Hoje, 09 de junho de 2021, se meu pai,
Josias Costa, estivesse vivo, estaria completando 100 anos de vida. Josias
Costa, filho de Maria Zulmira e João Costa, nasceu e morou na Rua General José
Calazans, ao lado do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra, em Itabaiana, sendo o
mais novo entre 7 irmãos: Lilia, Rosa, Zezé, Costinha, Olegária e Maria das
Graças (tia Moça).
Quando criança, vendia pelas ruas doces feitos
por sua mãe. Na adolescência, aprendeu a profissão de pintor de casa, tornando-se,
na época, um dos melhores, se não o melhor de Itabaiana. Além de pintar casas
residenciais, pintou também o Colégio Dom Bosco e o Cine Santo Antônio por
diversas vezes.
Aos Domingos, ia à Igreja de Santo Antônio
para assistir à missa e foi numa dessas que conheceu Maria da Graça
Santiago.
Namorou, noivou e casou em 20
de julho de 1956, aos 35 anos, na Paróquia Santo Antônio e Almas de Itabaiana.
O casal foi morar na Rua 7 de Setembro
onde teve seu primeiro filho, José Antônio Costa que morreu prematuramente.
Posteriormente, Josias Costa comprou uma casa na Praça João Pessoa onde
nasceram os outros 6 filhos: Antônio Costa, Maria Aparecida Costa, José Costa,
Maria Bernadete Costa, Maria de Lourdes Costa e Maria Luzia Costa que morreu
com menos de 1 ano de vida.
No início da profissão de pintor, pela
carência de materiais para pintura na nossa cidade, pai viajava a Aracaju para
comprá-los e preparava as tintas em casa. Naquele momento, teve a ideia de
comprar grandes quantidades e vender na garagem no fundo da casa que ficava a
Rua 7 de setembro. Também passou a vender cal, tabatinga, roxo terra e as
brochas que fazia com as palhas de milho seco, tornando-se um comerciante.
Enquanto ele trabalhava como pintor, mãe vendia as tintas.
Pai era um empreendedor. Na década de 60,
a falta de água em Itabaiana era enorme, por isso ele fez uma carroça de mão e em
latas de zinco, antes de ir trabalhar, nós carregávamos água do chafariz, que
ficava na Praça João Pessoa, quase em frente a nossa casa, e também comprava água
de Teixeirinha que trazia no burro. Ele, não contente com a situação, construiu
uma cisterna de 20 palmos de altura por 3 metros de largura em nossa casa para
armazenar água da chuva, sendo coletada por meio das bicas de zinco.
Em meados da década de 60, ele teve a
ideia de construir um conjunto de 10 barcas para as festas de Natal. Ele fez
diversas viagens a Aracaju para a compra das ferragens e contratou o Senhor
Agenor, que tinha uma oficina vizinha à Indústria Nova Aurora, na Avenida
Engenheiro Carlos Reis. Aos poucos, as barcas foram construídas até que em 1968,
elas ficaram prontas. Pai pediu autorização à Prefeitura e armou as barcas em
frente à oficina para ter a certeza de que estavam prontas para serem armadas
na festa de Natal daquele ano, na Praça João Pessoa, aproximadamente em frente à
casa do Prefeito Vicente Machado. Em 1969, armou as barcas próximas ao chafariz
da Praça, e a partir de 1970, na Praça Etelvino Mendonça, onde ainda hoje
acontecem as festas de Natal. Ele pintou as barcas das cores do Itabaiana:
azul, branco e vermelho, para que as pessoas soubessem que eram de Itabaiana,
pois pai armava as barcas em outros municípios após as festas de nossa cidade,
a exemplo de Candeias, povoado de Moita Bonita e na sede, Ribeirópolis, Feira
Nova, Macambira.
Ele fez algumas mudanças
nas barcas em relação às já existentes, como: extremidades mais arredondadas
para evitar acidentes, freio manual, bancos acolchoados, orifícios no piso para
facilitar a limpeza com água e colocou barras de ferro cruzando as bases para
reforçar a segurança. Com o dinheiro extra que pai arrecadava com as festas de
Natal, ele fazia uma poupança, emprestando para alguns empresários de
Itabaiana. No início de 1972, já doente, ele resolveu vender as barcas a Zeca
Bagaço contra a vontade de mãe que queria continuar com a atividade, já que nas
últimas festas foi ela quem ficou à frente dos negócios da família.
Em 22 de Outubro de 1972, após quatro
internações no Hospital Santa Isabel em Aracaju, ele morreu de pancreatite
aguda e nos deixou para morar com Deus na eternidade. Em decorrência da morte dele,
mãe parou de negociar com as tintas, mas continuou seu trabalho de costureira e
com a pensão deixada por ele, criou e educou os 5 filhos.
Apesar de pai ter morrido cedo, com apenas
51 anos e eu na época tinha 11 anos, tenho boas recordações com ele: pai era
muito trabalhador, mas quando chegava os Domingos, a sua atividade de lazer era
jogar sinuca no bar de Dedé de Casimira, na esquina da Praça João Pessoa com a
Travessa Arthur Góis, e quando dava meio dia, mãe me mandava chamá-lo para
almoçar. Se ele estivesse ganhando, mandava eu sentar e esperar, mas se
estivesse perdendo, mandava eu ir embora. Também aos Domingos, ele levava eu e
meu irmão Tonho à casa do seu amigo Santinho Moura e enquanto eles ficavam
proseando durante à tarde, nós íamos assistir ao jogo do Itabaiana no Estádio
Etelvino Mendonça, atualmente, o Ginásio Poliesportivo Chico do Cantagalo, que
ficava a uns 50 metros da casa. Às vezes, no Sábado à noite, ele me levava à
missa e ao sair passava na casa do amigo e líder político Chico de Miguel para
prosear. Quando pai ia comprar as ferragens para a construção das barcas, tintas
ou artigos de costura para minha mãe, já que ela era costureira, as vezes ele
me levava para Aracaju na marinete da Bomfim, e como saíamos muito cedo, íamos
ao Café Aragipe no centro da capital para tomar o café com pão e manteiga ou
com queijo. Também recordo que nós estudávamos pela manhã e à tarde ajudava nosso
pai no trabalho, lixando parede e pintando o rodapé, mas quando terminávamos as
tarefas, ele permitia que nós fôssemos assisti ao treino do Itabaiana. Antes de
sair para trabalhar, pai levava os filhos para tomar sol na Praça e assim que
chegava em casa ele dava a cada um, uma colher de Emulsão Scott com gosto de
peixe, que era para nos proteger de gripes e resfriados, e para não sentirmos o
sabor, mandava-nos tapar o nariz. Meu pai não era fumante, mas gostava de
brincar com os familiares, fumando um charuto e soltando a fumaça em nós. Quando
pai chegava para o almoço, uma das primeiras coisas que ele fazia era ligar o
seu rádio Philips para assistir ao Informativo Cinzano de Silva Lima, pois
gostava de ficar informado sobre as notícias do dia a dia. Em 1972, uma música
da cantora Diana fazia muito sucesso, “Ainda queima a esperança”, e sempre que
a escuto, lembro-me de pai, saudades eternas.
Josias Costa, sempre foi um homem de
família, um pai presente, trabalhador, um exemplo de cidadão. Acredito que se
ele não tivesse morrido tão cedo, talvez eu e meus irmãos tivéssemos seguido
seu caminho de pintor, comerciante ou empresário itabaianense.
Pai, com orgulho e admiração, faço essa
singela homenagem contando um pouco de sua vida.
Professor José Costa