Estima-se que só 8% delas sejam cumpridas. Como
mudar isso? Saiba o que prescrevem escritores, médicos, psicólogos e pensadores
Desde garoto, o escritor Luiz Fernando Veríssimo já
gostava de fazer listas com resoluções de fim de ano. Na crônica Resoluções,
publicada na edição de 2 de janeiro de 2011 do jornal O Estado de S. Paulo e
incluída na antologia Ironias do Tempo (clique aqui para comprar), o criador de
personagens famosos como o detetive Ed Mort, o Analista de Bagé e a Velhinha de
Taubaté cita algumas delas: “Usar fio dental depois de cada refeição”, “Comer
mais verdura” e “Fazer exercício”. Aqui, no item seguinte da mesma lista,
acrescenta, irônico, mais uma: “Encontrar maneiras originais de justificar a
falta de exercício”.
De uns tempos pra cá, esse gaúcho de 83 anos deixou
de fazer resoluções de fim de ano. Em vez disso, aproveita as festas de Natal e
Réveillon para ouvir os boleros de Luís Miguel, dançar com os filhos e comer
rabanadas, uma de suas iguarias natalinas favoritas. “Resoluções são promessas
que fazemos à nossa consciência, em que nem a nossa consciência acredita mais”,
faz graça.
Em 2011, o site americano 43 Things fez uma enquete
para saber quais são as propostas de fim de ano mais populares que existem.
Cerca de 8 mil internautas participaram da pesquisa. As três primeiras
colocadas foram “perder peso”, “aprender algo novo” e “guardar dinheiro”.
Outras bem votadas foram “arranjar um emprego”, “ler mais” e “parar de fumar”.
“Resoluções muito genéricas, como perder peso, por
exemplo, tendem a não dar certo. O ideal é fazer resoluções mais específicas.
Que tal se matricular numa academia de ginástica ou começar a correr na praia?
Quanto mais específica, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso”, afirma o
psicólogo Ronald Fischer, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
Fazer resolução de fim de ano é fácil. Todo mundo
faz. Difícil é cumpri-la. Quase ninguém consegue. Um estudo da Universidade de
Scranton, nos Estados Unidos, apurou que apenas 8% dos americanos cumprem as
decisões que tomam no fim do ano. Entre os britânicos, o percentual é um pouco
melhor: 12%.
A exemplo de Veríssimo, o psiquiatra Luiz Alberto Py
também é adepto das listas. “No ano seguinte, lá pelo finalzinho de dezembro,
gosto de pegar a lista do ano anterior e checar quantas resoluções consegui
cumprir. O que eu fiz e o que eu deixei de fazer? Faltou disciplina,
organização? O que posso fazer para melhorar? À medida que cumpro umas,
acrescento outras”, diz.
Tudo novo de novo
Mas, afinal, para que servem as determinações de fim
de ano? Com a palavra, a escritora Martha Medeiros: “Resoluções são fundamentais
o ano inteiro. Estamos sempre fazendo planos e tentando melhorar. Estão aí as
segundas-feiras que não me deixam mentir. A segunda-feira é o dia mundial do
começo da dieta, do começo da academia, do começo da vida sem cigarro. Mas o 1º
de janeiro é o pai de todos os inícios. Por que não abraçar essa fantasia?”,
indaga a autora de Divã e Felicidade Crônica.
Para Frei Betto, elas servem para “prometer a si
mesmo que, no próximo ano, serei melhor do que no atual”. O escritor dá alguns
exemplos: comer menos, fazer exercícios, atuar em uma causa social, ficar menos
tempo nas redes sociais… “O problema é que muitos não passam das intenções às
ações”, lamenta o autor de Fome de Deus e Minha Avó e Seus Mistérios.
O que fazer para, como diria o frade dominicano, “passar
das intenções às ações”? Para começo de conversa, o historiador Leandro Karnal,
professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sugere traçar apenas
três metas. “Melhor do que trinta”, frisa. Só que essas metas têm de ser
exequíveis.
O filósofo Luiz Felipe Pondé, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coautor de Felicidades – Modos de
Usar, concorda e acrescenta: “Faça resoluções mais simples e menos audaciosas.
Resoluções que levem em conta seu cotidiano real e não uma pessoa que não é
você”.
No que diz respeito ao número de resoluções, o
neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, é ainda mais econômico: “Escolha apenas uma, pelo
critério de relevância, e foque nela”, recomenda o autor de O Oráculo da Noite:
A História e a Ciência do Sonho.
Manual de instruções
Definidas as resoluções – ou resolução, no caso de
Sidarta Ribeiro –, que tal partir para a ação? A dica de Ronald Fischer é
estabelecer metas alcançáveis e, logo depois, estipular prazos realistas para
persegui-las. “Metas inalcançáveis e prazos irrealistas podem gerar frustração.
Fuja delas”, sugere.
Para Luiz Alberto Py, nenhuma meta é alcançável se
não houver disciplina. “Você gosta de si mesmo? Então, demonstre que sim e
procure melhorar”, provoca. Na opinião de Karnal, tão importante quanto a
disciplina é a insistência. “Premie-se se atingir o objetivo proposto. E
insista. Combine com um amigo ou amiga sobre atingir metas em comum. E insista.
Reflita sobre o horizonte a ser alcançado. E insista. Não basta ter uma boa
ideia, é preciso ter insistência”, prescreve o autor de O Dilema do
Porco-Espinho.
O mais importante, ressalta Martha Medeiros, é não
se estressar. A lista de resoluções, explica, é só um empurrão. Não pode virar
angústia. O que importa, continua, é estar psicologicamente aberto a evoluir.
“Pior é não ter plano nenhum, objetivo nenhum, motivação nenhuma. Isso, sim, é
desolador. Faça sua lista. Se você cumprir dois entre dez itens, já é um
movimento a ser comemorado”, incentiva.
Os conselhos dos mestres
“Faça uma lista de suas resoluções. Quando chegar
dezembro, dê uma olhada nela e confira quantas resoluções você conseguiu
cumprir. Daí, pergunte a si mesmo: o que eu me propus a fazer e não fiz? Por
que eu não consegui fazer? Faltou disciplina, organização? O que eu posso fazer
para melhorar?”
Luiz Alberto Py (psiquiatra)
“Em vez de fazer resoluções genéricas, como perder
peso ou aprender mandarim, dê preferência a resoluções mais específicas, como
matricular-se numa academia de ginástica ou em um curso de línguas. Além disso,
estabeleça metas alcançáveis e estipule prazos realistas”.
Ronald Fischer (psicólogo)
“Escolha apenas uma resolução, pelo critério de
relevância, e foque nela”.
Sidarta Ribeiro (neurocientista)
“Faça resoluções mais simples e menos audaciosas.
Resoluções que levem em conta seu cotidiano real e não uma pessoa que não é
você”.
Luiz Felipe Pondé (filósofo)
“Estabeleça três metas exequíveis (melhor do que
trinta) e, todo dia 15, procure revisar suas resoluções. Reforce o motivo de
sua meta. Premie-se se atingir o objetivo proposto. Combine com um amigo ou
amiga sobre atingir metas em comum. Reflita sobre o horizonte desejado. E
insista”.
Leandro Karnal (historiador)
“Não se estresse com resoluções de fim de ano. A
lista é só um empurrão. Não pode virar angústia. O que importa é estar
psicologicamente aberto a evoluir. Pior é não ter plano nenhum, objetivo
nenhum, motivação nenhuma. Isso, sim, é desolador! Faça a sua lista. Se cumprir
dois entre dez itens, já é um movimento a ser comemorado”.
Martha Medeiros (escritora)