Muitas pessoas se alongam antes e/ou depois de fazer
exercícios físicos. Outros não querem nem ouvir falar disso, mas sentem que
deveriam. E algumas pessoas não veem qualquer razão para se alongar.
Quem está certo?
As razões para fazer alongamento são diversas.
A maioria das pessoas acha que esta prática as torna
mais flexíveis. Alguns acreditam que o alongamento reduz o risco de lesões,
reduz a dor experimentada após o exercício, ou melhora o desempenho esportivo.
Os otimistas pensam que o alongamento faz todas estas coisas (e mais outras que
nem a ciência explica).
Mas nós realmente precisamos fazer alongamento
quando nos exercitamos?
Fazer alongamento aumenta mesmo a nossa
flexibilidade, pode reduzir o risco de lesões, a dor e melhorar o desempenho
esportivo? A resposta não é nem sim, nem não.
Meio de campo: ensaios clínicos randomizados
A única maneira de os pesquisadores terem uma ideia
realmente clara dos efeitos do alongamento é a realização de ensaios clínicos
randomizados. Nestes estudos, alguns participantes fazem alongamento e outros
não.
Em seguida, os resultados (lesão, dor muscular ou
melhor desempenho desportivo) dos participantes que se alongaram periodicamente
são comparados com os resultados daqueles que não o fizeram.
A diferença entre os resultados dos dois grupos,
então, pode nos dar uma ideia melhor sobre os efeitos (positivos ou não) do
alongamento.
Efeito do alongamento sobre o risco de lesões
Os dois primeiros estudos dos efeitos do alongamento
no risco de lesões, realizados com 2.631 recrutas do exército, mostraram que
três meses de rotina de alongamento antes do exercício físico não reduz
sensivelmente o risco de lesões. Um estudo mais recente feito com 2.377 pessoas
ativas teve resultados muito semelhantes: três meses de alongamento regular
tinham pouco ou nenhum efeito sobre o risco.
Juntos, esses estudos sugerem fortemente que o
alongamento não reduz sensivelmente o risco de lesões.
Efeito do alongamento antes de começar atividades
físicas
Uma série de outros estudos randomizados investigaram
os efeitos do alongamento antes e depois da atividade física, especialmente
para ver se esta prática poderia ter algum efeito sobre a dor experimentada
após o exercício.
Os resultados sugerem que se alongar reduz sim a
dor, mas o efeito é muito pequeno.
Desempenho esportivo: flexibilidade e força
O efeito do alongamento no desempenho esportivo é
menos claro, ou pelo menos mais complexo.
Alguns poucos estudos randomizados procuraram
analisar a performance desportiva como um resultado do alongamento periódico.
Em vez disso, a maioria dos estudos tem focado no efeito do alongamento em dois
intermediários que tem grande potencial para influenciar no desempenho
desportivo: a flexibilidade e a capacidade dos músculos para gerar força.
Para entender os efeitos do alongamento na
flexibilidade e na geração de força muscular, é necessário distinguir os seus
efeitos agudos e crônicos. Efeitos agudos se manifestam imediatamente após um
estiramento enquanto que os efeitos crônicos se manifestam apenas após repetidas
séries de alongamento, talvez mais de meses ou até anos.
Alongar por pouco tempo aumenta a flexibilidade?
Sim, mas não tanto quanto você imagina
Depois de apenas alguns segundos ou alguns minutos
de alongamento, suas juntas avançam ainda mais e resistem menos ao movimento.
Mas esse efeito é transitório. Uma vez que você para de fazer alongamento, a
flexibilidade retorna aos níveis iniciais. E a recuperação é em grande parte
concluída dentro de poucos minutos. Então, não esquente a cabeça com essa coisa
de curto prazo.
Os benefícios podem vir mesmo é com o tempo.
É possível, mas menos certo, que o alongamento
também tenha efeitos crônicos sobre a flexibilidade. Mas aí estamos falando de
alongamento regular. A prática pode estimular adaptações de músculos e outros
tecidos que provocam aumentos duradouros na flexibilidade.
Observações cotidianas sugerem que isso é verdade
mesmo, porque bailarinos e professores de yoga, por exemplo, que se alongam
muito, tendem a ser mais flexíveis do que o resto de nós. Mas, enquanto parece
óbvio que alongamento regular torna as pessoas mais flexíveis, isso é
extremamente difícil de ser demonstrado por experimentos controlados.
O alongamento faz com que a gente aguente se esticar
mais
Ou seja, ele faz as pessoas se sentirem capazes
ficar em posições mais esticadas. E esse aumento da tolerância ao alongamento
pode fazer as pessoas se sentirem mais flexíveis, mesmo quando não são.
De qualquer forma, os efeitos do alongamento na
flexibilidade, de uma maneira geral, poderiam ser explorados para melhorar o
desempenho em alguns esportes específicos. Parece provável que as ginastas, por
exemplo, possam ter um melhor desempenho se forem mais flexíveis. De modo mais
geral, acredita-se, portanto, que o alongamento pode aumentar o desempenho em
esportes que exigem flexibilidade.
Efeitos do alongamento na força muscular
A outra forma de alongamento pode afetar o
desempenho esportivo é através de seus efeitos sobre a capacidade dos músculos
de produzir força. A conclusão mais clara que temos a partir de estudos em
seres humanos é que o alongamento produz tipicamente uma pequena redução
temporária na força de músculos alongados.
Isso sugere que pode ser imprudente esticar os
músculos imediatamente antes de praticar esportes que exigem grande força
muscular.
Alongar ou não alongar: eis a questão!
Para as pessoas que são ativas fisicamente de forma
recreativa, os resultados de pesquisa sugerem que se alongar pode ter um
benefício muito pequeno e provavelmente não vai fazer mal nenhum. Se você gosta
de fazer alongamento, alongue. Se você não gosta, apenas não faça e não se
sinta culpado por isso.
Mas, se você é um atleta de alta performance, há
mais variáveis em jogo e a decisão é mais difícil.
O alongamento pode aumentar o desempenho em esportes
que exigem muita flexibilidade, mas pode diminuir temporariamente a força
muscular. Logo, faz mais sentido se alongar se você é um corredor do que se
você é um levantador de peso.
Estas conclusões, contudo, vêm com algumas
ressalvas.
Em primeiro lugar, a maior parte das pesquisas sobre
os efeitos do alongamento investigaram os efeitos de alongamento “estáticos”.
Há muitas outras maneiras de fazer alongamento, mas a maioria não tem
despertado muito interesse de pesquisadores. Por isso não temos embasamento
científico para falar sobre seus supostos efeitos.
Outra ressalva é que, embora a gente saiba bastante
sobre os efeitos agudos do alongamento, sabemos muito pouco sobre seus efeitos
crônicos. Ninguém tentou realizar um estudo randomizado dos efeitos do
alongamento regular ao longo de anos de prática.
Pode ser que, a longo prazo, o alongamento regular
tenha efeitos importantes. Mas pode ser também que esses efeitos sejam
prejudiciais, ou que não haja NENHUM efeito a longo prazo – nós simplesmente
não sabemos.
Para terminar com uma mensagem mais positiva:
enquanto parece que o alongamento não reduz sensivelmente o risco de lesões, há
boas evidências de que o aquecimento faz muito bem este trabalho. Uma sequência
intensa e bem estruturada para aquecer o corpo antes do exercício físico pode
reduzir substancialmente o risco de lesões. [iflscience]