A combinação entre a prática de exercícios e a boa
alimentação não trazem só benefícios para o corpo
Todo ano, neste mês, é feita a campanha do Setembro
Amarelo, uma iniciativa que tem como objetivo a conscientização em relação ao
suicídio, bem como sua prevenção. Mas por que é tão importante separarmos um
mês inteiro só para falar sobre o assunto? Porque nunca houve tantos
diagnósticos de transtornos mentais quanto antes, principalmente entre os
brasileiros. Segundo dados recentes da Organização Pan Americana de Saúde
(OPAS), por exemplo, nós somos o país com mais pessoas ansiosas no mundo (18,6
milhões, um total de 9,3%).
Além disso, um dos mais depressivos também: 11,5
milhões de brasileiros possuem este diagnóstico. O transtorno psíquico da
depressão provoca alterações de humor suficientemente graves e, se não tratado
adequadamente, pode resultar no suicídio. “Em seus estágios iniciais, o
paciente geralmente perde o interesse pela vida, bem como o prazer de realizar
tarefas que antes ele gostava muito. Sente uma tristeza profunda, muitas vezes
sem motivo. Tudo isso está ligado à diminuição de neurotransmissores em nosso
corpo. São eles que equilibram os hormônios ligados à sensação de bem-estar”,
explica a psicóloga Glaucia Pasqualini, que atende pelo aplicativo de terapia
online FalaFreud.
Ainda segundo a especialista, a depressão deve ser
tratada com procedimentos multidisciplinares e individualizados, ou seja,
variando de acordo com a gravidade, idade e aceitação dos tratamentos. O
primeiro deles é o uso de remédios que terão a capacidade de regular melhor
esses hormônios em falta no organismo. Além disso, é preciso um acompanhamento
psicológico para tentar identificar os possíveis motivos e traumas que
desencadearam a doença. E preencher a agenda diária com tarefas que gerem
felicidade. “A pessoa com depressão se perdeu e precisa se encontrar. Nesse
processo de autoconhecimento, a relação dela com o ambiente é fundamental para
suas forças internas”, afirma Glaucia Pasqualini.
É aí que entram atividades como a prática de algum
esporte, por exemplo. “A indicação de atividades físicas para meus pacientes é
imprescindível. Adoto essa orientação a todos, sejam mais novos ou mais
velhos”, diz a psicóloga. Mas não é só a vida ativa que pode contribuir para
uma melhora do quadro, sabia? Escolhas saudáveis também, como a alimentação
mais natural. Fomos consultar especialistas para entender melhor a relação.
Veja o que eles disseram:
Atividade física x depressão
São inúmeros os estudos que ligam o esporte com os
menores índices de depressão nos indivíduos. Um deles, realizado pelo Hospital
Geral de Massachusetts (MGH), em 2019, por exemplo, utilizou análises genéticas
para chegar à conclusão de que pessoas com a enfermidade eram menos ativas.
Apesar de ainda não haver uma explicação comprovada pela ciência sobre essa
relação, já existem algumas pistas. “Os exercícios físicos melhoram a qualidade
do sono e liberam hormônios importantes para a mente. Eles também promovem a
distração dos estímulos estressores e melhoram a qualidade de vida”, diz a
psicóloga.
Sem contar a melhora na interação social graças a um
maior convívio entre pessoas. E as mudanças no corpo. “Durante a realização de
exercícios físicos, o organismo libera dois hormônios essenciais para auxiliar
no tratamento da depressão, a endorfina e a dopamina. Ambos têm influência
principalmente sobre o humor e emoções”. Glaucia dá algumas dicas de
modalidades que você pode apostar:
“Os esportes coletivos como o futebol, basquete,
vôlei – ou qualquer outro que envolve trabalho em equipe – proporcionam contato
humano, amenizando a sensação de solidão.”
“O ciclismo é uma ótima opção para quem não curte
muito o ambiente interno da academia, e pode ser praticado nas ruas.”
“A corrida não para de crescer no Brasil. É um
esporte prático e recompensador, que necessita apenas de força de vontade e um
par de tênis adequado para que você não tenha problemas com impacto nos
quadris, joelhos e tornozelos.”
Alimentação x depressão
E quando se trata da saúde mental e o que a gente
coloca no prato? Mais evidências científicas. Uma revisão de 16 estudos
anteriores publicada em maio no Psychosomatic Medicine (e que envolveu mais de
46 mil pessoas) observou que qualquer melhora na alimentação alivia os sintomas
depressivos. Seja em reduzir gorduras, cortar calorias ou simplesmente investir
em comida mais nutritiva.
O médico nutrólogo Alexander Gomes de Azevedo vai
além e afirma que alguns alimentos têm mais potencial em ajudar na melhora do
bem-estar. Veja quais:
Proteínas: “Carnes magras, ovos e leites (e
derivados) possuem triptofano, aminoácido que atua na formação da serotonina.”
Aveia: “Também fonte de triptofano, contém selênio,
mineral que colabora para a produção de energia. Os carboidratos presentes no
alimento elevam os níveis de insulina e facilitam a absorção de triptofano.”
Banana: “Fonte de carboidratos que estimulam a
produção de serotonina, ela contém vitamina B6, importante na condução dos
impulsos nervosos e na prevenção da ansiedade e irritação.”
Oleaginosas: “Alimentos como nozes, castanhas e
amêndoas são fontes dos minerais magnésio, cobre e selênio, que reduzem o
estresse e melhoram a memória.”
Pimenta: “A
capsaicina é o princípio ativo que causa a sensação de ardência. Ela estimula o
cérebro a produzir mais endorfina, hormônio responsável pela sensação de
euforia e redução do estresse.”
Chocolate: “É um dos produtos que tem o poder de
causar sensação de prazer. Isso acontece porque a versão amarga (que possui
pelo menos 70% de cacau na composição) é fonte de triptofano e ainda possui
teobromina, substância da família da cafeína que tem efeito estimulante.”
Mel: “A serotonina é produzida no intestino e o mel
é um importante regenerador da microflora intestinal.”
O contrário também é válido: comer mal também pode
ser prejudicial para a mente. Segundo o nutrólogo, vale evitar aquilo que
aumenta as oscilações de humor, como as bebidas alcoólicas, fast-foods,
refrigerantes e alimentos ricos em açúcares e gorduras, como frituras e doces.
“Eles alteram bruscamente o nível de açúcar no sangue, mudando a produção de
hormônios no corpo”, explica.
Você não está sozinha, viu? Caso sinta que precisa
de ajuda, vale ligar gratuitamente para o Centro de Valorização da Vida (CVV)
nos números 188 e 141.
Fonte: https://boaforma.abril.com.br/saude/setembro-amarelo-vida-saudavel-pode-ajudar-no-tratamento-da-depressao/
- Por Amanda Panteri - g-stockstudio/Thinkstock/Getty Images
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