Fazendo um autoexame, você pode prevenir doenças mais graves
como o câncer bucal
A saúde bucal não pode e nem deve ser separada da
saúde geral do organismo. Nossa boca é continuamente desafiada por infecções
causadas por bactérias, vírus e fungos. "Qualquer lesão na mucosa da boca
pode ser contaminada por micro-organismos presentes na boca ou adquiridos de
outras pessoas, aumentando o risco de doenças, desde uma DST até problemas circulatórios",
explica a dentista Amália Rodrigues Martins. Afta, herpes, excesso de saburra e
outros problemas de saúde, que começam na boca, podem denunciar que seu corpo
pede cuidados.
A boca abriga uma grande quantidade de micro-organismos que residem na superfície
dos dentes, nas próteses ou na própria mucosa, formando um ecossistema chamado
biofilme, que nada mais é do que a conhecida placa bacteriana. As
bactérias podem causar doenças locais, como a cárie, a gengivite e a
periodontite. Mas também podem desencadear problemas em outras partes do corpo.
"Elas podem penetrar nos tecidos e na corrente sanguínea, liberando
substâncias tóxicas e estimulando uma inflamação e até uma infecção
grave", diz ela. A seguir, a especialista mostra quais os alertas que sua
boca dá e como preveni-los.
Sinais na língua
A saburra é uma placa esbranquiçada ou amarelada, composta
por células descamadas, restos alimentares e bactérias, que fica no dorso da
língua. A formação de saburra é mais intensa nas pessoas que estão com o fluxo
salivar diminuído, o que pode acontecer em situações de estresse, ingestão de
certos medicamentos e determinadas doenças.
"Entre as bactérias presentes na saburra lingual estão
algumas espécies capazes de causar doenças como a gastrite, pneumonia, endocardite
bacteriana, parada cardíaca, acidente vascular cerebral e a doença
periodontal", explica Amália. Além disso, as bactérias presentes na
saburra vão degradar proteínas, produzindo compostos sulfurados, responsáveis
pelo mau hálito. Por isso, a escovação dos dentes e a limpeza diária da língua
é importante para a eliminação dos micro-organismos. A higienização deve ser
feita com a escova de dente, além de raspadores ou limpadores de língua com
arestas ou cerdas.
Herpes labial ou bucal
O câncer bucal pode afetar a mucosa bucal, gengivas, o céu
da boca, língua, assoalho da boca, o céu da boca e os lábios.
Basta passar por uma situação estressante para as
feridinhas, que evoluem para pequenas bolhas, aparecerem na boca. Causada por
variações do vírus Herpesvirus hominis (HVH), a herpes é uma doença contagiosa,
cuja transmissão ocorre geralmente na infância. O que acontece é que, após o
contágio inicial, o vírus fica latente no organismo, podendo se manifestar em
intervalos variáveis, principalmente na puberdade e vida adulta. "Entre os
fatores relacionados com as recorrências de herpes podemos citar a exposição
excessiva ao sol ou a radiação ultravioleta, temperaturas baixas, febre,
infecções, estresse físico ou mental, distúrbios gastrointestinais, gripes,
resfriados, menstruação, gravidez e uso de corticóides", explica Amália.
Sendo que nas pessoas com deficiências imunológicas, a doença pode causar
sérias complicações, pois o organismo tem a resistência muito baixa, ficando
mais vulnerável a infecções.
O tratamento precoce pode inibir a manifestação clínica ou diminuir o tempo de
duração e tamanho das lesões, que podem afetar a boca por até sete dias. O
ideal é procurar atendimento assim que aparecerem os primeiros sinais (coceira,
irritação, inflamação). As principais formas de tratamento são a prescrição de
medicamentos antivirais, que atuam impedindo ou diminuindo a replicação dos
vírus, e a terapia com aplicação de laser de baixa potência. "No caso de
surtos muito frequentes, com mais de uma manifestação por mês, é possível
recomendar antivirais por períodos mais prolongados de tempo", diz a
dentista. A aplicação de laser atua diminuindo a dor e biomodulando a região,
isto é, aumentando a resistência das células. O procedimento pode ser realizado
em qualquer fase da doença, sendo que, assim como o uso dos medicamentos,
apresenta melhores resultados na primeira fase da doença, que são as 24 horas
iniciais. "Em alguns casos, as lesões são infectadas por bactérias, o que
pode causar marcas definitivas na região, sendo necessária à prescrição de
antibióticos e pomadas locais", explica Amália.
Cuidados essenciais
Não toque na ferida, evitando o contágio. O vírus pode
sobreviver por horas ou dias no meio externo e pode ser transmitido para outras
pessoas através do beijo, relações sexuais, objetos contaminados (como copos,
garrafas e roupas)
Se tocar nas feridas, lavar as mãos imediatamente com água e
sabão. A manipulação das lesões pode levar à contaminação de outras regiões
como pele ulcerada, olhos e região genital
As bolhas rompidas liberam líquido altamente infectante. É
preciso secar a região com gaze ou lenços descartáveis. As lesões também podem
ser lavadas com água e sabão
Procure um especialista assim que aparecerem os primeiros
sinais de herpes labial ou bucal para diagnóstico, orientação e tratamento.
Aftas
As feridas branco-amareladas com contorno avermelhado que
aparecem na língua, lábios, parte interna das bochechas e garganta são lesões
extremamente dolorosas e desaparecem em 1 a 2 semanas sem deixar cicatriz. Algumas
pessoas apresentam aftas grandes, que demoram até 6 semanas para cicatrizarem.
As aftas não são contagiosas, sendo muito comuns em pré-adolescentes,
adolescentes e adultos jovens. "As causas para a sua formação não são completamente
conhecidas e podem estar ligadas à reação exagerada do sistema
imunológico", explica Amália. Fatores como o estresse, alterações
hormonais, alergias a alimentos, traumas físicos causado por mordidas,
alimentos pontiagudos, mudanças hormonais, certos tratamentos de quimioterapia,
medicações, hérnia de hiato com refluxo esofagiano e consumo de alimentos
ácidos podem levar ao surgimento das feridas. "Não existe nenhum
tratamento definitivo para aftas, pois nenhuma substância cura a úlcera de um
dia para outro. Podem ser usadas pomadas anestésicas, corticóides e
anti-inflamatórios, além da aplicação de laser de baixa potência para alívio da
dor e aceleração da cicatrização", diz Amália.
Câncer bucal
O câncer bucal pode afetar a mucosa bucal, gengivas, o céu
da boca, língua, assoalho da boca, o céu da boca e os lábios. A doença
manifesta-se pelo aparecimento de feridas, que não cicatrizam após alguns dias.
Podem surgir lesões superficiais e indolores, que sangram ou não, e manchas
esbranquiçadas nos lábios ou na mucosa bucal. Em seu estágio avançado, a doença
caracteriza-se pela dificuldade no falar, mastigar e engolir e até o
emagrecimento acentuado, dor e presença de caroço no pescoço. Entre os fatores
de risco para a doença estão o tabagismo, o uso do álcool, exposição solar
exagerada, má higiene bucal e uso de próteses dentárias mal ajustadas.
"Além do controle dos fatores de risco, o autoexame e controle
profissional realizado por um dentista são fundamentais na prevenção da
doença", alerta a dentista.
Faça o autoexame da boca
A finalidade do exame é identificar anormalidades existentes
na mucosa bucal, que alertem a pessoa que o organismo não anda bem e a façam
procurar um dentista ou um medico. O que procurar:
Mudanças na aparência dos lábios e parte interna da boca
Endurecimentos
Caroços
Ferida
Sangramento
Inchações
Áreas dormentes
Dentes amolecidos ou quebrado.
Siga o passo a passo para fazer o autoexame da boca:
1. Lave bem a boca e remova as próteses dentarias, se for o caso.
2. De frente para o espelho, observe a pele do rosto e do
pescoço. Veja se encontra algum sinal que não tenha notado antes. Toque
suavemente, com a ponta dos dedos, todo o rosto.
3. Puxe com os dedos o lábio inferior para baixo,
expondo a sua parte interna (mucosa). Em seguida, apalpe todo o lábio. Puxe o
lábio superior para cima e repita a palpação.
4. Com a ponta de um dedo indicador, afaste a bochecha para
examinar a parte interna da mesma. Faça isso nos dois lados.
5. Com a ponta de um dedo indicador, percorra toda a gengiva
superior e
inferior.
6. Introduza o dedo indicador por baixo da língua e o
polegar da mesma mão por baixo do queixo e procure palpar todo o soalho da
boca.
7. Incline a cabeça para trás, e abrindo a boca o máximo
possível examine atentamente o céu da boca. Apalpe com um dedo indicador todo o
céu da boca, em seguida diga AAAA ... e observe o fundo da garganta.
8. Ponha a língua para fora e observe a sua parte de
cima. Repita a observação com a língua levantada até o céu da boca. Em seguida,
puxando a língua para a esquerda, observe o lado direito da mesma. Repita o
procedimento para o lado esquerdo, puxando a língua para a direita.
9. Estique a língua para fora, segurando-a com um pedaço de
gaze ou pano, e apalpe toda a sua extensão com os dedos indicadores e polegar
da outra mão.
10. Examine o pescoço. Compare os lados direito e
esquerdo e veja se a diferença entre eles. Depois, apalpe o lado esquerdo do
pescoço com a mão direita. Repita o procedimento para o lado direito, apalpando-o
com a mão esquerda. Veja se existem caroços ou áreas endurecidas.
11. Finalmente, introduza um dos polegares por debaixo do
queixo e apalpe suavemente todo o seu contorno inferior.