um-ato-de-amor-e-responsabilidade/ - Por João Fernando Monteiro Ferreira, cardiologista - Ilustração: Daniel Almeida/SAÚDE é Vital

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Inovações para evitar e combater o AVC


Táticas preventivas, tratamentos modernos e novas formas de levar informação podem mudar o cenário do AVC, a segunda causa de morte no Brasil

É assustador: um em cada quatro adultos no mundo vai sofrer o acidente vascular cerebral (AVC). O rompimento ou o entupimento de um vaso sanguíneo na cabeça respondem por 10% das mortes no planeta.

“No Brasil, notamos uma tendência de aumento no número de casos, mas a mortalidade deve diminuir nos próximos anos”, analisa o neurologista Cesar Minelli, de Matão (SP), que apresentou dados inéditos sobre o tema durante o Congresso Brasileiro de Doenças Cerebrovasculares, realizado no final do ano passado em Goiânia.

Infelizmente, o número de  ocorrências só cresce. Só na cidade de Matão, em média, 127 casos de AVC ocorrem a cada 100 mil habitantes por ano. E 26% dos pacientes da cidade paulista não resistem e morrem anualmente após o derrame.

Apesar de ser um perigo em ascensão, tem muita notícia boa sobre o tema. Conheça novos tratamentos, formas de prevenção e maneiras de levar informação que podem mudar o cenário brasileiro:

Programa de saúde pública bem-sucedido
Lançada em 1994, a Estratégia Saúde da Família (ESF), do governo federal, abrange enfermeiros, médicos e dentistas, que fazem o acompanhamento da população de um determinado bairro ou região. Os profissionais são responsáveis pela atenção básica das pessoas, o que inclui vacinação, campanhas de prevenção, consultas simples e exames de rotina.
Mais que resolver queixas pontuais, um programa desses traz resultados de longo prazo. “Descobrimos recentemente que nas regiões em que a ESF está implementada há menos internações por AVC”, revela Minelli.

Trombectomia, um tratamento aprovado com louvor
A trombectomia é um tratamento em que o cirurgião guia um cateter até o cérebro para retirar o trombo que fecha a passagem do sangue. O Ministério da Saúde encomendou um estudo para ver se essa estratégia seria custo-efetiva na rede pública.
“Os resultados mostraram que o paciente submetido a essa operação tem 3,4 vezes mais probabilidade de não ficar com sequelas”, conta a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC.
A expectativa é que o método, já disponível nos planos privados, seja englobado em breve pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.

Outras saídas para frear o AVC
Anticoagulante: remédio que dissolve o coágulo, deve ser usado nas primeiras quatro horas após o início dos sintomas.
Cirurgia: quando a artéria se rompe no cérebro, muitas vezes é preciso drenar o sangue que se espalhou.

Precisão a despeito da hora
Para escolher qual será a resposta para o entupimento cerebral, o médico pergunta quando se iniciaram os sintomas (boca torta, dificuldade de fala, dor de cabeça…). Mas e se o sujeito dormiu bem e acordou mal? Como saber o momento exato?
“Cerca de 20% dos pacientes chegam ao pronto-socorro nessas condições”, calcula o neurologista Octávio Pontes Neto, da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
A boa notícia é que novos equipamentos permitem calcular o tamanho do estrago com mais exatidão, o que dobra as chances de oferecer um melhor tratamento.

O implante que poupa neurônios
Um grupo de mais de 80 cientistas espalhados por 18 países está testando um dispositivo peculiar que poderá ser utilizado logo depois do AVC.
Com o tamanho de 4 centímetros, ele é instalado num nervo que fica perto do nariz e dos olhos. Ao ser ativado, estimula a chegada de mais sangue ao cérebro, o que ajudaria a manter os neurônios vivos por um tempo extra e reduziria as sequelas.
Os testes iniciais, que envolveram mais de mil voluntários, mostraram que o implante é seguro e pode trazer ganhos em situações específicas. “Porém, antes de colocarmos essa ideia na prática, ainda devemos aguardar resultados mais contundentes”, avalia Sheila Martins.
A instalação é simples: basta introduzir uma injeção pelo buraco do nariz até chegar ao fundo da cavidade nasal. O implante fica grudado num nervo chamado gânglio esfenopalatino. Ele é acionado por um controle remoto. Com isso, há um incremento no aporte de oxigênio e nutrientes para a massa cinzenta.

Capacitação de crianças para salvar vidas
Durante o congresso em Goiânia, a Rede Brasil AVC iniciou uma campanha que vai percorrer escolas de todo o Brasil para ensinar estudantes de 4 a 8 anos a reconhecerem um derrame. Por meio de um filme e personagens de desenho animado, a proposta é treinar a garotada para reconhecer os principais sintomas e como agir se virem algo parecido em casa ou na rua.
“Sabemos que as crianças passam boa parte do tempo com os avós, que são o público que tem maior risco de sofrer um evento desses”, destaca Sheila. O objetivo é que o público infantil aprenda e ligue para o 192 rapidamente, sem precisar esperar a chegada dos adultos. Afinal, tempo é cérebro: cada minuto perdido pode fazer uma diferença tremenda lá na frente.

Os heróis e seus poderes

Criados na Universidade da Macedônia, eles desembarcaram este ano em terras brasileiras

Simão: é o vovô que tem o maior sorriso. Se ele não mexe a boca, algo está errado.

Bruno: possui braços fortes e firmes. Quando perde a força, é sinal de encrenca.

Fiona: sua voz é doce e angelical. Preocupa caso não consiga cantar ou falar.

Tiago: é o neto esperto e inteligente que liga para o Samu no 192 e socorre os avôs.

Um comprimido 4 em 1
Uma das principais dificuldades para manter pressão e colesterol sob controle está no tratamento de longo prazo: estima-se que menos de 10% dos indivíduos continua a tomar os remédios direitinho um ano após o diagnóstico.
Mas e se a gente tivesse uma cápsula que reunisse tudo de uma vez? Essa estratégia foi testada na Universidade de Ciências Médicas de Teerã, no Irã. Os resultados indicam que um comprimido único com aspirina, estatina (para baixar o colesterol) e dois anti-hipertensivos melhorou a adesão ao tratamento e reduziu em 34% infartos e AVCs.
A polipílula já recebeu endosso da Organização Mundial da Saúde (OMS) e deve custar menos de 30 centavos de dólar.

Vitamina D não previne o AVC
“Infelizmente, a suplementação dessa substância não demonstrou a eficácia esperada”, afirmou durante a sua apresentação no congresso o neurologista Rubens José Gagliardi, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O especialista se referia a um estudo publicado este ano no prestigiado periódico Journal of the American Medical Association (Jama).
O trabalho liderado pela Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, revisou as informações de 21 pesquisas feitas previamente, que acompanharam mais de 83 mil pacientes. Após toda essa análise, conclui-se que as doses de vitamina D não trouxeram nenhuma proteção contra o ataque cardíaco ou o derrame.
Se você faz uso regular desse nutriente por meio de gotas ou cápsulas, visite um médico para saber mais e receber uma orientação personalizada.

Novas ferramentas na reabilitação
A fisioterapia não é mais a mesma: hoje em dia é possível fazer uso de máquinas ultramodernas, lançar mão de remédios que mexem na química cerebral e aplicar ondas eletromagnéticas na cabeça após um AVC.
Até o popular Botox entra na jogada: as injeções dessa substância alteram não apenas o funcionamento dos músculos que ficam com sequelas, mas influenciam na conectividade entre os nervos periféricos e o sistema nervoso central.
“Nesse contexto, a toxina botulínica tem um nível alto de evidência para tratar a espasticidade, quadro marcado por rigidez e espasmos musculares constantes”, conta a neurologista Carla Moro, do Hospital Municipal São José, em Joinville, Santa Catarina.
As sequelas motoras são a complicação mais comum após os derrames. Os indivíduos deixam de movimentar partes do corpo, geralmente braços ou pernas. Esse problema traz outras dificuldades, como acessos de dor, deformidades e disfunção sexual.
Para amenizar todas essas chateações, a fisioterapia é primordial. Com as sessões, as chances de se restabelecer e ter liberdade são ainda maiores. É preciso iniciar logo cedo (se possível, no hospital) e não desistir após as primeiras semanas.

O robô que sabe tudo sobre o derrame
Alunos e professores do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, criaram um programa de computador que responde às principais perguntas do público sobre o AVC. O sistema foi instalado no Facebook e, durante 40 dias, recebeu 138 perguntas de usuários dessa rede social.
Mais de 40% das pessoas estavam interessadas em saber mais sobre os sintomas. Na sequência, as questões variavam entre prevenção e tratamento.
“Uma ferramenta dessas consegue esclarecer de maneira prática e direta mais de 80% das dúvidas sobre o tema, o que demonstra a importância da educação continuada em saúde para a população”, argumenta o neurologista Marcos Lange, um dos responsáveis pela iniciativa.

O que causa um AVC?

Hipertensão
Sedentarismo
Colesterol alto
Dieta ruim
Obesidade
Estresse
Tabagismo
Doenças cardíacas
Alcoolismo
Diabetes

Manual básico para a alta
Depois que a situação está estabilizada, o paciente é liberado para seguir com a recuperação em casa. Nesse momento, recebe um monte de orientações sobre o que comer, quais remédios tomar, como se exercitar… É tanta coisa que a maioria dos detalhes se perde pelo caminho.
Para facilitar o processo, um grupo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) lançou um guia que reúne de forma simples e clara todas as informações. “O livro é assinado por profissionais das mais diversas especialidades, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos e neurologistas, e pode ser baixado de graça no site da Rede Brasil AVC”, informa a terapeuta ocupacional Natália Andrade Camargo, coordenadora da iniciativa.

Doença de Chagas também prejudica o cérebro
Transmitido pela picada do inseto barbeiro, o protozoário Trypanosoma cruzi fica escondido no organismo por décadas até afetar algum órgão, geralmente o coração. O que não se sabia até agora era que essa bagunça toda pode respingar na cabeça: pesquisadores da Universidade Federal da Bahia descobriram que a doença de Chagas é um fator de risco independente para o AVC.
“Esses pacientes desenvolvem problemas cardíacos que, por sua vez, favorecem a formação de trombos capazes de ir até o cérebro”, destrincha Pontes Neto.
Esse conhecimento tem o potencial de modificar políticas públicas e o acompanhamento de pacientes onde a transmissão da moléstia segue ativa, como São Paulo, Minas Gerais, Bahia e a Região Norte do país.

Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/evitar-combater-o-avc/ - Por André Biernath - Foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital