quinta-feira, 11 de julho de 2019

Grounded running: um jeito mais seguro de correr?


Especialistas testam um tipo de passada que mal tira os pés do chão para minimizar o risco de lesões

Há basicamente duas maneiras de correr em velocidade baixa: uma é tentar manter a dinâmica das passadas aceleradas, dando pequenos saltos, e o outro se parece mais com a marcha atlética (aqui, praticamente não há um momento em que ambos os pés ficam no ar). Essa segunda “modalidade” ganhou o apelido de grounded running em inglês, ou corrida térrea na tradução livre.

Pois pesquisadores belgas e japoneses compararam essas técnicas em um experimento com 30 homens e publicaram os resultados no periódico Medicine & Science in Sports & Exercise. Em suma, os voluntários tiveram que experimentar os dois métodos em cima de uma esteira que mantinha sempre a mesma velocidade.

“O impacto e a sobrecarga muscular foram menores com a grounded running”, revela o cinesiologista Dirk de Clercq, da Universidade de Ghent, na Bélgica, e coordenador da investigação. Ao contrário do imaginado, as duas práticas queimaram um número parecido de calorias.

Benefícios do grounded running

Músculos: essa forma de sair correndo por aí reduz em 34% a sobrecarga muscular, segundo aquele artigo do belga Dirk de Clercq.

Pernas: a grounded running não funciona em altas velocidades. Nos ritmos menos intensos, ela consiste em abrir mais os membros inferiores em vez de saltitar.

Chão: em comparação com a corrida normal, a versão térrea gerou um impacto 35% menor com o solo.

Pés: como consequência do movimento das pernas, há sempre (ou quase sempre) um pé em contato com o chão.


quarta-feira, 10 de julho de 2019

10 mitos de medicina que pacientes e médicos devem esquecer


Uma nova pesquisa da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos EUA, fez uma descoberta apavorante: mais de 400 práticas médicas comuns foram desacreditadas por estudos científicos.

Isso significa que diversas práticas rotineiras podem estar sendo realizadas em pacientes sem apoio científico que corrobore sua eficácia.

O estudo: metodologia
Os pesquisadores analisaram 3.000 estudos publicados em três importantes revistas científicas médicas: JAMA, The Lancet (artigos divulgados entre 2003 e 2017) e The New England Journal of Medicine (artigos divulgados entre 2011 e 2017).

A conclusão? Mais de um a cada dez estudos podem ser classificados como uma “controvérsia médica”, significando que os resultados foram opostos ao senso comum sobre a prática entre os médicos.

“Você ganha um senso de humildade. Pessoas muito inteligentes e bem-intencionadas praticam essas coisas por muitos e muitos anos. Mas estavam erradas”, disse um dos autores do estudo, o Dr. Vinay Prasad, ao The New York Times.

10 mitos médicos
Abaixo, você pode conferir dez sensos comuns médicos versus as descobertas dos estudos que os contradizem:

Estouro da bolsa e decisão de fazer o parto
A prática mais comum, quando a bolsa d’água de uma grávida estoura, é realizar o parto da criança imediatamente, mesmo que tal parto seja prematuro. Isso porque, sem a membrana e o fluido amniótico que protege o feto, os obstetras têm medo (e com razão) de que o bebê seja exposto a uma infecção bacteriana. Logo, seria melhor puxá-lo para fora.
Contudo, um estudo clínico rigoroso descobriu que, se os médicos monitorarem atentamente o feto enquanto aguardam o parto ocorrer naturalmente, o bebê não fica em risco maior de infecção. Além disso, há uma vantagem óbvia em esperar: crianças que são deixadas na barriga até o momento do parto natural são mais saudáveis, com menos problemas respiratórios e menos risco de morte do que aquelas que são imediatamente retiradas na barriga da mãe quando a bolsa estoura.

Peixes gordurosos ricos em ômega-3 e risco de doença cardíaca
Peixes gordurosos ricos em ácidos graxos ômega-3 sempre foram considerados um bom alimento para diminuir o risco de doenças cardíacas. Parece óbvio: pessoas com dietas ricas em peixes gordos têm menos incidentes cardíacos; suplementos de ômega-3 diminuem o nível de triglicérides no organismo, e sabemos que níveis altos dessa gordura levam a um risco maior de doença cardíaca; e o ômega-3 parece diminuir a inflamação, outro fator de risco para doença cardíaca.
Apesar de tudo isso, a pesquisa não tem encontrado eco desses benefícios na vida real: um suplemento diário de ômega-3 não forneceu nenhuma vantagem para os participantes de um estudo com 12.500 pessoas em grande risco de doença cardíaca.

Alergia a amendoim
Uma das alergias mais comuns, muitos médicos pensam que ela ocorre com mais frequência se a criança for exposta a amendoins antes dos 3 anos, de forma que pediatras têm aconselhado os pais a manter seus filhos longe do alimento até essa idade.
A pesquisa científica mostrou, porém, que crianças expostas a amendoim antes mesmo de completarem um ano de idade não tinham risco maior de desenvolver a alergia do que crianças que não foram expostas.

Ginkgo biloba, memória e demência
Ginkgo biloba é uma árvore de origem chinesa, conhecida também como nogueira-do-japão ou simplesmente ginkgo, utilizada na medicina tradicional chinesa como uma forma de preservar a memória.
Suplementos feitos de folha de gingko são populares: pelo menos nos EUA, movimentam um mercado de US$ 249 mi (cerca de R$ 956 mi, no câmbio atual). O único problema é que um grande estudo nacional americano descobriu que eles não ajudam a impedir a perda de memória, diminuindo assim o risco de demência, por exemplo.

Dor aguda e opioides
Aparentemente, muitos médicos tratam pacientes em extrema dor que chegam ao pronto-socorro com uma dose única de um opioide oral (por exemplo, um opioide comum é a morfina).
De fato, opioides são medicamentos poderosos, mas um estudo clínico chegou à conclusão de que opções muito mais seguras, como aspirina e ibuprofeno, funcionam igualmente para aliviar a dor.

Testosterona e perda de memória em homens
Pesquisas iniciais indicaram que alguns homens com níveis baixos de testosterona podem ter problemas de memória. Os homens com níveis mais altos pareciam ter mais tecido cerebral em boas condições em algumas partes do órgão. Homens idosos com níveis maiores de testosterona também se saíram melhores em testes para avaliar a função mental.
Dito isso, um estudo clínico bem conduzido concluiu que pílulas de testosterona não eram melhores que placebo para evitar perda de memória em idosos.

Asma e pestes domésticas
Médicos normalmente recomendam que as casas de pessoas com asma sejam dedetizadas para se livrarem de ácaros, ratos e baratas. A hipótese por trás desse conselho é que reações alérgicas a tais animais podem levar a ataques de asma.
Um estudo que incluiu dedetização intensa nas residências com crianças sensíveis a alérgenos descobriu que isso não é capaz de reduzir a frequência de ataques de asma.

Contar calorias e perder peso
Será que usar um aplicativo de smartphone ou um diário para contar quantas calorias você perdeu diariamente pode te ajudar a emagrecer, te mantendo consciente do seu progresso?
Alguns médicos acham que sim, mas um estudo de longo alcance, com 470 participantes seguidos por dois anos, concluiu o oposto. Os participantes que registraram suas atividades e as calorias que perderam emagreceram menos do que aqueles que apenas seguiram recomendações gerais.

Lesões de menisco e cirurgia
Rupturas de menisco estão entre as lesões mais comuns no joelho, principalmente entre atletas. Nos EUA, cerca de 460.000 pacientes realizam operação nessa parte do corpo anualmente. Isso porque tais lesões são muito dolorosas, e as pessoas pensam que a dor não aliviará a menos que façam a cirurgia.
No entanto, um estudo que seguiu diversos pacientes com rupturas no menisco e artrite moderada descobriu que seis meses de fisioterapia têm o exato mesmo efeito que a cirurgia para melhorar a dor e qualidade de vida dos indivíduos.

Bonecas realistas, adolescentes e gravidez precoce
Alguns médicos parecem acreditar que dar a uma adolescente uma boneca realista que exige cuidados maternos pode desencorajar a gravidez precoce, uma vez que as garotas entenderiam o trabalho que ter um filho realmente dá.
Um estudo, entretanto, concluiu o oposto: adolescentes que tiveram uma boneca realista eram na verdade ligeiramente mais propensas a engravidar que garotas que não ganharam uma boneca.

A revisão de estudos foi publicada na revista eLife. [TheNewYorkTimes]


terça-feira, 9 de julho de 2019

Ciência confirma: esquecer coisas é um sinal de inteligência


Ser uma pessoa esquecida pode ser um sinal muito bom: de acordo com um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, esquecer coisas é normal e inclusive pode nos deixar mais inteligentes.

Como assim?
A pesquisa, liderada por Paul Frankland e Blake Richards e publicada em 2018, revela que esquecer detalhes menores é perfeitamente natural.

Não estamos falando de ser tão esquecido a ponto de não funcionar bem no dia a dia, mas sim de dar um branco ao tentar se lembrar de um endereço, ou ir embora de um restaurante e abandonar seu guarda-chuva lá sem querer.

Isso tudo porque o maior objetivo do nosso cérebro é otimizar as informações que guardamos para realizar processos como reflexão e tomada de decisão. Logo, é melhor se lembrar daquilo que importa e esquecer todos os detalhes insignificantes e desnecessários que não colaboram tanto assim com o nosso nível de inteligência.

“É importante que o cérebro esqueça detalhes irrelevantes e se concentre em coisas que nos ajudarão a tomar decisões no mundo real”, explicou Richards à CNN.

Faz sentido, não?

Esquecer às vezes é essencial
Nosso cérebro faz uma série de coisas para nos tornar mais inteligentes.

Por exemplo, ele nos ajuda a “esquecer” de detalhes específicos sobre eventos passados enquanto ainda somos capazes de nos lembrar deles de uma forma universal, o que nos dá a habilidade de generalizar experiências anteriores e aplicar nossas conclusões a situações atuais.

Além disso, conforme novas células são formadas em uma área do cérebro conhecida como hipocampo, dedicada ao aprendizado, novas conexões substituem memórias antigas, tornando-as mais difíceis de serem acessadas. Apesar do que possa parecer, essas “substituições” constantes têm benefícios, permitindo que nos adaptemos a novas situações sem nos preocupar com informações antigas que poderiam nos levar a cometer erros.

O propósito de dormir? Esquecer, dizem cientistas
“Se você está tentando navegar pelo mundo e seu cérebro está constantemente trazendo memórias conflitantes à tona, fica mais difícil para você tomar uma decisão informada”, esclarece Richards.

E como os pesquisadores sabem de tudo isso?
A dupla já realizou diversas pesquisas com ratos, modelos animais interessantes por sua proximidade biológica com algumas funções humanas.

Frankland e Richards chegaram à conclusão que ser esquecido era um sinal de inteligência depois de anos de dados acumulados sobre memória e atividade cerebral em experiências com os roedores.

“Todos nós admiramos a pessoa que é muito boa em trivias ou que sempre vence jogos de perguntas e respostas, mas o fato é que a evolução moldou nossa memória não para ganhar um jogo de trivia, e sim para tomar decisões inteligentes. Quando olhamos para o que é necessário para tomar decisões inteligentes, argumentamos que é saudável esquecer algumas coisas”, resume Richards.

Na medida certa
Ok, então tudo bem esquecer coisas, principalmente aquelas que não precisamos mais nos lembrar por conta de todos os nossos computadores e smartphones, como números de telefone.

Mas se você anda esquecido demais, é melhor procurar ajuda médica. “Você não quer esquecer tudo e, se você está esquecendo muito mais do que o normal, isso pode ser motivo de preocupação. Já se você é alguém que esquece detalhes ocasionais, isso é provavelmente um sinal de que seu sistema de memória está perfeitamente saudável e fazendo exatamente o que deveria estar fazendo”, conclui Richards.

Se você está procurando por uma forma fácil de “limpar” detalhes desnecessários do seu cérebro que você não precisa para tomar boas decisões, Richards recomenda algo muito simples: exercícios físicos regulares.

“Sabemos que o exercício aumenta o número de neurônios no hipocampo. Isso pode fazer com que algumas lembranças se percam, mas são exatamente aqueles detalhes de sua vida que realmente não importam, e que podem te impedir de tomar boas decisões”, explica.

Um artigo sobre a pesquisa foi divulgado na revista científica Neuron. [TheScienceandSpace, CNN]


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Chás para emagrecer: as bebidas que prometem combater o inchaço


Infusões com um mix de ervas invadiram o mercado e a internet com a promessa de desinchar e levar à perda de peso. Investigamos essa história

Nos últimos anos, os chás e infusões têm atraído um número crescente de pessoas pelo seu potencial emagrecedor. Vira e mexe uma erva rouba a cena. Já foi o chá-verde. Depois o hibisco. Agora é a vez de uma mistura: uma combinação de folhas de chá-verde, mate verde, hortelã, sálvia, carqueja e alecrim, além do pó da raiz desidratada do gengibre e da semente de guaraná.

A fórmula é comercializada por marcas como Desinchá e Herbal Nutrition e também pela rede de produtos naturais Mundo Verde. A proposta? Acabar com a retenção de líquidos e, claro, viabilizar o emagrecimento. Para ter ideia do sucesso, a Desinchá, primeira a lançar a receita, cresceu 2 740% nos primeiros seis meses de atuação, e está em mais de 7 mil pontos de vendas pelo país.

“O blend oferece um estímulo diurético, que ajuda na eliminação de líquidos pelo corpo. Além disso, combate a formação de gases”, explica a nutricionista Ana Paula Montemor, consultora da Desinchá, de São José dos Campos, no interior paulista. “A combinação ainda apresenta ação termogênica, ou seja, eleva o gasto calórico e facilita o emagrecimento”, acrescenta.

Como se não bastasse, a especialista cita propriedades anti-inflamatórias, que tornariam o organismo mais saudável. Para experimentar tudo isso na prática, a sugestão é consumir de um a dois sachês do chá por dia — quente ou frio, fica a critério do freguês.

Mas, antes de comprar a ideia (e os produtos), é preciso gerenciar as expectativas. Ora, não basta só tomar as xícaras por algum tempo e, pronto, a barriga vai embora. Apesar de soar clichê, não existem milagres quando o assunto é a perda de peso.

“Em geral, o efeito dos chás no emagrecimento é discreto. Quem busca esse objetivo precisa adotar uma alimentação balanceada, praticar exercícios físicos regularmente e ter um sono de boa qualidade”, defende a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a Abeso. A bebida seria, assim, um coadjuvante no processo.

Conheça cada ingrediente do mix que tem feito sucesso no mundo do emagrecimento
Sálvia: esta erva reúne certos ativos, como óleos essenciais e flavonoides, que combatem a formação de gases e são diuréticos.

Mate verde: tem papel antioxidante, anti-inflamatório, diurético e lipolítico, ou seja, aumenta a queima de gordura devido à presença de xantinas.

Hortelã: contribui para a digestão de proteínas e, por causa do mentol, favorece os movimentos intestinais e reduz a formação de gases.

Gengibre: a raiz possui bioativos com ação anti-inflamatória e diurética, além de acelerar o metabolismo e estimular a queima de gordura.

Guaraná: a semente da planta usada nos chás apresenta substâncias que elevam o gasto calórico e baixam o colesterol.

Chá-verde: é diurético e dá pique. Graças às catequinas, combate os radicais livres que atormentam as células e ajuda a impedir o acúmulo de gordura.

Carqueja: melhora a digestão e impede o acúmulo de gordura nas células. Também evita a retenção de líquidos.

Alecrim: concentra substâncias que previnem o estufamento causado pelos gases e exibe potencial antioxidante e anti-inflamatório.

Como os chás ajudam no emagrecimento
Nunca é demais reforçar que o ganho de peso e o inchaço são influenciados por vários fatores, como estilo de vida sedentário, alimentação desequilibrada, excesso no consumo de sal, baixa ingestão de água e até alterações hormonais. Sem falar que o metabolismo de cada pessoa é diferente. Sozinho, um chá não tem poder para driblar tudo isso. Mas será que a nova mistura de plantas é especialmente eficaz?

“Por ter uma quantidade limitada de cada ingrediente, a fórmula acaba restringindo a ação das ervas”, avalia Vanderli Marchiori, nutricionista e presidente da Associação Paulista de Fitoterapia. “Por outro lado, pode haver uma sinergia entre elas. Mas, para confirmar isso, é necessário fazer um estudo com o blend na proporção em que é vendido. Hoje, não temos esses dados”, completa.

De fato, algumas ervas isoladas e em maiores concentrações são capazes de oferecer ótimos resultados, informa a nutricionista especialista em fitoterapia Roseli Rossi, da Clínica Equilíbrio Nutricional, na capital paulista. É o caso do chá-verde, feito a partir da planta Camellia sinensis — que também dá origem ao chá-branco e ao chá-preto.

Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq) já testaram a bebida durante dois meses entre mulheres acima do peso e verificaram que ela impulsionou o emagrecimento — principalmente quando aliada ao exercício.

Um dos motivos é a alta concentração de catequinas, que parecem favorecer a quebra de gorduras. Já a cafeína presente na planta contribuiria para a transformação dessa gordura em energia.

Outra espécie parceira é a erva-mate, nativa do Brasil — opção mais barata do que o blend, diga-se. De acordo com um estudo sul-coreano, pessoas com sobrepeso que consumiram cápsulas com a erva tiveram uma redução no percentual de gordura corporal após 12 semanas de uso.

Mas uma pesquisa nacional, da Universidade Federal de Santa Catarina, chegou a identificar efeito emagrecedor da própria bebida entre indivíduos com alteração no colesterol. A cafeína (mais uma vez!) e as propriedades diuréticas do chá-mate responderiam pela façanha.

Opções para atuarem como parceiras na perda de peso não faltam. Mas, se você curtiu pra valer o gostinho daquele mix de oito ingredientes, vá em frente. “É uma maneira de ingerir mais líquidos com prazer e sem calorias. Desde que não seja adicionado açúcar à preparação, claro”, diz Vanderli.

“Esse mix também ajuda a controlar a vontade de doce, uma vez que estimula as papilas gustativas a aceitarem melhor os sabores amargo e azedo”, observa Ana Paula.

Não dá para negar que uma infusão ao natural, seja de qual tipo for, cai melhor do que bebidas açucaradas, como achocolatado, refrigerante e néctar. Ainda assim, nada de exagerar na quantidade, tá? “O consumo, em geral, não deve ultrapassar 1 litro por dia, justamente por conter substâncias diuréticas e estimulantes”, lembra Vanderli. Bom senso é bem-vindo até na hora do chá.

Dicas que fazem a diferença na hora de consumir a sua infusão preferida
Melhor não adoçar: prefira tomar o chá sem açúcar. Assim, evita-se incluir mais calorias na dieta. Se achar difícil de engolir, bote um tiquinho de mel.

Prefira o natural: em geral, os chás prontos têm menos propriedades (e mais açúcar) do que os feitos com folhas secas ou saquinhos.

O tempo certo: “coloque a erva na água fervente e deixe por três a cinco minutos para liberar os fitoquímicos importantes”, ensina Vanderli Marchiori.

A proporção ideal: para cada sachê, use 250 mililitros de água. E, para cada litro, uma colher de sopa da planta seca. Diluir demais reduz os efeitos da erva.

Tem cafeína? Pense no sono: como a substância é estimulante, chás como o verde e o mate devem ser evitados a partir das 17 h para não interferir no descanso noturno.

Quando tomar: evite os chás no almoço e jantar. “Substâncias como a cafeína prejudicam a absorção de ferro dos alimentos”, diz Clarissa Fujiwara.

Não ignore o inchaço
Muitas vezes ele é resultado de situações como aumento da temperatura (que dilata os vasos), excesso no consumo de sal e até ação dos hormônios. No entanto, há casos em que o inchaço sinaliza questões mais sérias, a exemplo de doenças cardiovasculares, diabetes e problemas renais.

“Observe se ele incomoda, se persiste por mais de cinco dias e se há outros sintomas associados”, recomenda a médica Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela Universidade de São Paulo. “Caso já tenha uma doença conhecida, procure o médico com urgência”, avisa.


domingo, 7 de julho de 2019

Pouca massa muscular em braços e pernas elevaria risco de morte em idosos


Estudo com população acima de 65 anos mostrou que mortalidade sobe consideravelmente quando faltam músculos nos membros

Avaliar a composição corporal de pessoas com mais de 65 anos – particularmente a massa muscular localizada nos braços e nas pernas (apendicular) – pode ser uma estratégia eficaz para estimar a longevidade, mostrou um estudo feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

Depois de acompanhar um grupo de 839 idosos ao longo de aproximadamente quatro anos, os pesquisadores observaram que o risco de mortalidade geral durante o período foi quase 63 vezes maior entre as mulheres com pouca massa muscular apendicular. Entre os homens que já na primeira avaliação apresentavam baixa porcentagem de músculos nos membros, a chance de morrer foi 11,4 vezes maior.

Resultados da pesquisa, apoiada pela Fapesp, foram divulgados no Journal of Bone and Mineral Research.

“Avaliamos a composição corporal da nossa população, com ênfase na massa muscular apendicular, gordura subcutânea e gordura visceral. Em seguida, buscamos identificar quais desses fatores poderiam predizer a mortalidade nos anos seguintes. A quantidade de massa magra nos membros superiores e inferiores foi o que mais se destacou na análise”, disse Rosa Maria Rodrigues Pereira professora da Disciplina de Reumatologia da FM-USP e coordenadora da pesquisa, à Agência FAPESP.

Os voluntários foram examinados por uma técnica conhecida como densitometria por emissão de raios X de dupla energia (DXA, na sigla em inglês). O equipamento foi adquirido com auxílio da FAPESP durante um projeto anterior coordenado por Pereira, cujo objetivo era avaliar a prevalência de osteoporose e de fraturas em idosos residentes no bairro do Butantã, zona oeste da capital paulista. Em ambos os projetos foi estudada a mesma população acima de 65 anos.

“Selecionamos os voluntários com base nos dados do censo do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Trata-se de uma amostra representativa da população de idosos do Brasil”, disse Pereira.

Na análise final foram incluídos 323 (39%) homens e 516 mulheres (61%). A frequência de baixa massa muscular nessa amostra foi em torno de 20% em ambos os sexos.

Mal silencioso
A perda generalizada e progressiva de massa muscular associada ao envelhecimento é conhecida como sarcopenia. Dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia indicam que a condição chega a afetar 46% dos indivíduos acima de 80 anos.

Principalmente quando combinada à osteoporose, a sarcopenia pode aumentar a vulnerabilidade dos idosos, tornando-os mais propensos a quedas, fraturas e outros traumas físicos. A relação entre baixa densidade mineral óssea no fêmur e mortalidade foi também demostrada em estudos feitos com essa comunidade, publicados em 2016.

O grupo coordenado por Pereira desenvolveu uma equação para determinar, com base nas características da população estudada, quais indivíduos poderiam ser considerados sarcopênicos.

“Pelos critérios mais usados [ajuste da massa muscular apendicular pela altura ao quadrado], a maioria dos indivíduos identificados como sarcopênicos é magra. Como a população que estudamos apresentava, em média, um IMC [índice de massa corporal] mais elevado, ajustamos o cálculo da massa muscular de acordo com a gordura corporal dos voluntários. Aqueles que apresentavam um índice de massa muscular 20% abaixo da média foram classificados como sarcopênicos”, explicou Pereira.

O tema foi abordado pelos pesquisadores da Disciplina de Reumatologia da FM-USP em artigos publicados na revista Osteoporosis International em 2013.

Além do exame de densitometria, também foram realizadas análises de sangue e aplicados questionários para avaliação da dieta, grau de atividade física, consumo de tabaco e álcool e presença de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e dislipidemia.

Após quatro anos de seguimento, 15,8% (132) dos voluntários haviam morrido. Desses, 43,2% por problemas cardiovasculares. O índice de óbito entre os homens foi de 20%, enquanto entre as mulheres foi de 13%.

“Fizemos então uma série de análises estatísticas para entender em que os voluntários que morreram se diferenciavam dos que permaneceram vivos. A pergunta do trabalho era: com base na composição corporal medida pela densitometria é possível predizer se a pessoa vai morrer?”, disse Pereira.

Diferenças
De modo geral, os indivíduos que morreram eram mais velhos, faziam menos atividade física, sofriam mais de diabetes e de problemas cardiovasculares. Além disso, no caso das mulheres, apresentavam um índice de massa corporal (IMC) mais baixo. No caso dos homens, possuíammaior chance de sofrer quedas. Todas essas variáveis foram acrescentadas no modelo estatístico e ajustadas para não interferirem no resultado final, que indicaria qual fator da composição corporal estaria associado com o risco de morte.

No caso das mulheres, consideradas as variáveis de ajuste, apenas o índice de massa muscular baixo se mostrou significativo. Já entre os homens, a gordura visceral também foi um fator relevante. A chance de morrer tornava-se duas vezes maior a cada aumento de seis centímetros quadrados na adiposidade abdominal. Curiosamente, um índice mais alto de gordura subcutânea teve efeito protetor para os homens estudados.

“Observamos que nos homens outros parâmetros também influenciaram negativamente a mortalidade, diminuindo do ponto de vista estatístico o peso da massa muscular apendicular. Nas mulheres, por outro lado, a massa muscular se destacou de forma isolada e, por esse motivo, teve maior influência”, disse Pereira.

A perda de massa muscular, que naturalmente ocorre após os 40 anos, pode passar despercebida pelo ganho de peso, também comum após essa idade. Estima-se que, após os 50 anos, entre 1% e 2% da massa muscular seja perdida anualmente. Entre os fatores que podem acelerar o fenômeno estão sedentarismo, dieta pobre em proteínas, doenças crônicas e hospitalização.

Além da importância evidente para a postura, o equilíbrio e o movimento, a musculatura tem outras funções essenciais ao organismo. Ajuda a regular os níveis de glicose no sangue (consome energia durante a contração), a temperatura corporal (o corpo treme quando sentimos frio) e produz mensageiros hormonais, como a mioquinase, que promovem a comunicação com diferentes órgãos e influenciam respostas inflamatórias.

A boa notícia é que a sarcopenia é um problema que pode ser evitado e até mesmo revertido com a prática de exercícios físicos, principalmente musculação. Cuidados com a ingestão de proteínas também são recomendados.

Este conteúdo é da Agência Fapesp.

Fonte: https://saude.abril.com.br/bem-estar/pouca-massa-muscular-em-bracos-e-pernas-elevaria-risco-de-morte-em-idosos/ - Por Karina Toledo (Agência Fapesp) - Ilustração: Matheus Costa/SAÚDE é Vital