Condição crônica está relacionada a diversas doenças
cardiovasculares, como infarto e AVC
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD), pessoas com diabetes têm o dobro de risco de sofrer um infarto agudo do
miocárdio. Estimativas da International Diabetes Federation revelam que até 80%
dos pacientes com diabetes ou diabetes melito (tipo 2) morrem justamente em
decorrência de complicações relacionadas a problemas cardíacos.
Quando trazemos isso para a quantidade de pessoas
atingidas, os números assustam e nos ajudam a ter uma dimensão do tamanho do
desafio. Uma declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS), em abril deste
ano, revela que o número de indivíduos com diabetes quadruplicou nos últimos 40
anos. Hoje, acredita-se que a doença afete cerca de 250 milhões de pessoas em
todo o mundo. Só no Brasil, segundo a SBD, mais de 13 milhões vivem com esse
diagnóstico.
O principal alerta aqui é que há grande potencial de
crescimento dessas taxas. Projeções da OMS revelam que pode ocorrer aumento da
prevalência mundial na ordem de 114% nos próximos 20 anos, levando ao
surgimento de 330 milhões novos casos. O Brasil segue essa tendência, figurando
entre os dez países com maior número absoluto de indivíduos portadores de
diabetes tipo 2.
O crescimento acelerado é resultado, em parte, do
envelhecimento da população, mas, principalmente, das modificações nos hábitos
de vida, além do acesso a tratamentos e medicamentos. O diabetes é uma doença
silenciosa que, sem o controle adequado, pode acarretar em uma série de
problemas e danos à saúde, entre elas as doenças cardíacas, cegueira, doenças renais,
amputações e até a morte. É uma condição pré-existente que aumenta também o
risco de infecções oportunistas, como a COVID-19.
O que é diabetes?
Para começar, vamos entender, então, do que estamos
falando. O diabetes é classificado como uma doença crônica não transmissível
(DCNT). Trata-se de uma condição causada pela produção insuficiente ou má
absorção de insulina, hormônio controlado pelo pâncreas que tem a função de
quebrar as moléculas de glicose (açúcar) - e, assim, regular sua quantidade no
sangue, garantindo a manutenção das células do organismo.
Em condições normais, quando o nível de glicose no
sangue sobe, células especiais liberam a insulina de acordo com as necessidades
do momento. A glicose pode ser utilizada como combustível para as atividades do
corpo ou fica armazenada como reserva, em forma de gordura. Esse controle
mantém em níveis normais a taxa de glicemia no sangue.
Para o coração, o aumento desta taxa acarreta em
complicações que, em casos mais graves, pode levar à morte. O diabetes é capaz
de desencadear infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e
entupimentos das artérias, além de formação de aneurismas (dilatação de um vaso
sanguíneo). Quando a doença se instala, potencializa ainda outras condições de
risco, como a pressão alta e o colesterol elevado.
Diabetes e doenças cardiovasculares
Quando o organismo apresenta níveis elevados de
glicose no sangue, várias alterações que interferem no sistema cardiovascular
podem ocorrer. O principal comprometimento é a doença arterial coronária, que
surge em decorrência do processo precoce e acelerado de aterosclerose -
formação de placas de gordura na parede das artérias do coração.
Isso porque o diabetes traz mudanças para a função de
vários tipos de células, como as endoteliais, as musculares e as plaquetas,
além de favorecer a produção de coágulos e elevar o nível de colesterol,
formando um número maior de placas de gordura nas artérias coronárias (as
responsáveis por irrigar o coração).
A hiperglicemia crônica, a dislipidemia (presença de
níveis elevados de gordura no sangue) e a resistência à insulina, somados,
favorecem a progressão aterosclerótica, elevando o risco de entupimento dos
vasos.
Para manter-se em pleno funcionamento, o músculo
cardíaco necessita de uma demanda constante de sangue. Assim, a obstrução
parcial ou total das coronárias pode acarretar no surgimento ou agravamento de
fatores de risco ou doenças cardíacas.
Entre elas, estão a insuficiência cardíaca, a
hipertensão arterial, o aneurisma da aorta (quando a maior artéria do corpo
fica enfraquecida, levando a dilatação acentuada deste vaso sanguíneo) e o
infarto do miocárdio (a interrupção do fluxo sanguíneo desencadeia o infarto e
o processo de necrose da musculatura do coração).
Existe ainda a possibilidade de que o mesmo processo
que acontece com as coronárias ocorra em outras artérias do corpo. O resultado
pode ser a falta de sangue no cérebro, que provoca o AVC, ou a ausência de
sangue suficiente nos pés, mãos ou braços, causando a doença vascular
periférica.
Tipos mais comuns de diabetes
Entre os tipos mais comuns da doença estão o 1 e o 2.
Segundo a SBD, o tipo 1 concentra entre 5% e 10% do total de pessoas com a
doença e é causado pela falta ou perda da capacidade do pâncreas em produzir
insulina suficiente. É um tipo caracterizado por ser autoimune e genético (uma
mutação nos genes). Geralmente, aparece na infância ou adolescência. Pessoas
com parentes próximos que têm ou tiveram a doença devem fazer exames
regularmente para acompanhar a glicose no sangue.
Já o tipo 2 é frequentemente adquirido com o passar
dos anos, no geral na fase adulta. Cerca de 90% das pessoas com diabetes
apresentam o tipo 2 e é nele que está o maior perigo para os problemas
cardiovasculares. Nesses casos, as células adiposas e musculares não conseguem
aproveitar completamente o hormônio liberado pelo pâncreas e a glicose passa a
ser utilizada de modo ineficaz pelo organismo.
Este tipo não apenas potencializa as chances de
complicações cardíacas, mas também costuma vir associado aos principais fatores
de risco para as doenças que acometem o coração, como obesidade, pressão e
colesterol altos.
A causa do diabetes tipo 2 está diretamente
relacionada a hábitos e estilo de vida, envolvendo má alimentação, falta de
atividade física regular, sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados,
hipertensão arterial e hábitos alimentares inadequados. Seu agravamento pode
acarretar no diabetes latente autoimune do adulto (LADA), caracterizado,
basicamente, pelo desenvolvimento de um processo autoimune do organismo, que
começa a atacar as células do pâncreas.
Diabetes gestacional
Na gravidez, o corpo da mãe e o do bebê precisam
garantir suas necessidades: o organismo da criança exige uma demanda alta de
açúcar para seu desenvolvimento e o corpo da mãe responde com insulina, na
tentativa de controlar o excesso da substância no organismo.
Além desta batalha, na gestação, outros hormônios são
liberados pela placenta e acabam atrapalhando o processo de controle da taxa de
glicemia no sangue. Eles forçam o pâncreas materno a trabalhar mais para manter
os níveis da substância equilibrados. O problema é que, muitas vezes, nem todo
esse esforço é suficiente. O resultado é a sobra de açúcar na corrente
sanguínea, a hiperglicemia. É daí que surge o diabetes gestacional.
Mesmo sem nunca ter apresentado qualquer tendência ao
diabetes, é possível que a mulher veja suas taxas de açúcar subirem durante a
gravidez. E se não for devidamente diagnosticado e tratado, o diabetes gestacional
pode trazer complicações à saúde da mãe e do bebê, como o ganho de peso
excessivo (para ambos), aumento no líquido amniótico, malformações fetais e
parto prematuro.
Seus desdobramentos servem ainda como precursores de
fatores de risco e doenças que afetam o coração, inclusive o surgimento de
pré-diabetes ou diabetes tipo 2 depois da gravidez ou do nascimento.
Pré-diabetes
O pré-diabetes se caracteriza quando os níveis de
glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas ainda não tão elevados para
caracterizar os tipos 1 ou 2. É um alerta do corpo, que geralmente aparece em
obesos, hipertensos e/ou pessoas com alterações nos lipídios. É um sinal
importante por ser a única etapa do diabetes que pode ser revertida, prevenindo
a evolução da doença e o aparecimento de outras questões associadas.
Prevenção e cuidados
Assim como outras doenças crônicas, é possível
conviver com o diabetes por meses ou anos até que os sintomas se tornem
evidentes ou que as alterações nos níveis de glicose sejam detectadas em um
exame de rotina. Porém, a demora no diagnóstico, além de ser perigosa, é uma
oportunidade perdida para iniciar os cuidados antes de o problema se agravar.
Isso porque, logo no início, as chances de monitorar e reverter ou retardar a
evolução do quadro é muito maior.
Uma vez com o diagnóstico da doença, o controle
glicêmico passa a ser fundamental. E aqui vale um alerta: ter ou não sintomas
não deve ser um indicador. Muitos diabéticos acreditam que a falta de sinais
indicam que o problema está sob controle. Creem que podem continuar a comer o
que quiserem, seguir sem praticar atividades físicas e até mesmo descuidar da
medicação, com a possibilidade de aderir ao tratamento e aos cuidados depois. A
negligência ou esta demora podem ter desfechos graves, muitas vezes com danos
irreversíveis.
Assim, seguir as recomendações médicas e realizar a
automonitorização desde o início são essenciais para prevenir o surgimento de
doenças cardíacas e outras complicações. É importante adotar um estilo de vida
com hábitos saudáveis, incluindo alimentação equilibrada, prática de exercícios
físicos, controle da pressão e do colesterol, controle de peso e da gordura
abdominal, não fumar e reduzir o estresse diário. Em muitos casos, é necessário
também o uso de medicamentos, como a metformina e as sulfonilureias, além da
utilização da insulina.
O fato é que as pessoas não morrem de diabetes, mas
sim da falta de controle e por consequências da enfermidade. É possível
conviver com a doença, transformando a condição em um motivo extra para cuidar
da saúde. Comportamentos saudáveis evitam e ajudam no controle não apenas do
diabetes, mas de outras doenças crônicas e fatores de risco para o coração.
Fonte: https://www.minhavida.com.br/saude/materias/37947-entenda-como-o-diabetes-afeta-a-saude-do-seu-coracao
- Escrito por Paulo Chaccur