Dormir e envelhecer usam os mesmos canais cerebrais
Pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino
Unido) descobriram um processo cerebral comum ao sono e ao envelhecimento que
abre caminho para novos tratamentos para a insônia.
Em um artigo publicado na revista Nature, Anissa
Kempf e seus colegas relatam como o estresse oxidativo produz o sono. E o
estresse oxidativo também parece ser uma razão pela qual nós envelhecemos e uma
causa de doenças degenerativas.
Em primeiro lugar, a descoberta nos aproxima da
compreensão da função ainda misteriosa do sono e oferece uma nova esperança
para o tratamento dos distúrbios do sono. Em segundo lugar, ela também pode
explicar por que a falta crônica de sono encurta a vida.
"Não é por acaso que os tanques de oxigênio
trazem etiquetas de risco de explosão: a combustão descontrolada é perigosa. Os
animais, incluindo os humanos, enfrentam um risco semelhante quando usam o
oxigênio que respiram para converter alimentos em energia: uma combustão mal
contida leva ao 'estresse oxidativo' na célula. Acredita-se que esta seja uma
causa do envelhecimento e um culpado pelas doenças degenerativas que afetam
nossos últimos anos. Nossa nova pesquisa mostra que o estresse oxidativo também
ativa os neurônios que controlam se vamos dormir," disse o professor Gero
Miesenbock, orientador da equipe.
Neurônios que controlam o sono
A equipe estudou a regulação do sono em
moscas-das-frutas - o mesmo animal que forneceu a primeira percepção do relógio
biológico há quase 50 anos. Cada mosca tem um conjunto especial de neurônios de
controle do sono, células cerebrais que também são encontradas em outros
animais e que se acredita existir nas pessoas. Em pesquisas anteriores, a mesma
equipe descobriu que esses neurônios do controle do sono agem como uma chave
liga-desliga: se os neurônios estão eletricamente ativos, a mosca está
adormecida; quando eles estão em silêncio, a mosca está acordada.
Sono e envelhecimento estão interligados no cérebro
"Decidimos procurar os sinais que ligam os
neurônios do controle do sono. Sabíamos do nosso trabalho anterior que a
principal diferença entre dormir e acordar é quanta corrente elétrica flui
através de dois canais iônicos, chamados Shaker e Sandman. Durante o sono, a
maior parte da corrente passa pelo Shaker," acrescentou o Dr. Seoho Song.
Os canais iônicos geram e controlam os impulsos
elétricos através dos quais as células cerebrais se comunicam.
"Isso transformou a grande e intratável
pergunta 'Por que dormimos?' em um problema concreto e solucionável: O que faz
com que a corrente elétrica flua através do Shaker?" acrescentou Song.
Sono, envelhecimento e estresse oxidativo
A equipe encontrou a resposta em um componente do
próprio canal Shaker.
"Suspenso debaixo da parte eletricamente
condutora do Shaker está outra parte, como a gôndola debaixo de um balão de ar
quente. Um passageiro na gôndola, a pequena molécula NADPH, vai e volta entre
dois estados químicos - isso regula a corrente Shaker. O estado da NADPH, por
sua vez, reflete o grau de estresse oxidativo que a célula experimentou. A
falta de sono causa estresse oxidativo, e isso controla a conversão
química," explicou a pesquisadora Anissa Kempf.
Em uma demonstração impressionante desse mecanismo,
um flash de luz inverteu o estado químico da NADPH no cérebro das moscas, o que
as fez adormecerem praticamente na hora.
Como não dá para ficar abrindo o crânio das pessoas
para iluminar neurônios seletivamente, um fármaco oral ou injetável que possa
alterar a química do NADPH ligado ao Shaker poderia vir a ser um novo tipo de
pílula para dormir, dizem os pesquisadores.
"Distúrbios do sono são muito comuns e as
pílulas para dormir estão entre as drogas mais comumente prescritas. Mas os
medicamentos existentes apresentam riscos de confusão, esquecimento e
dependência. Alvejar o mecanismo que descobrimos poderia evitar alguns desses
efeitos colaterais," disse o professor Miesenbock.
Fonte: https://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=sono-envelhecimento-estao-interligados-cerebro&id=13392&nl=nlds
- Redação do Diário da Saúde - Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay