Infusões com um mix de ervas invadiram o mercado e a
internet com a promessa de desinchar e levar à perda de peso. Investigamos essa
história
Nos últimos anos, os chás e infusões têm atraído um
número crescente de pessoas pelo seu potencial emagrecedor. Vira e mexe uma
erva rouba a cena. Já foi o chá-verde. Depois o hibisco. Agora é a vez de uma
mistura: uma combinação de folhas de chá-verde, mate verde, hortelã, sálvia,
carqueja e alecrim, além do pó da raiz desidratada do gengibre e da semente de
guaraná.
A fórmula é comercializada por marcas como Desinchá
e Herbal Nutrition e também pela rede de produtos naturais Mundo Verde. A
proposta? Acabar com a retenção de líquidos e, claro, viabilizar o emagrecimento.
Para ter ideia do sucesso, a Desinchá, primeira a lançar a receita, cresceu 2
740% nos primeiros seis meses de atuação, e está em mais de 7 mil pontos de
vendas pelo país.
“O blend oferece um estímulo diurético, que ajuda na
eliminação de líquidos pelo corpo. Além disso, combate a formação de gases”,
explica a nutricionista Ana Paula Montemor, consultora da Desinchá, de São José
dos Campos, no interior paulista. “A combinação ainda apresenta ação
termogênica, ou seja, eleva o gasto calórico e facilita o emagrecimento”,
acrescenta.
Como se não bastasse, a especialista cita
propriedades anti-inflamatórias, que tornariam o organismo mais saudável. Para
experimentar tudo isso na prática, a sugestão é consumir de um a dois sachês do
chá por dia — quente ou frio, fica a critério do freguês.
Mas, antes de comprar a ideia (e os produtos), é
preciso gerenciar as expectativas. Ora, não basta só tomar as xícaras por algum
tempo e, pronto, a barriga vai embora. Apesar de soar clichê, não existem
milagres quando o assunto é a perda de peso.
“Em geral, o efeito dos chás no emagrecimento é
discreto. Quem busca esse objetivo precisa adotar uma alimentação balanceada,
praticar exercícios físicos regularmente e ter um sono de boa qualidade”,
defende a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, da Associação Brasileira
para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a Abeso. A bebida seria,
assim, um coadjuvante no processo.
Conheça cada ingrediente do mix que tem feito
sucesso no mundo do emagrecimento
Sálvia: esta erva reúne certos ativos, como óleos
essenciais e flavonoides, que combatem a formação de gases e são diuréticos.
Mate verde: tem papel antioxidante,
anti-inflamatório, diurético e lipolítico, ou seja, aumenta a queima de gordura
devido à presença de xantinas.
Hortelã: contribui para a digestão de proteínas e,
por causa do mentol, favorece os movimentos intestinais e reduz a formação de
gases.
Gengibre: a raiz possui bioativos com ação
anti-inflamatória e diurética, além de acelerar o metabolismo e estimular a
queima de gordura.
Guaraná: a semente da planta usada nos chás
apresenta substâncias que elevam o gasto calórico e baixam o colesterol.
Chá-verde: é diurético e dá pique. Graças às
catequinas, combate os radicais livres que atormentam as células e ajuda a
impedir o acúmulo de gordura.
Carqueja: melhora a digestão e impede o acúmulo de
gordura nas células. Também evita a retenção de líquidos.
Alecrim: concentra substâncias que previnem o
estufamento causado pelos gases e exibe potencial antioxidante e
anti-inflamatório.
Como os chás ajudam no emagrecimento
Nunca é demais reforçar que o ganho de peso e o
inchaço são influenciados por vários fatores, como estilo de vida sedentário,
alimentação desequilibrada, excesso no consumo de sal, baixa ingestão de água e
até alterações hormonais. Sem falar que o metabolismo de cada pessoa é
diferente. Sozinho, um chá não tem poder para driblar tudo isso. Mas será que a
nova mistura de plantas é especialmente eficaz?
“Por ter uma quantidade limitada de cada
ingrediente, a fórmula acaba restringindo a ação das ervas”, avalia Vanderli
Marchiori, nutricionista e presidente da Associação Paulista de Fitoterapia.
“Por outro lado, pode haver uma sinergia entre elas. Mas, para confirmar isso,
é necessário fazer um estudo com o blend na proporção em que é vendido. Hoje,
não temos esses dados”, completa.
De fato, algumas ervas isoladas e em maiores concentrações
são capazes de oferecer ótimos resultados, informa a nutricionista especialista
em fitoterapia Roseli Rossi, da Clínica Equilíbrio Nutricional, na capital
paulista. É o caso do chá-verde, feito a partir da planta Camellia sinensis —
que também dá origem ao chá-branco e ao chá-preto.
Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq) já testaram a bebida durante
dois meses entre mulheres acima do peso e verificaram que ela impulsionou o
emagrecimento — principalmente quando aliada ao exercício.
Um dos motivos é a alta concentração de catequinas,
que parecem favorecer a quebra de gorduras. Já a cafeína presente na planta
contribuiria para a transformação dessa gordura em energia.
Outra espécie parceira é a erva-mate, nativa do
Brasil — opção mais barata do que o blend, diga-se. De acordo com um estudo
sul-coreano, pessoas com sobrepeso que consumiram cápsulas com a erva tiveram
uma redução no percentual de gordura corporal após 12 semanas de uso.
Mas uma pesquisa nacional, da Universidade Federal
de Santa Catarina, chegou a identificar efeito emagrecedor da própria bebida
entre indivíduos com alteração no colesterol. A cafeína (mais uma vez!) e as
propriedades diuréticas do chá-mate responderiam pela façanha.
Opções para atuarem como parceiras na perda de peso
não faltam. Mas, se você curtiu pra valer o gostinho daquele mix de oito
ingredientes, vá em frente. “É uma maneira de ingerir mais líquidos com prazer
e sem calorias. Desde que não seja adicionado açúcar à preparação, claro”, diz
Vanderli.
“Esse mix também ajuda a controlar a vontade de
doce, uma vez que estimula as papilas gustativas a aceitarem melhor os sabores
amargo e azedo”, observa Ana Paula.
Não dá para negar que uma infusão ao natural, seja
de qual tipo for, cai melhor do que bebidas açucaradas, como achocolatado,
refrigerante e néctar. Ainda assim, nada de exagerar na quantidade, tá? “O
consumo, em geral, não deve ultrapassar 1 litro por dia, justamente por conter substâncias
diuréticas e estimulantes”, lembra Vanderli. Bom senso é bem-vindo até na hora
do chá.
Dicas que fazem a diferença na hora de consumir a
sua infusão preferida
Melhor não adoçar: prefira tomar o chá sem açúcar.
Assim, evita-se incluir mais calorias na dieta. Se achar difícil de engolir,
bote um tiquinho de mel.
Prefira o natural: em geral, os chás prontos têm
menos propriedades (e mais açúcar) do que os feitos com folhas secas ou
saquinhos.
O tempo certo: “coloque a erva na água fervente e
deixe por três a cinco minutos para liberar os fitoquímicos importantes”,
ensina Vanderli Marchiori.
A proporção ideal: para cada sachê, use 250
mililitros de água. E, para cada litro, uma colher de sopa da planta seca.
Diluir demais reduz os efeitos da erva.
Tem cafeína? Pense no sono: como a substância é
estimulante, chás como o verde e o mate devem ser evitados a partir das 17 h
para não interferir no descanso noturno.
Quando tomar: evite os chás no almoço e jantar.
“Substâncias como a cafeína prejudicam a absorção de ferro dos alimentos”, diz
Clarissa Fujiwara.
Não ignore o inchaço
Muitas vezes ele é resultado de situações como
aumento da temperatura (que dilata os vasos), excesso no consumo de sal e até
ação dos hormônios. No entanto, há casos em que o inchaço sinaliza questões
mais sérias, a exemplo de doenças cardiovasculares, diabetes e problemas
renais.
“Observe se ele incomoda, se persiste por mais de
cinco dias e se há outros sintomas associados”, recomenda a médica Maria
Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela Universidade de São Paulo. “Caso
já tenha uma doença conhecida, procure o médico com urgência”, avisa.