Há alguns dias, convidei minhas irmãs Cida e Lourdes para
visitar o sítio de tia Alaide que foi de meus avós maternos, Felipe e Francisca
Santiago, situado no povoado Batula em Itabaiana. Ao chegarmos lá, as lembranças de infância
afloraram em nossas mentes e corações, já que passamos boa parte das férias
escolares com nossos primos e tios no sítio batula.
Durante a minha
infância, passava as férias de julho e janeiro no sítio batula, ia à tarde ao
Domingo ou pela manhã na segunda-feira com minha prima Maria, que considerávamos
como uma irmã mais velha, e retornava na sexta-feira, sempre depois da
farinhada. Íamos ao sítio a pé, através da estrada do Lagamar, que possuía o
Barrado, uma passagem de água no inverno no sítio de Zé Massacrua. Chegando ao
sítio de Zequinha de Céu, passávamos a
estrada estreita do batula e logo chegávamos ao riachinho, outra passagem de
água no sítio de Sanches e na sequência tinha os sítios de João da Graça, Pio
de céu e Antônio de céu que ficava ao lado do sítio de meus tios. Hoje, a
estrada centenária do batula e a maioria dos sítios já não mais existem, dando
lugar aos condomínios através da expansão imobiliária. No futuro, espero que o
nome Povoado Batula seja mantido, mesmo após a compra de todos os sítios da
região e adjacências.
As férias de
janeiro eram as melhores, pois o verão contribuía para nos divertimos mais e
apreciarmos as frutas que eram abundantes neste período como a manga, caju,
goiaba, pitomba e araçá, que geralmente achava no pasto.
Um dia no
sítio era muito legal: de manhã cedo acordava para ver meu tio João, padivão
como o chamávamos, tirar leite das vacas,
tomava café e depois saia com meu primo Zé Carlos, o mais novo e da
minha idade, para caçar passarinhos, pescar, chupar caju ou manga quando era a
época, e tomar banho no riacho que passava no sítio de Seu Francisco, onde
aprendi a nadar, enquanto meus tios e os primos Tonho, Zé, Luiz, Tereza e Maria
saiam para trabalhar na malhada. Eles plantavam principalmente a mandioca para
fazer farinha, macaxeira, batata, inhame, feijão, cebola e milho. Ao meio dia,
voltávamos para o almoço, e de tarde ficávamos brincando de bola, furão, bola
de gude, pular corda ou íamos visitar os sítios vizinhos de Antônio de céu,
Joca e Nilo. À noite, depois do café, ficávamos no terreiro, onde meu tio
contava estórias de trancoso, a luz dos candeeiros ou da lua quando o céu
estava estrelado e que podíamos ver as luzes da cidade de Itabaiana. Às 7 ou 8
horas da noite, todos iam lavar os pés para dormir, eu dormia na rede, e
enquanto o sono não vinha, ficávamos brincando de perguntar um aos outros, o
que é o que é, até que um a um adormecia.
Todas as
semanas, na Quinta-feira, acordávamos cedo e íamos de carroça de burro buscar a
mandioca para fazer farinha. Ao chegar à casa de farinha, a mandioca era
raspada, passada no rodete, depois a
massa era prensada para secar e passada outra vez no rodete para virar farinha,
enquanto isso, a água que saia da prensa caia no cocho, assentava e
transformava-se em tapioca para fazer os bejus. A farinha era levada ao forno
de barro, mexida até ficar sequinha, peneirada, embalada em sacos de pano e
transportada na carroça de burro por meu tio João até o mercado, atualmente
Mercado Zezé de Bevenuto, onde meus primos Zé, Antônio e Luiz vendiam-na na
feira do sábado.
Na
sexta-feira, depois de feita a farinha, tia Alaíde peneirava a tapioca e fazia
bejus de amendoim, coco e também de massa. Para as crianças, ela fazia com
açúcar e menores e para o café era feito um enorme e dividido para todos. Às
vezes, meus tios aproveitavam o forno quente para assar pé de moleque, que era
preparado no início da semana quando era colocado um saco de macaxeira ou
mandioca dentro da fonte para fazer a puba, uma massa que misturada com coco, açúcar
e cravo, era colocada em palha de bananeira e assada. Na minha vida, nunca comi
um pé de moleque igual ao de tia Alaide.
Um dia
especial no sítio era a comemoração do São João. Logo cedo os homens iam a
procura no pasto de uma árvore comprida e fina para fazer o mastro e catar
lenha seca para a fogueira. Ao mesmo tempo, as mulheres se deslocavam para a
malhada para pegar espigas de milho, que misturadas depois com o coco eram
preparadas várias comidas tradicionais como a canjica, pamonha, bolo de milho,
mungunzá. Também eram feitos bolos de macaxeira
e puba e pé de moleque. À noite, acendia a fogueira e assavam as espigas
de milho e também batatas. Minha mãe e
meus irmãos também passavam este dia especial no sítio e retornavam à tarde.
Na época de
caju, titia mandava eu e Zé Carlos catar castanhas debaixo dos cajueiros, e à
tarde, depois de voltar da malhada, assava-as e quando esfriavam, nós as
quebravam para comermos no café da noite.
No sítio
existiam três fontes, e todos os dias recebíamos a tarefa de buscar água de
beber na fonte que ficava próximo a porteira do sítio, titia deixava a água
assentar nos baldes e somente no outro dia, após amarrar um pano branco na boca
do pote, a água era despejada para coar e poderia ser bebida.
Como todo
brasileiro, meus primos gostavam de futebol e resolveram fazer um campinho de pelada no pasto, numa
área próxima a fonte. Ao final da tarde, quando acabava o serviço na malhada,
nós e os vizinhos jogávamos futebol até o entardecer.
Em 1973,
quando eu tinha 11 anos, eu e minha irmã Dete compramos de meia uma bicicleta
Monareta e foi através dela que passei a ir para o sítio a qualquer dia da
semana. Antes desta data, aprendi a andar de bicicleta na de Zé Carlos, pois
ele estudava no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra na Praça João Pessoa e a
deixava na garagem de minha casa, e escondido, eu a pegava para andar na Rua 7
de Setembro. Aprendi depois de muitas quedas e arranhões.
Já faz um bom
tempo que titia mora na cidade, mas nunca deixou de ir ao sítio, principalmente
porque cria algumas cabeças de gado. Já
fazia alguns anos que eu tinha visitado o batula. Como é bom lembrar o passado
e matar as saudades das coisas e locais que nos fizeram tanto bem. Se fosse
possível gostaria de voltar o tempo e reviver os bons momentos de infância que
passei no sítio batula ao lado de meus familiares.
Por Professor José Costa