Nossa colunista explica como o machismo e a falta de
preocupação com o envelhecimento prejudicam a saúde do sexo masculino
Embora todos nós, homens e mulheres, tenhamos o
potencial de viver a velhice como uma realidade e em sua plenitude, a grande
maioria da ala masculina ainda evita pensar sobre “ser idoso” e, com isso,
deixa de se preparar para alcançar a maturidade com qualidade de vida.
Na verdade, existe uma espécie de contradição. Os
homens são considerados fisicamente mais fortes, só que, em termos de
expectativa de vida, vivem menos que as mulheres. Podemos atribuir essa
discrepância a fatores biológicos, sociais, psicológicos e comportamentais.
Estudos apontam que os membros do sexo masculino
costumam pensar, de fato, na velhice após os 45 anos de idade e, ainda assim,
como algo distante. Há um erro de timing aí se considerarmos que o organismo
entra no processo de envelhecimento a partir dos 28 anos.
Mas por que será que a rapaziada empurra com a
barriga esse olhar lá na frente? Podemos atribuir isso a questões como medo de
que, com a idade, surjam doenças incapacitantes, que levem à perda de autonomia
e independência. Também há o receio da solidão, de se tornar impotente e perder
a virilidade, bem como o temor da morte.
Todos esses pontos tornam a relação entre o homem
com a saúde e a sobrevivência um tanto complexa. E ajudam a entender inclusive
a resistência de parte da ala masculina a mudar alguns hábitos e a tendência a
se esquivar dos cuidados preventivos.
Diferentemente de nós, mulheres, acostumadas ao
acompanhamento médico (ao menos com o ginecologista), boa parcela dos homens
não costuma ter o monitoramento e a orientação do profissional de saúde – algo
que deveria se estender da infância, passar pela adolescência e continuar na
vida adulta. Existe, a meu ver, uma crença de que, enquanto eles estão
trabalhando e são produtivos, não há razão ou tempo para se preocupar.
Ora, não se trata de procurar pelo em ovo, como diz
a sabedoria popular, mas de manter um acompanhamento que, aliado a hábitos
saudáveis, reduz (e muito!) o risco de doenças. Doenças que, em última
instância, vão comprometer o envelhecimento.
Além disso, há uma questão, digamos, mais cultural e
geracional que explica esse comportamento fugitivo do homem em relação à saúde
e à velhice. Muitos cidadãos que hoje estão na casa dos 60 anos ou mais
aprenderam que “os homens são mais fortes que as mulheres”, no sentido de serem
mais ativos e provedores. Essa concepção faz com que construam uma imagem de
que não correm riscos, são praticamente indestrutíveis.
Sabemos, no entanto, que nas últimas décadas temos
vivido mudanças notórias na sociedade que ajudam a romper esse paradigma das
diferenças entre homens e mulheres. É provável que os idosos do futuro superem
essa visão e tragam um novo olhar inclusive sobre o envelhecimento. Ao derrubar
preconceitos e estigmas (de gênero e de qualquer outra ordem), conseguimos utilizar
melhor o conhecimento e as ferramentas de prevenção. E, como consequência,
envelhecemos melhor.
Além da próstata
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é
que, quando pensamos no envelhecimento do ponto de vista do homem, ainda
notamos uma forte tendência de restringir o foco de preocupação a um único
órgão: a próstata. E a uma única circunstância adversa: o comprometimento da
virilidade. São temas que persistem como tabus.
Um levantamento recente, divulgado em função do Dia
do Homem, apontou que 49% dos homens não realizaram o exame de próstata, sendo
que, destes, 24% revelaram não achar o procedimento “másculo”. Isso em pleno
século 21!
E não adianta se preocupar apenas com a próstata ou
a virilidade. Devemos ter como objetivo uma prevenção mais holística, que
contemple a proteção contra uma porção de problemas que podem cursar junto ao
envelhecimento – doenças cardiovasculares, diabetes, sobrepeso, queda da
testosterona, depressão…
Por isso, há três pontos que se fazem necessários
para evoluirmos nesse sentido:
1) Incentivar o homem a procurar o médico e
estabelecer uma conversa franca com ele;
2) Criar movimentos que atuem educando a população
sobre o envelhecimento;
3) Vencer estigmas da “masculinidade” e quebrar o
paradigma de que o tempo só traz doenças. Digo e repito: envelhecer é um grande
ganho para qualquer sociedade. Pensar sobre a velhice é um ato de coragem. É só
assim que podemos nos planejar, estabelecer metas e mudar (se preciso) a rotina
para chegar bem lá na frente.