Pode não haver um sentimento pior do que quando você
tem algum tipo de projeto enorme para fazer e a parte criativa do seu cérebro
decide tirar uma folga. Algumas pessoas têm pequenos rituais para tentar
impulsionar sua criatividade, desde “dar um passeio relaxante” até “roubar
ideia de outra pessoa e, em seguida, secretamente matá-la”. Mas por que não
olhar para a ciência para descobrir o que realmente funciona?
Não é possível garantir que qualquer uma das dicas
abaixo irá funcionar com você – tudo que podemos dizer é que pessoas mais
inteligentes do que nós fizeram isso e funcionou em condições cientificamente
controladas. Tais dicas também não vão custar absolutamente nada, então se você
precisa forçar seu cérebro a começar a pensar fora da caixa, vale a tentativa.
5. Trabalhe no pior momento do dia, com as piores
pessoas
Quando se trata de resolver problemas, nós gostamos
de pensar que sabemos como conseguir os melhores resultados. Sabemos se nós
somos pessoas que funcionam melhor de manhã ou não e os tipos de pessoas com
quem trabalhamos bem. Quando estamos na faculdade, nós escolhemos nossos
horários de aulas em torno da hora do dia em que nossos cérebros funcionam
melhor e escolhemos os nossos próprios grupos de estudo com base na mistura
única de introvertidos, extrovertidos e pessoas que vão realmente fazer o
trabalho. No mundo profissional, quanto mais sucesso você consegue, com mais
liberdade você começa a escolher com quem você trabalha e quando.
Bem, a ciência está aqui para fazer o que faz de
melhor: dizer-nos que estamos fazendo tudo errado. Na verdade, você tem muito
mais chances de resolver problemas que exigem criatividade e visão se você
trabalha durante a parte do dia em que você acha que está no seu pior. Quando
você está dizendo a todos para não dirigirem a palavra a você até que tome
aquela xícara de café, a sua mente está no seu momento mais brilhante.
Em um estudo, pessoas matutinas tiveram um
desempenho melhor na resolução de problemas quando foram trazidas para o
laboratório durante a noite, enquanto pessoas que se sentem melhor durante a
noite se saíram melhor durante as sessões da manhã.
Nós também somos muito ruins em julgar quão bem
estamos trabalhando dentro de um grupo – estudos descobriram que as pessoas
eram piores na resolução de problemas em grupos quando estavam com aqueles que
se sentiam mais confortáveis. Ainda mais estranho, os grupos que tiveram mais
dificuldade em resolver o problema que supostamente deveriam estar resolvendo
não tinham ideia disso. De acordo com o estudo, “as equipes que sentiram que
estavam trabalhando menos eficazmente em conjunto tiveram, ironicamente, os
melhores desempenhos”.
Tais resultados vão contra tudo o que acreditamos
sobre como as coisas são realizadas. Nós pensamos que grandes equipes trabalham
extremamente bem juntas e possuem uma grande experiência de sucesso. Sempre que
uma grande banda, equipe ou empresa olha para trás no momento em que estava em
alta, costumam descrevê-lo como algo mágico. Acontece que há uma razão para que
não descreverem aquele período como algo divertido.
Pense nos Beatles. Eles eram a banda de rock mais
famosa de todos os tempos, tinham uma capacidade quase sobrenatural para
escrever música que iria torná-los mais famosos ainda, e não conseguiram durar
mais de uma década. Com centenas de milhões de dólares e fama sem precedentes
na balança, eles separaram-se mais rápido do que casamentos que não dão certo.
Se preferir exemplos menos artísticos, tenha em mente que Michael Jordan deu um
soco na cara de Steve Kerr durante o treino, no ano em que estabeleceu um
recorde de vitórias em uma única temporada.
Estar com seus amigos em um ambiente social
confortável é uma ótima maneira de tornar-se terrível para resolver problemas.
É o mesmo que acontece com as pessoas da manhã fazendo o seu melhor trabalho à
noite. Nosso cérebro descansado e socialmente confortável é muito bom em pensar
dentro da caixa – aquele lugar sensato que aprecia piadas velhas e rejeita
ideias que parecem diferentes demais. Mas se você tem que resolver um problema realmente
difícil, você se sai melhor em uma sala cheia de pessoas com quem não tem muito
contato, comendo sua terceira fatia de pizza fria.
4. Tente desenhar – mas só faça linhas suaves e em
looping
Você provavelmente já viu pessoas que, quando
debruçadas sobre um bloco de notas e tentando forçar uma ideia, começam
preguiçosamente a rabiscar carinhas felizes ou espirais nas margens das folhas.
Provavelmente parece apenas uma manifestação física triste de seu tédio e/ou
falta de quaisquer ideias úteis, mas eles podem estar fazendo uma espécie de
ligação direta para inicializar o próprio cérebro. Não é rabiscar sem rumo que
faz isso – o sucesso depende do que está sendo rabiscado, de acordo com
pesquisadores das universidades de Tufts e Stanford, nos EUA, que descobriram
que desenhos “fluídos” podem ajudar o pensamento abstrato e a criatividade.
Eles reuniram 30 indivíduos, divididos em dois
grupos – um grupo foi instruído a traçar um monte de linhas irregulares,
enquanto o outro grupo desenhou uma linha única, elegante e em looping.
Após a sessão de rastreamento, a cada grupo foi dada
uma tarefa de pensamento criativo. Por exemplo, eles receberam um conjunto de
“exemplares”, que são palavras que exemplificam certas categorias –
“tricerátopos” seria um forte exemplar da categoria “dinossauros”, mas não
tanto da categoria “treinadores de futebol da faculdade”. Os pesquisadores,
então, pediram aos grupos para atribuir cada exemplar a uma categoria, e
descobriram que o grupo que havia se envolvido no desenho fluido antes da
tarefa (o desenho da linha em looping) estava ligando exemplares com categorias
menos relacionadas, tais como dizer que “camelos” eram um exemplo aceitável de
“veículos”.
O ponto é que o grupo que estava apontando as
respostas mais abstratas e inventivas era o que tinha feito o desenho com os
movimentos ininterruptos mais fluídos. O outro grupo fez o mínimo,
proporcionando as respostas chatas e óbvias.
A teoria é que o segredo está mais no movimento da
mão do que nos desenhos – o cérebro gosta de movimentos contínuos e fluídos, e
não de movimentos abruptos, em rápida mudança e cheios de ângulos retos e
cantos afiados. Se este tipo de movimento é apenas mais relaxante, ou de alguma
forma faz com que o cérebro tenha um pensamento mais “fluído”, o certo é que
estimula a sua criatividade.
3. Levante suas sobrancelhas
Apesar do que você pode pensar, levantar as
sobrancelhas não é apenas o sinal universal para a expressão “o que diabos está
acontecendo?”. De acordo com um estudo publicado na revista científica
Criativity Research Journal, o simples ato de ampliar nossos globos oculares
pode na verdade servir como um impulso de adrenalina para nossa criatividade.
Existem dois tipos diferentes de atenção – atenção
perceptiva, que é referente a suas experiências físicas, e a atenção
conceitual, que é atribuída aos processos mentais. As duas estão intimamente
ligadas, como gêmeas siamesas pulando corda com o seu cordão umbilical. Se uma
acelera ou desacelera, o mesmo acontece com a outra. Da mesma forma, se você
aumentar o seu espectro de atenção perceptiva (abrindo os olhos de forma muito
ampla, por exemplo), isso pode fazer seu cérebro abrir seus horizontes,
permitindo que você faça todos os tipos de conexões criativas que você não
teria sido capaz de outra forma.
O estudo testou esta teoria usando dois grupos, um
dos quais foi pedido para levantar as sobrancelhas, enquanto o outro foi
orientado a manter suas sobrancelhas franzidas. Os grupos foram então
convidados a escrever uma legenda para uma imagem de um cão deitado em uma cama
com uma rosquinha em sua boca.
Como você já deve ter adivinhado, o grupo com as
sobrancelhas levantadas sugeriu coisas mais criativas. O grupo “ranzinza”, no
entanto, ofereceu legendas totalmente sem graça, como “cão que quebra as
regras”. O ponto é, a resposta do primeiro grupo foi inteligente e não óbvia,
enquanto a do segundo foi preguiçosa e quase sem sentido.
A ideia é que o grupo cujos membros tiveram suas
sobrancelhas levantadas recebeu uma maior quantidade de atenção perceptiva que
posteriormente foi traduzida em uma maior quantidade de atenção conceitual,
reforçando assim o seu pensamento não-linear e sua criatividade. O outro grupo
estava apertando os olhos para a imagem, o que diminuiu a sua atenção
perceptual.
2. Tente olhar para um logotipo da Apple
É sério.
Não há nada mágico no logotipo em si, e nem mesmo os
fãs mais ardorosos da Apple afirmariam que os seus dispositivos têm poder de
impulsionar a criatividade no cérebro. Mas, por cerca de 30 anos consecutivos,
a Apple tem feito a comercialização dos seus produtos como as ferramentas de
excêntricos pensadores criativos (pessoas que “pensam diferente”, na verdade).
E publicidade funciona. Então, hoje, se você imaginar mentalmente um bando de
pessoas excêntricas trabalhando em uma sala, você não irá imaginá-los com
computadores da Dell. Você irá imaginar uma sala cheia de brilhantes silhuetas
brancas da Apple. É uma associação quase automática.
Assim, de acordo com um artigo do Journal of
Consumer Research, uma maneira de manter seus músculos do pensamento não linear
e sua criatividade funcionando é simplesmente olhar para o logotipo da Apple.
O estudo em si foi originalmente baseado na ideia de
que as pessoas atribuem características humanas específicas a vários logotipos
corporativos – o “M” do McDonald’s parece acolhedor e amigável, a marca da rede
Walmart é fria e impassível. Tudo isso é baseado na forma como vemos essas
empresas na cultura, devido às suas campanhas de publicidade implacáveis, ou
qualquer outro motivo. Assim, os pesquisadores descobriram que, quando as
pessoas estão “pré-programadas” com certos logos, estes logos as colocam em um
certo estado de espírito. E no caso da Apple, cobaias experimentaram um aumento
tanto na criatividade quanto na engenhosidade apenas por serem expostas à maçã
meio comida da empresa.
A pesquisa foi realizada com 341 estudantes
universitários divididos em dois grupos, com um grupo recebendo uma série de
logos subliminares da Apple e outro recebendo o logotipo da IBM. Cada grupo foi
então encarregado de listar quantos usos havia para um tijolo comum.
O estudo constatou que o grupo da Apple foi capaz de
chegar a mais usos para o tijolo do que o grupo da IBM, tudo por causa dos
sentimentos de descoberta que o logotipo da Apple tinha instigado dentro deles.
Então, se o seu chefe passar pela sua mesa e ver você olhando fixamente para o
seu iPhone, você pode dizer que está ocupado em alimentar as chamas da inovação
dentro de você, sem um pingo de ironia.
1. Faça gestos com as mãos (com ambas as mãos)
A conexão entre pensamento e movimentos abstratos da
mão é ao mesmo tempo estranha e bastante forte. Os cientistas já haviam
descoberto há algum tempo que você pode melhorar sua memória associando um
gesto com a coisa que você está memorizando e que oradores usam gestos para
fazer você concordar com eles. De acordo com um estudo publicado na revista
Psychological Science em 2011, fazer pequenos gestos físicos com ambas as mãos
também pode ajudar a aumentar a sua criatividade.
Não é o caso de começar a fazer malabarismos com
sacos de feijão ou fazer truques de cartas em sua mesa, mas o simples ato de
usar as mãos para representar diferentes aspectos de um problema pode ajudar a
sua mente a separar e organizar as ideias. É a diferença entre meramente
descrever como você, por exemplo, executa uma massagem cardíaca em alguém,
contra, na verdade, se levantar e demonstrar isso. Tal gesto ajuda a visualizar
a ideia – e quanto mais complexa for a ideia, mais precisamos de uma
visualização.
E ajuda usar as duas mãos – o estudo analisou um
grupo de pessoas que recebeu uma série de objetos comuns e foi encarregado de
pensar em novas formas incomuns que os objetos poderiam ser usados, tais como a
utilização de uma moeda como um improvisada chave de fenda ou, digamos, a
transformação de um sutiã em um estilingue. Algumas pessoas foram instruídas a
fazer gestos com as duas mãos ao mesmo tempo que apresentavam as suas
respostas, enquanto os outros foram orientados a usar apenas uma.
O grupo que fez gestos duplos deu as respostas mais
criativas, o que faz sentido quando se considera que existem apenas um número
limitado de gestos que você pode fazer com uma única mão. Mas é surpreendente
que a limitação da capacidade de gestos realmente impediu o resto das pessoas
de apresentarem ideias criativas. Pior do que isso: também pode ser
surpreendente a ideia de que você pode estar sufocando seu cérebro, sentado aí
com a mão esquerda no queixo e a direita no mouse. [Cracked]