Reunimos algumas dicas para que você possa se
proteger e ajudar outras manas durante os quatro dias de folia.
Se por um lado o Carnaval é uma festa conhecida por
celebrar alegria e liberdade em todas as suas formas, por outro ele ainda é
marcado por episódios não tão positivos assim – casos de assédio e abordagens
um tanto quanto agressivas durante a folia atingem principalmente mulheres que,
vem ano, vai ano, colecionam relatos nada agradáveis de recordar.
E por mais que discussões sobre o assunto estejam em
pauta nos últimos meses, na prática as coisas acontecem de maneira diferente.
Muita gente parece não compreender a diferença entre uma aproximação consensual
e uma totalmente abusiva – seja no bloquinho de rua, na festa VIP ou no meio do
samba.
De acordo com uma pesquisa online sobre assédio
sexual no Carnaval, realizada em todo o Brasil pelo site Catraca Livre, entre
janeiro e fevereiro do ano passado mais de 80 por cento das entrevistadas
afirmaram já terem sido vítimas do crime.
Pensando nisso, e a fim de diminuir as estatísticas
na medida do possível, compilamos a seguir algumas atitudes fáceis de colocar
em prática, que podem auxiliar você, suas amigas e até outras mulheres ainda
desconhecidas na luta contra o assédio no Carnaval.
Ajude mulheres que estejam se sentindo
desconfortáveis com a abordagem masculina:
Se você se deparar com uma mulher sendo cercada,
agarrada à força, puxada pelos cabelos ou vítima de comentários agressivos
feitos por um homem, faça o possível para ajudá-la – principalmente se ela
estiver sozinha nessa hora.
Caso seja uma amiga sua, não tenha medo de intervir,
tirá-la de perto do agressor em questão e se manter alerta. No caso de uma
desconhecida, vale chamá-la por um nome genérico, fingindo que a conhece – a
tal da sororidade, sabe? – integrá-la com a sua galera e, de quebra, ajudá-la a
reencontrar a dela.
Se foi você quem sofreu assédio, deixe seu
depoimento usando a #AconteceunoCarnaval. Se foi alguém conhecido, incentive
essa pessoa a se pronunciar:
Criada no ano passado, em Recife, a campanha
Aconteceu No Carnaval dessa vez abre o leque de cidades participantes e retorna
à ativa, contemplando organizações de diferentes estados do Brasil. A
iniciativa, desenvolvida pelos criadores do aplicativo Mete a Colher, em
parceria com as redes Women Friendly, Meu Recife e Minha Sampa, pretende romper
o silêncio e coletar depoimentos de mulheres que sofrerem assédio durante a
festa, levantando dados que ajudem a combatê-lo pelos próximos anos.
Além disso, os números servirão como ferramenta para
pressionar o poder público e sugerir ações mais efetivas na luta contra o
assédio. Será criado, também, um “mapa de calor” com os locais considerados
menos seguros para mulheres circularem nas cidades durante o Carnaval.
Para fazer sua denúncia anônima – a identidade da
vítima será sempre preservada – basta acessar a página da ação e preencher os
campos solicitados. Lá, você pode contar em detalhes tudo o que aconteceu, como
e onde foi. É importante colocar pontos de referência sobre a localização, e
priorizar situações que ocorreram no Carnaval deste ano – pré e pós festa
contam igualmente.
No Recife, além do site, ainda será possível fazer
sua denúncia pelo Whatsapp, através do número (81) 99140-5869. Neste ano, a
expectativa é de que mais de 4 milhões de pessoas sejam impactadas pela
campanha, que tem apoio das redes Meu Rio, Minha Porto Alegre, Minha Igarassu,
Minha Jampa e Minha Ouro Preto.
Use um apito ou outro adereço que chame atenção – e
faça barulho mesmo!
Vá para bloquinhos de rua e festas mais movimentadas
lançando mão de um apito amarrado no pescoço. Não hesite em soprá-lo bem forte
quando se sentir incomodada por terceiros, nem em apitar para chamar atenção de
quem estiver ao redor, ao ver outra mulher visivelmente perturbada.
Além do apito, outros adereços, como arminhas de
água, são igualmente úteis para espantar quem ainda não se tocou de que existem
jeitos e jeitos de abordar uma mulher no Carnaval.
Deixe bem claro o que é legal – e o que não é – por
meio de tatuagens temporárias (e empoderadas)…
Além de ficarem lindas combinadas com o make e com
as fantasias, as tatuagens temporárias podem carregar mensagens bem diretas
contra o assédio. Já que ainda tem gente que não entende quando a gente fala
“não”, é melhor facilitar o processo e deixar que seu corpo se expresse por si
só.
Como um jeito mais brando de falar sobre assédio,
você pode se fantasiar de um ícone feminista, como Frida Kahlo ou Rosie the
Riveter (a mulher do cartaz “We Can Do It”, famoso durante a época da Segunda
Guerra Mundial) ou então carregar plaquinhas com mensagens políticas sobre os
direitos das mulheres.
Não é porque é Carnaval que você tem que deixar sua
luta de lado, certo?
Encontrou alguma mulher que bebeu demais sozinha,
sendo abordada por homens? Ajude-a da maneira que puder:
Uma das coisas mais comuns no Carnaval é se deparar
com pessoas que beberam além da conta – e seu papel aqui é de não julgar
ninguém nesse sentido. Principalmente se a tal pessoa for outra mulher e
estiver sozinha, perdida dos amigos e cercada por homens, geralmente
desconhecidos. Infelizmente ainda há quem abuse de mulheres em situações mais
vulneráveis, aproveitando para justificar os atos colocando a “culpa” na
bebida.
Se você presenciar alguma situação dessas, procure
ligar para um número conhecido da pessoa, ajude-a a localizar seus amigos,
tire-a de perto de quem está se aproveitando do momento e, se necessário, chame
um táxi ou carro para levá-la até um endereço seguro. Oferecer água e
comidinhas também é mais do que válido!
“Meta a colher” na briga do casal:
Com cuidado, se vir um casal heterossexual brigando
e, principalmente, alguma mulher sendo agredida pelo parceiro, encontre meios
de ajudá-la. Como essa é uma situação das mais delicadas e que, muitas vezes, pode
até prejudicar você, vale acionar a segurança do local – e até chamar a
polícia, dependendo da gravidade do problema.
Também pode ser uma boa alternativa fazer uma
denúncia anônima pelo disque-denúncia (o número é o 180, em todo o Brasil).
Caso a mulher em questão fizer sinais de que deseja sair de perto do parceiro,
leve-a para bem longe dali.
Faça os inconvenientes entenderem que duas mulheres
se beijando não estão convidando ninguém para participar:
Pleno 2018 e ainda tem homem achando que, quando
duas mulheres se beijam, o fazem exclusivamente para chamar a atenção dele.
Isso, além de dar ainda menos visibilidade para a luta LGBT, é completamente
inconveniente e invasivo para mulheres lésbicas e bissexuais, que só querem se
divertir em paz.
Quando encontrar algum engraçadinho abordando duas
mulheres que estão juntas – ou se, por acaso, o engraçadinho chegar até você e
a crush – faça o possível para que ele fique bem distante. Se você for das mais
pacientes, vale também deixar bem claro que, caso quisesse mais uma pessoa ali
no meio, teria chamado.
No mais, é só aproveitar a festa e respeitar as suas
próprias vontades, acima de qualquer coisa. Bom Carnaval!