Para a saúde e a longevidade, o importante é
aumentar o gasto calórico, independentemente do tipo de atividade. Vale subir
escada e até andar no escritório
Nas últimas décadas observamos um crescimento enorme
da divulgação de que a atividade física é benéfica à saúde. Isso suscitou a
multiplicação do número de academias, muito mais espaço na mídia, novos e
atraentes métodos, dietas revolucionárias, o aparecimento da figura do personal
trainer e, mais recentemente, os blogs e páginas do Twitter, Facebook,
Instagram, etc.
Com exceção dos enganadores, marketeiros –
vendedores de ilusão que não têm nenhum conhecimento, mas apregoam dietas e
exercícios milagrosos, mascarados na alegação de que somente estão divulgando o
que fazem – tudo isso é sensacional.
Sem dúvida a prática de exercícios e a adoção de
hábitos mais saudáveis implica na melhora da saúde e da qualidade de vida, na
diminuição do absenteísmo, em menores gastos e menores filas nos serviços de
saúde, menos utilização de remédios e aumento na expectativa de vida.
Sabemos também que a carga de exercícios ideal é
individual. O que fazer, como e quanto é relativo ao indivíduo, e os exames
clínicos, as avaliações, os testes físicos são importantes para a identificação
das características individuais, potencialidades e fatores limitantes que vão
orientar a montagem do programa de treinamentos.
Porém existe outro aspecto igualmente importante que
não envolve profissionais da área e só depende de cada um. Segundo a
Organização Mundial de Saúde quem gasta menos de 500 calorias por semana é
considerado sedentário; entre 501 e 1.999 calorias/semana são moderadamente
ativos e acima de 2.000 calorias/semana são ativos.
Ralph Paffenbarger estudou 16.000 alunos e ex-alunos
da Universidade de Harvard por 16 anos e chegou a conclusões muito
interessantes. Os indivíduos que sempre se mantiveram ativos apresentaram um
índice de mortalidade 37% menor que os que sempre se mantiveram sedentários. Os
indivíduos sedentários que se tornaram moderadamente ativos apresentaram um
índice de mortalidade 21% menor do que os sedentários. Os que se tornaram
ativos, um índice 28% menor.
Os ativos de 35 a 39 anos de idade apresentaram um
aumento de 2,51 anos na expectativa de vida e de 0,42 anos nos indivíduos de 75
a 79 anos. Além disso, a porcentagem de pessoas com mais de 80 anos foi maior
no grupo ativo (69,7%) do que no sedentário (59,8%).
O que é importante salientar sobre esse estudo é que
esses benefícios ocorreram simplesmente em função do aumento do gasto calórico,
independentemente do tipo de atividade. Já vimos a importância da supervisão de
profissionais no programa de condicionamento físico, mas se pudermos aumentar o
gasto de energia em nossas atividades corriqueiras já teremos muita vantagem.
Utilize mais as escadas. Não precisa subir 12
andares, mas pode ir até o 10º andar de elevador e subir 2 de escada já ajuda.
Descer também vale.
Desça do metrô ou do ônibus uma ou duas estações ou
pontos distantes da sua e complete o trajeto a pé.
No carro, não fique neurótico tentando achar uma
vaga para estacionar ao lado do elevador do shopping ou na frente da loja, pare
distante, caminhe. Valet Parking nem pensar, se não for pela saúde, pelo preço
exorbitante.
Explore a redondeza, na hora do almoço caminhe em
busca de uma nova padoca ou um novo quilo, além do exercício, você pode ter uma
grata surpresa.
No trabalho, levante. Não fique muito tempo sentado.
Coloque a cafeteira em outro cômodo ou andar, a impressora em outra mesa. Não
fique deslizando pelo escritório na cadeira com rodinhas. Seja criativo, o que
importa é gastar energia. Levantar e ir à mesa ao lado para pegar o papel na
impressora realmente não é um gasto grande, mas você tirou seu organismo da
estabilidade, aumentou seu metabolismo, que vai demorar alguns minutos para se
reduzir. Se nesse tempo você for pegar um cafezinho, o metabolismo aumenta de
novo e assim por diante. Cada ação dessas isolada não gasta tanta energia, mas
a soma delas ao longo do dia vai representar um gasto significativo.
Esses cálculos não são exatos, aliás, muito longe
disso, porque existem inúmeras variações e interferências, mas só para se ter
uma ideia vamos estabelecer que gastamos 1,0 cal/minuto. Isso significaria um
gasto de 60 calorias/hora ou 1.440 calorias/dia.
Se essas pequenas ações elevassem o gasto calórico
para 1,2 caloria/minuto teríamos 1.728 caloria/dia, ou seja 288 calorias a
mais. Novamente com ressalvas, uma caminhada a 6 km/h por uma hora gasta 300
calorias.
É difícil de acreditar, mas é verdade! Inclusive,
isso é bem documentado quando se compara o grau de condicionamento físico de
pedreiros, faxineiros e carteiros com escriturários, ascensoristas e
telefonistas. As atividades profissionais que demandam um gasto energético
maior propiciam um melhor estado de saúde, como pressão arterial, níveis de
colesterol, glicemia, densidade óssea e vários outros marcadores do que as
menos ativas.
O corpo é extremamente adaptativo, nos adaptamos ao
frio, ao calor, à poluição, à altitude, a tudo. Nos adaptamos ao sedentarismo,
o corpo fica mais eficiente, gasta menos energia para fazer a mesma coisa que
fazia antes. Gasta cada vez menos energia e por isso perde massa muscular,
perde massa óssea, acumula mais gordura e mais açúcar, as artérias se
endurecem, entopem, a pressão sobe, o coração acelera, os pulmões funcionam
menos, o resto, você já sabe!
Felizmente o contrário também ocorre, nos adaptamos
a ser mais ativos e ganhamos músculos, queimamos gordura e açúcar, a pressão
diminui, etc.
Eu sei que você vai marcar a consulta médica, fazer
os exames periódicos, os testes físicos, vai consultar uma nutricionista e
passar a comer melhor, vai contratar um personal trainer, se matricular na
academia, parar de fumar, dormir melhor, diminuir o stress, eu sei. Mas
enquanto você agenda tudo isso, que tal adotar aquelas simples medidas?